A diretora e responsável pela divisão de instituições internacionais da BlackRock, Isabelle Mateos y Lago, referiu, numa videoconferência promovida pelo Instituto de Finanças Internacionais (IFI), que uma das lições que a União Europeia retirou da anterior crise foi "não partir para a austeridade cedo demais".
"Essa [a austeridade] é, de facto, a melhor maneira de tornar a dívida insustentável, e então a Europa foi muito rápida a suspender todos os modelos orçamentais", referiu, acrescentando que "a segunda lição aprendida" foi tomar medidas conjuntas e "não fazer os países responder individualmente, porque dessa forma os resultados iriam ser muito maus".
Também o diretor e responsável pela divisão de soberanos e 'ratings' supranacionais da Fitch, James McCormack, referiu que uma das lições foi "não implementar austeridade orçamental demasiado rápido".
Porém, o analista da Fitch disse que, juntamente com os baixos custos de financiamento, "se se olhar para o tamanho da crise e para a resposta orçamental", é provável que se veja "as finanças públicas com alguma pressão durante algum tempo" nas economias desenvolvidas, pelo que "os 'ratings' vão continuar sob pressão".
James McCormack recorreu a dados históricos dos Estados Unidos para sustentar a sua posição, dizendo que "em média o défice orçamental não começa a melhorar até um ano depois do fim da recessão", acrescentando que na Europa as economias demoraram 10 anos a recuperar para o nível de 2007, aquando da anterior crise mundial.
Isabelle Mateos y Lago reforçou que no "curto prazo imediato não é altura para se falar em austeridade e estratégias de saída".
"Claro que será necessária uma estratégia de saída, claro que será necessário voltar ao bom senso orçamental, ao senso comum, e as regras vão ter de mudar na Europa", afirmou.
A analista da BlackRock entende que as atuais regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), devem ser alteradas, nomeadamente o rácio da dívida para o PIB [Produto Interno Bruto], que tem de estar nos 60%, e os défices nos 3% [do PIB].
"O défice até está 'OK', mas o objetivo da dívida está completamente fora do alcance", considerou a responsável.
A dívida pública e privada mundial atingiu um recorde de 232,9 biliões de euros, segundo um relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IFI) divulgado hoje, que dá conta de um aumento de 19,9 biliões de euros no ano passado.
De acordo com o relatório, a dívida pública situou-se nos 105% do PIB mundial, uma subida face aos 88% de 2019, e contabilizou "mais de metade da subida" da dívida mundial, tendo passado dos 3,5 biliões de euros em 2019 para mais de 9,9 biliões em 2020.
"Esperamos que a dívida pública mundial aumente mais 10 biliões de dólares [8,3 biliões de euros] este ano e ultrapasse os 92 biliões de dólares [76,3 biliões de euros] no final de 2021", revela o IFI.
O instituto alerta que "encontrar a estratégia de saída certa poderá ser ainda mais desafiante do que depois da crise financeira de 2008/09", e a "pressão política e social poderá limitar os esforços dos governos para reduzir o défice e a dívida, comprometendo a sua capacidade para lidar com futuras crises".
"A retirada prematura de medidas de apoio governamentais poderá significar um surto de falências e uma nova onda de crédito malparado, com implicações na estabilidade financeira para o setor bancário", alerta o IFI, mas, por outro lado, o prolongamento dos apoios poderá também "encorajar a acumulação de dívida pelas empresas mais fracas e endividadas".
Leia Também: Dívida mundial atingiu os 233 biliões de euros em 2020