Energia. Inflação está nos níveis mais altos após um ano de guerra

A guerra na Ucrânia, que começou há um ano, levou à subida dos preços da energia, conduzindo a inflação para os níveis mais altos das últimas décadas, o que está a ter impacto nos orçamentos das famílias europeias.

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Lusa
14/02/2023 09:38 ‧ 14/02/2023 por Lusa

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A eclosão do conflito no leste europeu, em 24 de fevereiro do ano passado, veio aprofundar uma crise energética que se iniciou no segundo semestre de 2021, levando à "primeira crise energética da transição climática", disse à Lusa o diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira.

O economista sublinhou que a guerra na Ucrânia provocou uma "forte subida de preços" da energia, e a "valorização do aspeto da segurança de abastecimento" energético, sendo que, dos três maiores blocos económicos, a União Europeia (UE) é o mais prejudicado, uma vez que perdeu a Rússia como principal fornecedor de gás natural, que os Estados Unidos da América (EUA) são autossuficientes e que a China apenas importa 20% da energia consumida.

Assim, os principais impactos na economia, prosseguiu, foram a "subida da inflação como não se via há quatro décadas", e a necessidade de responder a essa subida, inicialmente "desvalorizada" pelos principais bancos centrais, que, "posteriormente, se lançaram numa fortíssima subida das taxas de juro, ainda em curso".

"Quer a inflação quer a subida das taxas de juro estão a arrefecer a economia mundial, tendo-se temido que se passasse por uma recessão, na zona euro e em Portugal, mas que agora estará descartada", referiu Pedro Braz Teixeira.

Ainda assim, a redução "brusca" da dependência energética da Rússia, sobretudo de gás natural, tem colocado "grandes desafios" à UE, cuja resposta foi, para o economista, "melhor do que o esperado, graças a notáveis poupanças no consumo", evitando a necessidade de haver racionamento, que chegou a ser temida.

Concretamente em Portugal, menos dependente da energia russa, o economista considerou "inaceitável o Governo tenha promovido tão pouco a poupança" energética, lembrando que 65% da energia consumida no país é importada, ou seja, acima da média da UE, de 58%.

"Importamos mais energia, pelo que sofremos mais com o aumento do seu preço", apontou, vincando também que "a esmagadora maioria dos contratos de crédito são a taxa de juro variável", pelo que se sofre mais com a sua subida.

Já Ricardo Nunes, membro do observatório de energia da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, assinalou que os impactos da guerra na energia foram "imensos e muito profundos", sobretudo do lado da oferta, por razões de segurança de abastecimento e de independência energética.

"A Europa teve de recuar e assumir que tanto o gás natural como a energia nuclear são ainda fundamentais como tecnologias de transição, tendo inclusive de considerá-los idênticos a todas as outras renováveis em termos de taxonomia", disse à Lusa, realçando também que, "por razões de reforço da independência energética, a aposta num 'mix' energético com cada vez mais penetração de renováveis também tem sido uma realidade", após a invasão russa da Ucrânia.

Já os EUA foram "o grande beneficiado", apontou Ricardo Nunes, "já que manteve os seus preços de energia praticamente imunes a esta crise", "tornou-se um fornecedor de gás preferencial e a preços elevados para a Europa" e ainda recuperou, "de forma extraordinária, a indústria de 'shale gas' [gás de xisto], que passava por momentos difíceis antes da pressão da procura europeia".

Para o especialista em energia, "a Europa teve uma década absolutamente desastrosa em termos de política energética, principalmente na forma como se relacionou com a Rússia", considerando também que "houve até um certo egoísmo de alguns países, como a Alemanha que, fruto dessa relação preferencial com a Rússia, teve acesso a energia mais competitiva por vários anos, conseguindo assim uma vantagem comparativa sobre os seus parceiros europeus".

Em Portugal e Espanha, que, "pela sua situação de isolamento em termos energéticos são, para o bem e para o mal, um caso especial", conseguiu-se "algum efeito de curto prazo de estabilização de preços durante o pico da crise energética", explicou.

Porém, para Ricardo Nunes, "a resposta tem de ser robusta e comum a todos os países" da UE, com uma "aposta real no desenvolvimento de produtos e mercados de médio e longo prazo", para que se possa estar imune "à natural volatilidade" de um mercado que, pelo menos até que o armazenamento esteja mais desenvolvido e as interligações na Europa reforçadas, "dependerá muito da instabilidade provocada pelas condições meteorológicas".

Ainda no que respeita à segurança energética, Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, considerou que "Portugal tem sido um exemplo a seguir, tendo diminuído gradualmente a sua dependência dos combustíveis fósseis e apostado nas energias renováveis", apesar de ter ainda "um longo caminho a percorrer", uma vez que, em 2021, os hidrocarbonetos ainda representavam 67% da matriz energética primária portuguesa.

Para o economista, sem a guerra na Ucrânia, "muito provavelmente não teria existido o evento inflacionista assistido atualmente em Portugal", que tem sido impulsionado também "pelo significativo aumento dos preços dos bens alimentares", sendo a Rússia e a Ucrânia uns dos maiores produtores e exportadores de cereais a nível global.

"A segurança energética passa cada vez mais pela diversificação geográfica dos fornecedores de combustíveis fósseis e pela gradual independência, apostando cada vez mais na energia renovável, rumo à descarbonização da economia em 2050", apontou Paulo Rosa.

O economista vincou ainda que "a forte dependência europeia do gás natural russo, sobretudo da sua maior economia, a alemã, tem penalizado substancialmente a atividade económica", com o rendimento real disponível das famílias europeias a diminuir significativamente nos últimos trimestres.

Leia Também: Um ano após guerra, empresas portuguesas na Ucrânia vigiadas pela AICEP

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