Em declarações à agência Lusa, o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) destacou o crescimento homólogo de 13,6% das exportações de componentes para calçado em 2023, para 73 milhões de euros, num ano em que as exportações totais da fileira recuaram 5,1%, para 2.222 milhões de euros.
Salientando o papel estratégico do setor dos componentes na afirmação da indústria portuguesa de calçado, Paulo Gonçalves notou que este se tem também destacado como o que maior investimento tem feito em toda a fileira.
"Tem havido uma estratégia do próprio setor de densificar o nosso 'cluster'. Entendemos que quanto mais colaborarmos numa lógica de 'cluster', mais oportunidades de negócio podemos conquistar no plano internacional", referiu.
"Em termos práticos -- explicou - um cliente internacional, quando vem a Portugal, percebe que aqui encontra os componentes, as peles, os artigos de pele, os acessórios e o calçado. Ou seja, aqui tem todos os fornecedores necessários para desenvolver os seus produtos e as suas coleções".
Convicto da "grande oportunidade" que esta lógica de 'cluster' encerra, a APICCAPS tem vindo "a incentivar as empresas a investir, para se posicionarem na linha da frente", assumindo-se o setor dos componentes para calçado -- solas, palmilhas e afins - como "o que mais tem investido" em projetos relacionados com tecnologia de ponta, desenvolvimento de novos produtos e qualificação dos trabalhadores.
Entre estes projetos, destaque para o 'BioShoes4All', que, num investimento global de 80 milhões de euros, pretende promover a bioeconomia sustentável no setor do calçado, desenvolvendo produtos inovadores em materiais de base biológica e materiais reciclados.
Envolvendo um total de 70 parceiros, este projeto pressupõe, segundo Paulo Gonçalves, o desenvolvimento de "uma nova geração de produtos, geração essa que, muitas das vezes, parte exatamente do setor de componentes".
Na Lineapelle, que decorre entre hoje e quinta-feira, várias empresas portuguesas estão a apresentar algumas das inovações produtivas em curso, muitas delas apoiadas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
É o caso das peles biodegradáveis desenvolvidas pela Dias Ruivo, de Avintes, Vila Nova de Gaia, da aposta da Atlanta em solas com 80% de produtos reciclados ou do investimento da Vapesol, de Felgueiras, no desenvolvimento (e, agora, reaproveitamento dos desperdícios) das solas ultraleves de EVA (etileno vinil acetato, um material de espuma leve e flexível).
Segundo o presidente executivo (CEO) da Vapesol, Décio Pereira, a empresa - que em 2022 inaugurou uma fábrica exclusivamente dedicada à produção de solas de EVA - investiu um milhão de euros em equipamentos para reutilização dos desperdícios deste material, que entra em atividade nos próximos dias e faz da empresa "a primeira no mundo com certificado para a produção de EVA com desperdício".
"Conseguimos reverter o processo de expansão [do EVA] e reintroduzir [todo o desperdício] no processo produtivo, sem a perda de qualquer característica", explicou, detalhando que as solas de EVA que a Vapesol produz passarão a incorporar até 20% de EVA reciclado.
De acordo com Décio Pereira, com este investimento a empresa assegura não só uma diminuição da sua pegada ambiental, como prevê atrair novos clientes mais focados na sustentabilidade.
Constituído por cerca de 270 empresas (dados de 2022), o setor dos componentes para calçado assegurava nesse ano mais de 5.000 postos de trabalho em Portugal.
A fileira portuguesa do calçado está, desde o passado domingo até quinta-feira, representada em Milão com 68 empresas nas feiras internacionais de calçado MICAM (35 empresas), de acessórios de pele MIPEL (uma empresa) e de componentes para calçado e curtumes Lineapelle (32 empresas, 18 das quais de curtumes e 14 de componentes).
*** A agência Lusa viajou a convite da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) ***
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