Domingos Névoa foi ouvido hoje de manhã como testemunha no processo Bragaparques, relacionado com a permuta do Parque Mayer por parte dos terrenos da Feira Popular em Entrecampos e a venda em hasta pública da área remanescente, mas acabou por não responder ao Ministério Público (MP) quanto ao financiamento partidário da empresa ao PSD.
A procuradora Olga Barata pretendia saber se a testemunha tinha conhecimento de donativos da Bragaparques à campanha social-democrata a Lisboa nas eleições autárquicas de 2005, já que, defendeu, "a investigação apurou existirem fluxos de dinheiro entre contas da testemunha e campanha política de dois arguidos eleitos em 2005", nomeadamente em cheques e transferências.
Neste processo são arguidos Carmona Rodrigues, Fontão de Carvalho e Eduarda Napoleão, ex-presidente e vereadores da Câmara de Lisboa, eleitos nessas autárquicas.
No entanto, o coletivo de juízes, presidido por Rui Coelho, optou por não permitir que o MP colocasse questões relacionadas com o financiamento da campanha, por entender que "extravasam o processo".
A juíza adjunta Alexandra Veiga votou vencido, considerando que a resposta a estas questões "pode levar aos factos principais".
O MP acabou por pedir a nulidade do despacho dos juízes e o tribunal terá agora dez dias para se pronunciar sobre esta questão.
No entanto, à saída da primeira parte da audição, aos jornalistas, Domingos Névoa acabou por recusar os donativos abordados pelo MP.
"Desconheço totalmente. Nunca [houve favorecimento ao PSD por parte da Bragaparques]. Já fiz donativos, mas aqui [desconheço]. Para o PSD de Lisboa nunca", respondeu o administrador da Bragaparques.
Perante a insistência dos jornalistas quanto às transferências e cheques bancários da Bragaparques ao PSD, Domingos Névoa afirmou que "isso nunca aconteceu".
Durante a audição, juízes e o MP apontaram discrepâncias da testemunha entre as declarações em tribunal e em sede de inquérito. Confrontado com um possível processo por "falsas declarações", o administrador disse estar "perfeitamente à vontade".
Ainda durante a audição, o administrador da Bragaparques afirmou que o réu neste processo deveria ser o ex-presidente da Câmara de Lisboa Pedro Santana Lopes, uma consideração que o tribunal também entendeu ser "escusada".
À saída da audição, Domingos Névoa considerou aos jornalistas que Santana Lopes que "foi o pai deste monstro".
"Ele foi a pessoa que quando chegou à câmara não aceitou o projeto do Norman Foster, obrigou-nos a fazer um casamento com o grupo Amorim, que fez com o grupo Amorim uma negociação que chegou a levar à Câmara e à Assembleia Municipal de Lisboa - propostas com as quais nunca estivemos de acordo - e obrigou-nos a cumprir uma permuta. Não foi o executivo de Carmona Rodrigues, ele apenas seguiu as negociações de Pedro Santana Lopes", afirmou.
Domingos Névoa considerou ainda que o MP "não leu o processo e não viu as condições de permuta nem de hasta pública".
"Porque nós, na hasta pública e na permuta, estávamos a entregar ao município de Lisboa 8.000 metros de comércio e 1.000 lugares de estacionamento, o que ronda os 50 milhões de euros".
O administrador continua a ser ouvido nas Varas Criminais de Lisboa durante a tarde de hoje