A contração do PIB foi de 0,9% em termos anualizados, medida privilegiada nos EUA, que compara com o trimestre anterior, após o que se projeta a evolução para o conjunto do ano, segundo as estatísticas divulgadas na quinta-feira pelo Departamento do Comércio.
Já era esperado um número fraco, depois da contração de 1,6% no primeiro trimestre.
"Isto não me parece uma recessão", reagiu o presidente Joe Biden, contrapondo a força do mercado de trabalho e um nível de investimento empresarial "recorde".
A sua ministra das Finanças, Janet Yellen, também realçou a "resiliência" da economia dos EUA, mesmo que tenha admitido que estava a "diminuir a velocidade".
"A maior parte dos economistas e a maior parte dos (norte-)americanos têm uma definição similar de recessão: perdas substanciais de emprego e despedimentos massivos (...), não é isto que se vê neste momento", afirmou a secretária do Tesouro, durante uma conferência de imprensa, sublinhando os mais de um milhão de empregos criados nos últimos três meses.
Na sua opinião, o estado da economia dos EUA traduz "uma economia em transição para um crescimento mais estável e duradouro".
A definição corrente de recessão corresponde a dois trimestres consecutivos de baixa do PIB.
O banco central dos EUA, a Reserva Federal (Fed) voltou a subir de forma drástica a sua taxa de juro de referência, na quarta-feira, para arrefecer voluntariamente a atividade económica, de forma a aliviar a pressão sobre os preços.
A inflação atingiu um novo recorde em junho, ao atingir os 9,1% anuais.
O presidente da Fed, Jerome Powell, voltou a garantir, na quarta-feira, que "existe uma forma de baixar a inflação mantendo um mercado de trabalho sólido", e estimou que a economia dos EUA "não está em recessão", apesar de "uma diminuição do consumo".
Yellen também garantiu que seria "possível fazer baixar a inflação e conservar um mercado de trabalho sólido".
O Departamento do Comércio detalhou que o recuo do PIB no segundo trimestre refletia a baixa de investimento das empresas e de compras de habitações pelas famílias. Mas a despesa pública, federal e estadual, também baixou.
O consumo, motor da economia norte-americana, manteve-se, mas graças às despesas em serviços, em particular os alugueres, cujos preços cresceram fortemente. Já as compras de bens baixaram.
O recuo do PIB no trimestre foi de 0,2%, se se comparar com o trimestre anterior, como é comum nas outras economias avançadas.
Mas, então, os EUA estão ou não em recessão? O debate, que está animado desde há alguns dias, voltou a ganhar força.
"Penso que é preciso evitar uma batalha semântica", disse Yellen. "Quando se diz que as pessoas estão muito preocupadas com a economia, penso que a sua maior preocupação é a inflação", avançou.
Na mesma linha, Lydia Boussour e Kathy Bostjancic, economistas da Oxford Economics, também duvidam que a economia esteja em recessão, "dado o vigor do mercado de trabalho".
Observaram, não obstante, que "o arrefecimento da procura interna confirma que a economia diminui rapidamente em contexto de inflação, obstinadamente elevada, e endurecimento agressivo por parte da Fed".
A taxa de desemprego, nos 3,6%, está muito próxima do seu nível pré-pandémico, que era o mais baixo desde há mais de meio século, com os empregadores a terem dificuldade em recrutar.
Um único organismo está capacitado nos EUA a determinar oficialmente os períodos de recessão, o Gabinete Nacional de Investigação Económica (NBER, na sigla em Inglês), mas só o faz com vários meses de distanciamento.
"Consideramos uma série de indicadores" para determinar o ciclo económico, detalha o NBER no seu sítio, o qual regista igualmente "a dimensão do declínio da atividade".
O Fundo Monetário Internacional reviu fortemente em baixa as suas previsões sobre a economia dos EUA. Espera agora que a economia cresça 2,3% em 2023, quando em abril esperava 3,7%.
O PIB dos EUA contraiu-se 3,4% em 2020, devido à crise suscitada pela pandemia do novo coronavirus, e cresceu 5,7% em 2021.
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