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Problemas da TAP vinham de trás e foram acentuados pela pandemia

A TAP, que passará a ser detida pelo Estado em 72,5% depois de ter regressado à esfera pública em 2016, tem um peso assinalável na economia nacional, com cerca de 10.000 trabalhadores, e corresponde a 2% do PIB, mas viu o seu plano de expansão travado pela pandemia.

Problemas da TAP vinham de trás e foram acentuados pela pandemia
Notícias ao Minuto

23:45 - 02/07/20 por Lusa

Economia TAP

A companhia aérea de bandeira já estava no centro das atenções por razões menos positivas, como greves, problemas operacionais, uma polémica atribuição de prémios e recentes rumores de alterações acionistas, mas a pandemia acentuou a situação.

A pandemia de covid-19, que obrigou a empresa a paralisar a sua atividade e a colocar milhares de trabalhadores em 'lay-off', levou o Estado a negociar um apoio de até 1.200 milhões de euros, validado pela Comissão Europeia.

Hoje, o Governo anunciou que chegou a acordo com os acionistas privados da TAP, passando a deter 72,5% do capital da companhia aérea, por 55 milhões de euros, depois de já ter aprovado em Conselho de Ministros uma resolução que reconhece o interesse público subjacente à operação de auxílio à companhia.

O Estado aumenta, assim, a participação na TAP dos atuais 50% para 72,5%. O empresário Humberto Pedrosa detém 22,5% e os trabalhadores os restantes 5%.

Eis alguns pontos essenciais sobre a companhia aérea:

Estrutura acionista e participadas

A TAP S.A., que é a companhia aérea, é detida integramente pela 'holding' TAP SGPS, S.A..

Os atuais acionistas do grupo são públicos e privados, sendo que 50% está nas mãos da Parpública, sociedade que detém as participações do Estado, e 45% estão nas mãos do consórcio Atlantic Gateway, detido por Humberto Pedrosa, do grupo Barraqueiro, e pelo empresário David Neeleman, com interesses no setor da aviação, incluindo na companhia Azul. Os restantes 5% do capital estão nas mãos de uma minoria de acionistas, como os trabalhadores do grupo.

Hoje, o Governo anunciou que chegou a acordo com os acionistas privados da TAP, passando a deter 72,5% do capital da companhia aérea, por 55 milhões de euros.

Deste modo, o Estado vai aumentar a participação na TAP dos atuais 50% para 72,5%. O empresário Humberto Pedrosa fica com 22,5% e os trabalhadores com os restantes 5%.

A TAP foi privatizada pelo Governo de Passos Coelho, mas, em 2016, na primeira legislatura liderada por António Costa, este processo foi revertido.

O grupo TAP tem várias participadas, com negócios ligados à atividade principal, do transporte aéreo. De acordo com uma apresentação publicada pela companhia na CMVM, o grupo inclui as seguintes subsidiárias: TAPGER - Sociedade de Gestão e Serviços, S.A., Portugália - Companhia Portuguesa de Transportes Aéreos, S.A., CateringPor - Catering de Portugal, S.A. , Megasis-Sociedade de Serviços e Engenharia Informática, S.A., UCS - Cuidados Integrados de Saúde, Aeropar, Participações, S.A. e TAP-Manutenção e Engenharia Brasil, S.A.. O grupo é ainda responsável por uma participação de 43,9% no capital da Groundforce, empresa de 'handling' (prestação de serviços aeroportuários), sendo que a sua participada Portugália detém outros 6% nesta companhia.

Dimensão

 

Fundada em 1945, a TAP é a companhia aérea de bandeira portuguesa, com operações no transporte de passageiros, carga e manutenção.

No final de 2019, a empresa tinha uma rede composta por ligações a 93 aeroportos, de 36 países, de acordo com informação publicada pela companhia.

A TAP estima que no final de 2018 detinha uma quota de mercado de 55% no aeroporto de Lisboa.

A companhia salienta ainda que no final dos primeiros nove meses do ano passado era a "única europeia" a servir cinco dos dez maiores destinos no Brasil.

A TAP está integrada na Star Alliance, que lhe permite chegar a muitos mais destinos, através de parcerias com outras companhias aéreas.

Desde 2015, e até setembro do ano passado, a TAP aumentou a sua frota em 31 aeronaves, para um total de 108, sendo que os planos nessa altura apontavam para 115 aviões em operação até ao final de 2019. No relatório e contas da TAP SA, a companhia aponta para uma frota operacional de 105 aeronaves. Em 2018, a idade média da frota de longo curso era de 15 anos e na parte final de 2019 atingia os 3,9 anos, segundo um comunicado da TAP.

O número de passageiros transportados pela TAP em 2019 subiu 8,2% para mais de 17 milhões em relação ao ano anterior, tratando-se de um "novo recorde absoluto", informou a companhia aérea, num comunicado, em janeiro.

Gestão

O Conselho de Administração da TAP SGPS tem 12 elementos, liderados por Miguel Frasquilho, presidente, e Antonoaldo Neves, presidente da Comissão Executiva (CE) da empresa. Os vogais da CE são David Pedrosa e Raffael Quintas Alves ('chief operating officer', ou administrador com o pelouro financeiro), sendo os restantes vogais Ana Pinho Macedo Silva, António Gomes de Menezes, Bernardo Trindade, David Neeleman, Diogo Lacerda Machado, Esmeralda Dourado, Maximilian Otto Urbahn e Humberto Pedrosa.

