O balanço faz parte de um relatório das Nações Unidas divulgado hoje, segundo o qual as energias renováveis sofreram "uma transformação notável" com uma descida espetacular de custos e o crescimento da capacidade de produção, estando o mundo preparado para mudar dos sistemas energéticos dominados por combustíveis fósseis para os dominados por energias renováveis "locais e de baixo custo".
Com o título 'Seizing the moment of opportunity', o documento foi divulgado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que considerou que a era dos combustíveis fósseis está a falhar e que está a começar uma nova era energética, "de energia barata, limpa e abundante", para alimentar um mundo de oportunidades económicas. "Basta seguir o dinheiro", disse.
Otimista, o relatório, uma síntese do ponto de situação, apresenta dados sobre a ascensão das renováveis mas alerta para "barreiras e obstáculos políticos e económicos significativos".
Um novo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), também hoje divulgado, destaca a evolução positiva das energias renováveis, que mantiveram no ano passado a liderança em termos de custos nos mercados globais de energia.
Em 2024 a energia fotovoltaica era, em média, 41% mais barata do que as alternativas de combustível fóssil de menor custo, enquanto os projetos eólicos em terra eram 53% mais baratos, indica o relatório da IRENA.
Na mesma linha, o relatório da ONU (que também teve a colaboração da IRENA, entre outras entidades) destaca igualmente que as energias solar e eólica são hoje as opções mais baratas e mais rápidas para produzir eletricidade.
Em termos de produção anual de eletricidade, as energias renováveis aumentaram no ano passado 81%, enquanto os combustíveis fósseis aumentaram 13%, e as vendas de veículos elétricos aumentaram 3.300% entre 2015 e 2024.
Além dos aumentos de investimento os empregos em energia limpa atingiram os 34,8 milhões em 2023 e nesse ano o setor foi responsável pelo crescimento de 10% do PIB global, e quase um terço da União Europeia.
"Vários estudos mostram que a adoção sistemática de energias renováveis e melhorias na eficiência energética, combinadas com políticas progressistas, podem continuar a gerar ganhos líquidos em empregos, PIB e outros benefícios sociais à medida que a transição avança", refere a ONU no documento.
Mas alerta que ainda assim a energia renovável não está a substituir os combustíveis fósseis nos sistemas energéticos ao ritmo e na escala necessários, sendo necessário novas políticas e leis, modernização de infraestruturas, e desconcentrar investimentos (África quase não tem investimentos em energias renováveis).
E chama-se a atenção para o facto de os subsídios governamentais aos combustíveis fósseis também se manterem elevados.
António Guterres considerou que os combustíveis fósseis estão "a ficar sem espaço", o que se reflete nas emissões de gases com efeito de estufa: o que se poupa (em emissões) com as energias renováveis é quase equivalente ao que toda a União Europeia produz num ano, disse.
Nenhum governo, indústria ou interesse pode impedir o futuro da energia limpa, disse o secretário-geral, alertando para as tentativas contrárias do "lobby dos combustíveis fósseis de algumas empresas de combustíveis fósseis", que não vão conseguir porque já se ultrapassou o "ponto de não retorno".
É que, disse, até o Texas, Estados Unidos, lidera nas energias renováveis.
Apesar de tudo António Guterres alertou que o limite de aumento de temperatura de 1,5 graus "está em perigo" e apelou a que se acelere a redução de emissões, convidando os países a apresentarem propostas ambiciosas de redução na Semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU em setembro.
E apelou ainda às grandes empresas tecnológicas para que abasteçam todos os seus centros de dados com 100% de energia renovável até 2030.
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