"Teremos de readaptar [o acordo] e ver o efeito desse choque global inesperado [a guerra] em todos os aspetos do programa", admitiu o subsecretário de Financiamento do Ministério da Economia da Argentina, Ramiro Tosi, durante evento virtual com o economista Alberto Ramos, da Goldman Sachs, na quinta-feira.
Tosi referia-se ao impacto da invasão russa na Ucrânia nos preços internacionais das matérias-primas, alterando as contas e, portanto, as metas do acordo fechado entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) no dia 04 de março e aprovado pela diretoria do FMI no dia 25 de março, há menos de um mês.
Embora a Argentina saia beneficiada com o aumento dos preços de grãos e cereais, produtos que exporta, o aumento no preço do gás, produto que importa, torna o balanço final desfavorável para a Argentina.
Além disso, o aumento dos preços das 'commodities', combinado com o aumento do gasto público, acelerou o processo inflacionário argentino.
Em março, apenas um país teve a inflação superior à da Argentina, segundo um estudo do Instituto Argentino de Análise Fiscal (IARAF). Em guerra e sob sanções económicas, a Rússia teve 7,6% de inflação, enquanto a Argentina teve 6,7%. A taxa de inflação Argentina, num único mês, é equivalente à taxa anual dos seus vizinhos.
"O grande risco é a inflação que foi impulsionada por fatores exógenos", indicou Kristalina Georgieva, em referência ao desafio de implementação do acordo financeiro com a Argentina, durante conferência virtual de imprensa na quarta-feira, por ocasião da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial.
"Temos um objetivo em comum: ter um programa que possa ser implementado com êxito. O desafio dos próximos dias é a implementação que deve ser recalibrada para refletir as alterações na economia global para a Argentina", prosseguiu a responsável, usando o termo 'recalibrar' para a renegociação das metas.
"Prestaremos muita atenção em como levar a inflação a um ponto no qual as pessoas na Argentina possam confiar em poupar na sua moeda", concluiu a diretora do FMI antes da reunião com o ministro da Economia hoje, em Washington.
A primeira revisão de cumprimento do acordo com a Argentina foi antecipada em um mês, de junho para maio, para 'recalibrar' o programa económico ao novo contexto internacional.
A pressa na renegociação está associada à inflação galopante na Argentina. O primeiro trimestre fechou com 16,1% de aumento nos preços, o índice mais alto em 30 anos. Os 6,7% de março foram os mais altos dos últimos 20 anos. As projeções para abril não ficam abaixo de 5,5%. As consultoras privadas calculam um mínimo de 60% para todo o ano de 2022.
Neste contexto, o programa económico do FMI para a Argentina tornou-se obsoleto, menos de um mês depois de ter sido formalmente aprovado pela Diretoria Executiva do organismo multilateral de crédito.
Para refinanciar 45.000 milhões de dólares da dívida a 10 anos, a Argentina comprometeu-se com uma inflação de até 48% neste ano, número que aparece desfasado. Só nos últimos 12 meses, a inflação acumulada na Argentina foi de 55,1%, mesmo com tarifas de serviços públicos congeladas, com 18 programas de controlo de preços e com fortes restrições ao movimento de capitais.
O cumprimento da redução do défice fiscal primário de 3% a 2,5% do PIB em 2022 também aparece como improvável.
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