"Em resultado das perdas verificadas na atividade 'legacy' [legado] no valor de 493,7 milhões de euros, que refletem a prossecução do processo de 'deleverage' [desalavancagem] de créditos, imóveis e outras exposições 'legacy' que estavam no balanço do Banco em 2016, o Novo Banco estima, a esta data e para este período de seis meses, um montante a receber de 176 milhões de euros ao abrigo do Mecanismo de Capitalização Contingente", pode ler-se no comunicado do banco enviado ao mercado.
A instituição presidida por António Ramalho registou prejuízos de 555,3 milhões de euros no primeiro semestre, um agravamento de 38,8% face ao mesmo período de 2019, constituindo 138 milhões de euros de provisões relacionadas com a covid-19, foi hoje divulgado.
O banco afirma que continua a "cumprir o seu plano estratégico, objetivos e compromissos assumidos pelo Governo português com a DGComp [Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia]".
"Neste período, o banco continuou a evidenciar progressos nas suas prioridades estratégicas, com resultados positivos no produto bancário comercial recorrente, não obstante os já visíveis efeitos da pandemia covid-19. Na atividade 'legacy' prosseguiu-se com a estratégia de redução dos ativos não produtivos", pode ler-se no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Nascido na resolução do BES (em 03 de agosto de 2014), 75% do Novo Banco foi vendido em outubro de 2017 ao fundo de investimento norte-americano Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução bancário 25%, numa solução acordada entre Banco de Portugal e Governo. Nos termos do contrato, o Novo Banco não pode fazer vendas de ativos a entidades relacionadas com a Lone Star.
Aquando da venda, foi acordado um mecanismo de capital contingente, que previa que durante oito anos o Fundo de Resolução compensasse o Novo Banco por perdas de capital num conjunto de ativos que 'herdou' do BES até 3.890 milhões de euros.
Desde então e até hoje, o Fundo de Resolução já injetou 2.976 milhões de euros e ainda poderá colocar mais de 900 milhões de euros, valores que em cada ano têm impacto nas contas públicas uma vez que o Fundo de Resolução é uma entidade da esfera do Estado.
Em junho, o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, disse que a instituição vai precisar de mais capital do que o previsto para este ano, face ao impacto da covid-19.
Essas declarações levaram o Presidente da República a declarar ter ficado "estupefacto" e o ministro das Finanças, João Leão, disse que o Governo, à semelhança de Marcelo Rebelo de Sousa, também ficou "estupefacto".