BAD: Tarifas dos EUA "podem desencadear grandes perturbações em África"

O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) alertou hoje para as consequências económicas das tarifas impostas pelos Estados Unidos a África e salientou que o continente tem uma economia com potencial de crescimento.

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© Steven Ferdman/Getty Images

Lusa
21/05/2025 14:57 ‧ há 7 horas por Lusa

Economia

Banco Africano de Desenvolvimento

Akinwumi Adesina disse numa entrevista à CNN que as tarifas impostas pelos EUA, que têm repercussões mundiais, "podem desencadear grandes perturbações económicas em África, afetando muitos países e acelerando uma mudança estratégica nas parcerias globais".

 

O presidente do BAD referiu que 47 dos 54 países africanos serão diretamente afetados por esta nova política comercial dos EUA, o que, potencialmente, vai diminuir as receitas das exportações destas nações e das suas reservas de divisas (ativos em moeda estrangeira que um país detém, controlados pela sua autoridade monetária).

"Quando estas moedas enfraquecerem, acontecerão duas coisas: em primeiro lugar verificar-se-á que a maioria destes países depende das importações. Por isso, vão enfrentar uma inflação elevada. Em segundo lugar, o custo do serviço de uma grande parte da sua dívida, que é em moeda estrangeira, mas denominada em moeda local, irá aumentar", explicou Adesina. 

Por outro lado, o impacto destas tarifas é exacerbado "por cortes significativos nos programas da [agência] USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional]", que já começaram a afetar o acesso a material médico essencial e a serviços humanitários em muitos países, suscitando sérias preocupações quanto ao futuro das relações dos EUA com os países africanos, pode ler-se no comunicado do BAD.

Apesar destes desafios, Adesina sublinhou que África "não pode permitir um confronto comercial" entre si e os EUA, observando que o continente representa apenas 1,2% (cerca de 30 mil milhões de euros) do comércio global dos EUA.

Na sua opinião, deve ser desenvolvida uma estratégia pragmática de três pontos para o continente: encetar negociações comerciais flexíveis e construtivas com os EUA; diversificar os mercados de exportação para reduzir a dependência de um único parceiro; acelerar a implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) para desbloquear o potencial de um mercado de 3,4 mil milhões de dólares (cerca de três mil milhões de euros).

Outras recomendações do presidente do BAD foram a expansão do mercado interno africano e o aumento das poupanças nacionais, "a fim de expandir o consumo e aumentar a sua quota no PIB [Produto Interno Bruto], tirando partido do enorme crescimento demográfico do continente".

"Mais importante ainda, o continente deve tirar partido do crescente interesse externo nos seus recursos naturais, incluindo o cobalto e o lítio, para negociar melhores acordos comerciais e de investimento", alertou.

Em resposta à especulação de que África poderia virar-se mais para a China em resposta ao aumento das tarifas dos EUA, Adesina declarou que "os Estados Unidos são um aliado fundamental de África, tal como a China" e que "África está a construir pontes e não a isolar-se".

Adesina, que termina o seu segundo mandato à frente do banco em setembro, rejeitou firmemente o paradigma tradicional da dependência da ajuda externa.

"A era da ajuda, tal como a conhecemos, acabou", afirmou, apelando, em vez disso, a investimentos na mobilização de recursos internos, nas infraestruturas e na industrialização [de produtos] de valor acrescentado.

Para si, a ajuda deve ser transformada em financiamento em condições favoráveis para permitir que as instituições financeiras multilaterais, como o Banco Africano de Desenvolvimento, façam mais pelo continente, mobilizando mais capital privado para desenvolver e reduzir o risco dos projetos.

Embora África represente cerca de 20% da população mundial e menos de 3% do PIB mundial, Adesina salientou que existe um cenário de crescimento: dez das 20 economias mais dinâmicas do mundo estão em África.

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