Seis destes administradores foram nomeados pelo Estado, mas não têm funções executivas, o que quer dizer que a estratégia e operação da empresa são da responsabilidade dos gestores nomeados pelos privados.

Em cargos executivos estão ainda o 'chief technical officer' (responsável pela área técnica), Mário Lobato de Faria, 'chief operating officer' (responsável pelas operações), Ramiro Sequeira, e o 'chief revenue officer' (responsável pelas receitas), Arik De.

Hoje, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, anunciou que o Governo vai contratar uma empresa para procurar no mercado internacional uma equipa de gestão qualificada para a TAP.

Resultados

Em 2015, a TAP SGPS obteve um prejuízo de 156 milhões de euros, tendo a S.A. registado 99 milhões de euros negativos, de acordo com o relatório e contas publicado no 'site' da empresa.

Este cenário iria repetir-se durante os anos seguintes, com exceção de 2017, ano em que a TAP S.A. conseguiu um lucro de mais de 100 milhões de euros, com a SGPS a reportar resultados positivos de 21,2 milhões de euros. Em 2018, a SGPS regressou ao vermelho, com prejuízos de 118 milhões de euros (a S.A. atingiu os 58,1 milhões de euros negativos).

A contribuir para estes resultados estiveram problemas operacionais, que reduziram a pontualidade da companhia aérea, complicados por greves e cancelamentos, que levaram ao pagamento de indemnizações de vários milhões de euros, um cenário que marcou 2018.

Em 2019, a TAP SGPS registou prejuízos de 105,6 milhões de euros, uma melhoria de 12,4 milhões de euros face às perdas de 118 milhões registadas no ano anterior pela companhia aérea.

De acordo com um comunicado da TAP SGPS "o processo que envolve a gestão da entrada das 30 aeronaves e a saída de 18 antigas teve um impacto negativo financeiro de 55 milhões de euros no resultado do ano".

Por sua vez, a TAP S.A. fechou o ano passado com prejuízos de 95,6 milhões de euros, um agravamento de 37,6 milhões face a 2018.

No primeiro trimestre deste ano, a TAP S.A registou ano prejuízos de 395 milhões de euros, relacionados com os impactos da pandemia de covid-19.

"[O] resultado líquido negativo do trimestre de 395 milhões de euros [foi] impactado por eventos relacionados com a pandemia covid-19, nomeadamente pelo reconhecimento de 'overhedge [cobertura de risco] de jet fuel' de 150,3 milhões, tendo o resultado líquido sido igualmente impactado por diferenças de câmbio líquidas negativas de 100,5 milhões", indicou a empresa, num comunicado.

Rotas

A rede da TAP incluía, antes da pandemia, os aeroportos do Porto, Lisboa, Faro e ainda quatro ilhas nos Açores e Madeira, de acordo com o relatório que a empresa publicou. Os destinos externos até ao dia 30 de setembro incluíam 49 aeroportos na Europa, fora de Portugal, 10 destinos no Brasil, 17 em África e oito na América do Norte.

Para 2020, a companhia aérea planeou novas rotas, mas a pandemia de covid-19 parou os trabalhos da empresa.

A TAP previa lançar uma nova ponte aérea para Madrid a partir de Lisboa e do Porto, em 2020, e cancelar a operação em London City. Assim, a empresa iria redirecionar "a capacidade dos voos Porto-Barcelona e Porto-Lyon, suspendendo a operação nesses mercados" para "construir a novíssima ponte aérea entre Porto e Madrid", com seis frequências diárias. Estas mudanças iriam ainda permitir o aumento das ligações entre o Porto e o Funchal, fazer a operação diária do Porto-Newark (EWR) e a quarta frequência semanal Porto-São Paulo, indicou a transportadora.

Na capital, a TAP estimava que a capacidade dedicada a Estugarda, Colónia e Basileia fosse redirecionada para outros mercados e queria criar uma nova ponte aérea ligando Lisboa a Madrid, segundo uma nota. A companhia aérea anunciou ainda uma nova rota para Santiago de Compostela e outras ligações a Espanha. Também Casablanca contaria com mais uma frequência diária à saída de Lisboa.

A TAP planeava reforçar voos para Telavive, de um para dois diários, e reforçar nos EUA. No Brasil contaria com cinco voos semanais para Natal e Belém, em cada um dos destinos, face aos três atuais.

A partir do avanço da pandemia, em março, a TAP parou quase toda a sua atividade. Em 25 de maio, a transportadora publicou o seu plano de voo para os dois meses seguintes que implica 27 ligações semanais em junho e 247 em julho, sendo a maioria de Lisboa, de acordo com dados divulgados pela companhia aérea.

A falta de rotas para os outros aeroportos nacionais levou a protestos generalizados de vários autarcas, sobretudo a Norte, e do Governo.

Trabalhadores e 'peso' na economia

No final de 2019, o grupo TAP contava com quase 11.000 funcionários, sendo que a companhia aérea empregava pouco mais de 9.000.

Segundo o relatório e contas do ano passado da TAP SGPS, a empresa contratou nesse ano 992 pessoas. Para 2020, os planos da TAP passavam por contratar mais de 1.000 funcionários, dos quais mais de 140 pilotos.

No final de 2018, a empresa estimava ter um peso de 3,5 mil milhões de euros no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou 2%, segundo informação da TAP.

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