Para o presidente da Associação das Indústrias de Panificação e Pastelarias de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, a medida "é de louvar" por refletir "nacionalismo e patriotismo".
Em declarações à Lusa, Gilberto Simão, que elogiou o Presidente da República pela iniciativa e o ministro da Indústria e do Comércio pela "coragem", considerou que a medida já deveria ter sido implementada há mais tempo e que concorre para a diversificação da economia e o aumento da produção e da produtividade interna.
O empresário angolano ligado ao setor primário, industrial e comercial, acrescentou que a iniciativa das autoridades deve travar igualmente a "concorrência desleal" que disse existir na importação do milho.
"Tenho contactos com grandes produtores de milho que, por vezes, ficam com os silos cheios de milho e não conseguem vender por causa da concorrência desleal do milho importado. Portanto, é uma boa medida", insistiu.
O Ministério da Indústria e Comércio de Angola determinou, no mês passado, a suspensão do licenciamento da importação de farinha de trigo, farinha de milho, óleos refinados de girassol, palma e soja, batas escolares e profissionais, uniformes, incluindo os de uso militar e policial, produtos de confeitaria, placas de pladur e material consumível hospitalar.
Segundo a diretiva datada de 30 de abril, a medida emana de um decreto presidencial que aprovou o Regime Jurídico de Incentivo à Produção Nacional "como instrumento de política económica que visa promover e aumentar significativamente a oferta interna de bens de amplo consumo, com consequente redução gradual das importações e diversificação das exportações".
De acordo com o presidente da AIPPA, a globalização é um "fenómeno económico, que não deixa Angola produzir e diversificar a sua economia", sobretudo porque o petróleo, maior fonte de receitas do país, é que "paga na hora", saudando a medida como um passo para a diversificação da economia.
Gilberto Simão defendeu também medidas para a regulação da importação de trigo, dando nota que Angola gasta anualmente entre 300 e 400 milhões de dólares (aproximadamente os mesmos valores em euros) com a importação deste cereal, sugerindo que o país não tem produção de trigo suficiente para satisfazer 10% da necessidade interna "porque os lobbies da importação não deixam".
A ordem de serviço do Ministério da Indústria e Comércio também foi assinalada com satisfação pelo presidente da Associação dos Industriais de Angola (AIA), José Severino, para quem o Governo angolano está apostado em defender a produção nacional.
O empresário considerou que a aposta na defesa da produção nacional passa por recorrer a todos os instrumentos que dão essa possibilidade (como o referido despacho), observando, no entanto, que se trata de uma suspensão e não de uma proibição.
"Repare que se fala em suspensão, ainda não é proibição. A forma como apareceu o despacho faz entender que é uma proibição radical, não é. Nós já dialogámos com o senhor ministro [da Indústria e Comércio], porque a AIA é contra proibições (...)", disse à Lusa.
José Severino defendeu, por outro lado, que a suspensão não venha a impedir que processos já em curso tenham o respetivo despacho, referindo que existem importações "úteis para conter presumíveis especulações de preços e a baixa qualidade de produtos produzidos localmente".
"Quando nós tentamos defender a nossa produção, não podemos criar uma posição de que estamos a sancionar terceiros, isso não pode ser percebido pelos exportadores, países, governos, que nós estamos a sancioná-los por qualquer razão. Não, Angola não sanciona", concluiu o líder da AIA.
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