Meteorologia

  • 29 MARçO 2024
Tempo
14º
MIN 8º MÁX 15º

Calçado português "apreensivo" com "ventos de leste"

Animado pelo "melhor trimestre de sempre" entre outubro e dezembro e pela subida de 14,3% das exportações em janeiro, o calçado português está "apreensivo" com os "ventos de leste" vindos da Ucrânia, mas "a fazer o trabalho de casa"

Calçado português "apreensivo" com "ventos de leste"
Notícias ao Minuto

16:39 - 13/03/22 por Lusa

Economia Indústria

"O último trimestre de 2021 foi o melhor de sempre em matéria de mercados internacionais para a indústria portuguesa de calçado. Começámos o ano de 2022 com um registo muito positivo -- as exportações aumentaram 15% no início do ano -- e tínhamos a antevisão de que este seria um ano de forte afirmação do calçado português nos mercados externos. Agora, naturalmente, estamos mais apreensivos", afirmou o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

Em declarações à agência Lusa à margem da feira de calçado MICAM, em Milão, Itália, onde de hoje até terça-feira participam 35 empresas portuguesas, Paulo Gonçalves garantiu, contudo, que o setor continua "a fazer o trabalho de casa".

"Não só regressámos em força àquela que é a maior feira de calçado do mundo, como já é do conhecimento público o investimento que tencionamos fazer até 2025, na ordem de 140 milhões de euros, para tornarmos a nossa indústria a mais moderna e mais sustentável do mundo", salientou, assegurando: "Nós estamos a fazer o trabalho de casa para que, quando o mundo entrar no seu ritmo normal, Portugal possa estar na vanguarda deste processo de desenvolvimento de uma indústria do século XXI".

Embora os mercados da Rússia e da Ucrânia representem, juntos, menos de 1% das vendas do setor de calçado, que "exporta mais de 95% da sua produção para 170 países e não está dependente de nenhum mercado em particular", a APICCAPS teme os "efeitos colaterais de numa guerra no centro da Europa, com as consequências que daí podem advir".

Para além de questões como o aumento dos custos da energia, dos combustíveis e das matérias-primas, há um "efeito indireto" que pode penalizar parte das exportações portuguesas de calçado para mercados como a Alemanha, Holanda ou Polónia, cujo destino final era a reexportação para a Rússia.

"Sabemos, naturalmente, que há esse efeito indireto, mas não temos dados objetivos que nos permitam concluir que é este número ou aquele. Aquilo que sabemos é que estamos num clima de alguma incerteza, que é sempre prejudicial para os negócios em geral", concluiu Paulo Gonçalves.

No caso da IberShoes, de Santa Maria da Feira, o efeito da invasão russa da Ucrânia é, desde logo, direto, já que a Rússia representou cerca de cinco milhões das vendas totais de 22 milhões de euros da empresa em 2021.

"A Rússia era um cliente com uma longa colaboração, de cerca de 15 anos, que representava entre 8% e 10% da nossa faturação. Claro que agora parou e teremos de ver outras possibilidades de crescer nos outros mercados com que trabalhamos", afirmou o sócio-gerente, Pedro Ferreira.

Os EUA, o Canadá e a Europa são apontados pelo empresário como alternativas, até porque "durante a pandemia houve novas oportunidades, pois muitos retalhistas fecharam e há um espaço para quem está presente no mercado".

A empresa portuguesa, especializada em calçado casual de senhora e dona da marca Creator, tinha há dois anos um contrato de exclusividade com o cliente russo e, 10 dias antes do início da guerra, conseguiu exportar para a Rússia a coleção primavera/verão de 2022. As restantes encomendas previstas ficaram, contudo, sem efeito.

Já o gestor de marca da Kyaia, empresa com sede em Guimarães e dona da marca Fly London, aponta a "grande incerteza" que os "ventos de leste" voltaram a trazer ao setor, precisamente quando este recuperava do impacto sofrido com a pandemia.

"O ano 2022 arrancou bem, mas agora estamos com esta situação e ninguém sabe como é que isto vai evoluir", reconheceu António Alves, em entrevista à Lusa.

E se, diretamente, os efeitos da guerra na Ucrânia são limitados, já que a Rússia "não representava muito" para a Kyaia, a empresa teme "toda a estranheza do mercado em relação a esta situação" e diz já estar "a começar a sentir" os efeitos "nos países à volta", nomeadamente na Polónia e, até, na Alemanha.

"Na Alemanha tivemos uma situação de um cliente que acabou por desistir da encomenda, [...] porque tinha algumas relações com uma comunidade russa e acabou por ficar afetado por isso", disse.

Com mais de 95% da produção direcionada para a exportação, a Kyaia tem os EUA, o Reino Unido e a Alemanha como principais mercados e, apesar da atual incerteza, prevê aumentar a faturação este ano face a 2021: "Os ventos de leste podem vir a impactar um bocadinho, mas perspetiva era e continua a ser crescer em 2022", assegurou António Alves.

Também a marca de calçado desportivo Ambitious, da empresa de Guimarães Celita, direcionava para a Rússia e para a Ucrânia uma "percentagem muito residual" das suas vendas totais de 18 milhões de euros, pelo que prevê um "impacto diminuto" no volume de negócios.

Ainda assim, reconhece que, "especialmente a Rússia, era um mercado extremamente interessante", que a empresa estava "a começar a desenvolver" e que, agora, teve de deixar em 'stand by'.

Apesar de tudo, planeia manter os negócios que tem nos países vizinhos: "Nós já estamos naquela zona, por isso vamos continuar. Sabemos que teremos algumas dificuldades, mas vamos continuar", assegurou o empresário Paulo Martins.

Com exportações para cerca de 45 países, com destaque para a Itália e Alemanha, a Ambitious prevê que o prolongamento da guerra agrave os efeitos já sentidos no custo da energia, dos transportes e dos combustíveis e considera inevitável que estes acréscimos se venham a repercutir no preço final ao consumidor.

"Vamos sofrer porque esses custos vão aumentar, claramente. Isso será inevitável e terá impacto também na nossa indústria auxiliar, que são os nossos fornecedores, e penso que não haverá grandes soluções senão refletir este aumento no consumidor final", rematou.

A participação nacional na MICAM insere-se na estratégia promocional definida pela APICCAPS e pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), com o apoio do Programa Compete 2020, e visa consolidar a posição relativa do calçado português nos mercados externos, para onde o setor exporta mais de 95% da sua produção.

Leia Também: Calçado português leva 48 marcas à maior feira mundial do setor, em Milão

Recomendados para si

;

Receba as melhores dicas de gestão de dinheiro, poupança e investimentos!

Tudo sobre os grandes negócios, finanças e economia.

Obrigado por ter ativado as notificações de Economia ao Minuto.

É um serviço gratuito, que pode sempre desativar.

Notícias ao Minuto Saber mais sobre notificações do browser

Campo obrigatório