"Eu acho que é uma situação claramente diferente", disse João Salgueiro aos jornalistas, à margem da Conferência Expresso 40 Anos, quando questionado sobre se é possível encontrar semelhanças entre o caso do Banif e do BPN.
"Não estou [preocupado]. O Banif está em boas mãos, tanto da parte da regulação quanto da gestão. Foi pena chegar a este ponto, a morte do fundador [Horácio Roque] não ajudou, mas não estou preocupado", sublinhou o antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).
O Ministério das Finanças anunciou, a 31 de Dezembro, a injecção de 1.100 milhões de euros no Banif com vista a recapitalizar o banco, sendo 700 milhões de euros através da subscrição de acções especiais e 400 milhões de euros em instrumentos de capital híbridos (as chamadas 'CoCo' bonds).
A operação será concretizada depois da assembleia-geral do banco, marcada para 16 de Janeiro, ficando então o Estado com 99,2% do total de acções e 98,7% do total de direitos de voto da instituição.
De acordo com o plano de recapitalização do banco, acordado com as autoridades públicas, a administração compromete-se a levar a cabo, até final de Junho, um aumento de capital direccionado a accionistas privados em que o objectivo é atingir pelo menos 450 milhões de euros. Se essa meta for cumprida, o Estado passa a ficar com 60,6% da instituição e 49,4% em direitos de voto, devolvendo então o controlo do Banif a mãos privadas.
O Banif é a quarta instituição financeira a ser recapitalizada com recurso a fundos públicos, depois do BCP, BPI -- que, tal como acontecerá com o Banif, recorreram à linha disponibilizada pela troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) para o sector financeiro - e da Caixa Geral de Depósitos (neste caso, através do acionista Estado).
João Salgueiro disse ainda que o BPN tornou-se um problema porque se "interveio tarde de mais" e também demorou tempo de mais "a regularizar a situação". O BPN foi nacionalizado em Novembro de 2008. Em Março de 2012 foi vendido ao luso-angolano Banco BIC por 40 milhões de euros.
"A situação do Banif está conhecida, houve uma decisão e foi dado um prazo. Espero é que em Portugal se comece a cumprir os prazos que se dão", concluiu João Salgueiro.