"Mais vale um mês ainda pior do que o resto da vida assim" é o lema desta paralisação, convocada pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) e pelo Sindicato dos Transportes (ST), e que está marcada também para os quatro períodos de fim de semana de agosto.
"Estamos há cerca de um ano com esta administração, e com os administradores de insolvência antes disso, a tentar que salários nesta empresa, vencimentos base sejam iguais ou superiores ao salário mínimo nacional", explicou aos jornalistas Carlos Araújo, do SIMA, acusando a empresa de "ilegalidade" e "imoralidade".
Segundo o delegado sindical, há vários casos de trabalhadores com um vencimento base inferior a 870 euros (salário mínimo nacional atual), alguns já há mais de cinco anos na empresa, tendo sido este um dos motivos da greve que esteve marcada no período da Páscoa, mas foi desconvocada após a promessa de se avançar para negociações na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).
O sindicato disse que, desde então, "a empresa não avançou com um cêntimo de ganho para os trabalhadores" e chegaram a estar marcadas três reuniões na DGERT, mas "todas foram canceladas pela empresa por falta de agenda".
"Isto não é processo [de negociação] nenhum, isto é empurrar com a barriga e chutar com todas as ações o que tem de ser feito [para a frente]", acusou Carlos Araújo.
O dirigente explicou que um trabalhador na categoria de operador de assistência em escala, a grande maioria na Menzies, entra na empresa a ganhar 600 euros de salário base e demora cerca de 62 meses a atingir o valor do salário mínimo atual.
"A cenoura estará sempre 30 metros à frente", vincou Carlos Araújo.
"Começamos sempre no início por 600 euros de base, 'full time' e vai aumentando, mas há certos casos em que demora a subir de escalão, as pessoas reclamam, não há respostas, depois manda-se emails, vem-se aqui pessoalmente, mas não resolvem. Queremos mudar isso, estamos um bocado saturados de receber sempre o mesmo", disse aos jornalistas um trabalhador que preferiu não se identificar, que está há cinco anos na empresa e tem um vencimento base de 845 euros, ou seja, 25 euros abaixo do salário mínimo nacional.
Para Paulo Henriques, há 25 anos na empresa e atualmente com um salário base de 1.400 euros, o ordenado não é a única razão de queixa: "as condições de trabalho são péssimas, por exemplo o bar fechou há quatro meses e até hoje as pessoas têm de ir comer às máquinas, aquelas 'sandes' embaladas, isto é um trabalho muito esforçado, para ter ideia as pessoas apanham [temperaturas de] 50 graus na placa em Lisboa, além da chuva, e os trabalhadores têm de se alimentar".
Já Nelson Bernardo, delegado do SIMA, adiantou que o subsídio para andar exposto às condições meteorológicas é de 27,5 euros mensais, lamentando ainda a falta de estacionamento para os trabalhadores e a inexistência de cacifos para guardar uma muda de roupa limpa. "Esta é a parte triste da aviação, estamos habituados a ver o 'glamour' e o sonho dos aviões, mas quanto ao que se passa no chão é esta a realidade em Portugal", lamentou.
A meio da manhã o ambiente nas zonas da chegadas e das partidas no aeroporto de Lisboa era semelhante ao de um dia de operação normal, mas os quadros com as indicações dos voos assinalavam vários atrasos superiores a uma hora e poucos voos cancelados.
O SIMA espera que o impacto da greve seja mais significativo ao longo do dia. "Os atrasos que se verificam até agora estão a ser limitados pelo tempo de espera da tripulação, [...] mas um atraso de uma hora aqui, poderá refletir-se no cancelamento da partida no regresso", explicou Carlos Araújo.
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