"2016 será o quinto ano consecutivo em que o comércio mundial crescerá abaixo dos 3% e à mesma taxa que o PIB, ou seja, numa proporção de um para um, em vez dos dois para um que vinha registando antes da crise", afirmou o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, numa conferência de imprensa para análise da evolução do setor em 2015 e das perspetivas para 2016-2017.
Já para 2017 as previsões da OMC apontam que o crescimento do comércio mundial acelere para uma taxa de 3,6%, um nível ainda assim inferior à média de 5% registada desde 1990.
"Os vários indicadores de atividade económica e comercial nos primeiros meses de 2016 são desiguais, enquanto uns apontam para um fortalecimento do crescimento do comércio e da produção, outros sugerem um abrandamento", explicaram, por sua vez, os economistas da OMC, para justificarem que "o crescimento do comércio poderá ser volátil" este ano.
Relativamente à estabilização da evolução do comércio mundial em 2015 - período em que a América do Sul registou a pior evolução a nível global das importações, sobretudo devido à redução da procura no Brasil -- o diretor-geral da OMC disse ter acontecido num contexto económico de "volatilidade e incerteza", marcado por uma quebra de 60% no preço do petróleo e por uma valorização de 20% do dólar.
Para Roberto Azevedo, o crescimento a um ritmo semelhante do comércio mundial e do PIB global que se regista desde a crise financeira que estalou em 2008 pode considerar-se hoje "atípico", mas o mesmo podia dizer-se relativamente à progressão "de dois para um" registada anteriormente.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a relação entre o crescimento do comércio internacional e do PIB global era tradicionalmente de 1,5 para um, afirmou, considerando que "regressar a esse nível será o mais realista no médio prazo".
Entre os riscos apontados pelo diretor-geral da OMC relativamente à evolução futura da economia mundial estão uma maior contração nos países emergentes, o agravamento da volatilidade financeira e o acentuar do sentimento negativo recentemente notado por parte dos consumidores.
Por outro lado, os economistas da organização referem um "potencial de alta se o apoio monetário acordado pelo Banco Central Europeu vier a gerar um crescimento mais rápido na zona euro".
Na conferência de imprensa, Azevedo apelou a que "se preste maior atenção ao panorama geral do comércio" e não a determinados indicadores que podem gerar confusão, como acontece quando a evolução do comércio é estimada em função do valor em divisas e não do volume, defendendo que "há que prestar mais atenção ao volume e não ao valor".
Segundo os dados da OMC, a Ásia foi a região que mais contribuiu para a recuperação do comércio internacional desde a crise financeira de 2008-2009, mas a sua influência foi perdendo força à medida que o respetivo ritmo de crescimento foi diminuindo.
Pelo contrário, a Europa voltou a contribuir de forma "positiva e notável" para o crescimento do comércio, com 1,5 pontos percentuais num crescimento mundial de 2,6%.
"A Europa tornou-se um motor de crescimento e está a contrabalançar o abrandamento que se observa na Ásia", indicou Roberto Azevedo.
Em 2016, a OMC antecipa que as exportações dos países desenvolvidos e dos países em vias de desenvolvimento deverão manter o mesmo ritmo de crescimento de 2015, com uma taxa de 2,9% para os primeiros e de 2,8% para os segundos. Já as importações das economias desenvolvidas (+3,8%) deverão evoluir mais rapidamente do que as das economias em vias de desenvolvimento (+1,8%).
A Ásia deverá registar o crescimento mais forte das exportações, de 3,4%, seguida da América do Norte e da Europa, com 3,1%, enquanto a América do Sul e Central registará uma subida mais lenta, de 1,9%.
Quanto às importações, a evolução na América do Norte deverá atingir os 4,1%, enquanto na Ásia e na Europa o crescimento deverá ser de 3,2% e na América do Sul e Central deverão voltar a contrair-se, com o preço do petróleo e de outros produtos de base a permanecerem baixos.