"Se a guerra se prolongar, a economia mundial continuará a ser abalada pelas suas consequências diretas e indiretas", refere a seguradora de crédito em comunicado, salientando que "a Europa será a mais afetada: as previsões atuais sugerem que o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] da zona euro aumentará uns modestos 0,4% em 2023, face aos 2,7% previstos antes da guerra".
Ao mesmo tempo, nota, a inflação na Europa "duplicou a sua taxa em 2022 face às previsões anteriores" e, "embora este ano a inflação se suavize, prevê-se que os preços continuem a subir quase 5%".
"Devido à sua proximidade com a zona de guerra e à sua anterior dependência do gás russo, o impacto na Europa continuará a ser especialmente significativo, mas nenhum país está imune às repercussões económicas do conflito", considera.
Citada no comunicado, a economista da Atradius Dana Bodnar lembra que "a guerra provocou fortes subidas dos preços da energia e dos alimentos, que diminuíram as receitas das famílias, reduziram a procura e aumentaram os custos de produção, tanto nas economias avançadas como nas emergentes".
Isto porque, embora a Rússia e a Ucrânia representem, conjuntamente, menos de 2% do PIB mundial, são "atores chave no bom funcionamento do comércio mundial".
Segundo explica a Crédito y Caución, "o efeito direto mais significativo deriva do papel da Rússia como fornecedor de petróleo e gás, especialmente na Europa", sendo que "o seu fornecimento caiu cerca de 80% desde o começo da guerra".
"Perante a perspetiva de que famílias e empresas ficassem sem energia no inverno, os países europeus começaram a procurar fornecedores de gás alternativos que encontraram no Médio Oriente e nos Estados Unidos, mas com um custo elevado", explica, por sua vez, o economista principal da Atradius, Theo Smid.
E, porque o gás natural liquefeito (GNL) transportado por mar que substituiu o fornecimento por gasoduto desde a Rússia "é um substituto caro", embora os preços do gás na Europa tenham retrocedido desde o seu máximo em 2022, o facto é que quadruplicaram face ao período anterior à guerra.
"A União Europeia proibiu as importações russas de petróleo e carvão e está a eliminar gradualmente o gás. Neste contexto, a Rússia desviará toda a produção possível para a China e para a Índia", refere a seguradora de crédito, detalhando que, "em 2023, se prevê que a Europa aumente em 60% as suas importações de GNL".
Embora os países europeus estejam a investir em infraestruturas, nomeadamente em novos terminais, a Crédito y Caución adverte que "as suas necessidades excedem a capacidade de exportação disponível noutras partes do mundo", pelo que "encher os depósitos de gás antes do próximo inverno será um desafio".
"Esperamos que a importante interrupção de fornecimento de gás proveniente da Rússia se mantenha em 2023 e seja apenas parcialmente compensada por outros países", explica Dana Bodnar.
Na análise hoje divulgada, a Crédito y Caución aborda também o impacto da subida dos preços da energia no aumento dos custos de produção dos alimentos, resultando num agravamento da escassez da oferta.
"Em conjunto, Rússia e Ucrânia representavam, antes da guerra, cerca de 30% das exportações mundiais de trigo, 20% das exportações de milho e de cevada e cerca de 13% das exportações de fertilizantes", concretiza, alertando que "a escassez de fertilizantes será uma limitação importante para o fornecimento mundial de alimentos em 2023", sendo "provável que as colheitas mais afetadas estejam na Europa e em África".
Destacando-se a Rússia e a Ucrânia também como "fornecedores de importantes matérias-primas" -- "a Rússia é um fornecedor chave de níquel, utilizado no fabrico de baterias" e, "antes da guerra, a Ucrânia produzia 50% do neon refinado do mundo, utilizado na produção de semicondutores", detalha --, a seguradora de crédito aponta o aumento dos constrangimentos na cadeia de fornecimento mundial como outro dos impactos do conflito.
"Partes do mar Negro e do mar de Azov não são transitáveis e as companhias marítimas fecharam rotas para evitar o espaço aéreo e os portos russos. Este desvio das rotas de carga aumenta os custos", afirma Theo Smid.
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