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"Ser titular no Benfica causou mal-estar no balneário"

Marcelo Moretto foi jogador do Benfica entre 2005 e 2010. Chegou à Luz com grande alarido, mas a sua relação com os adeptos foi sempre intermitente, nunca conseguindo afirmar-se como figura consensual. Agora, volvidos sete anos, o antigo guardião recorda a sua passagem pelo Benfica, revelando que mudaria vários aspetos do seu trajeto com a camisola encarnada.

"Ser titular no Benfica causou mal-estar no balneário"
Notícias ao Minuto

08:00 - 30/11/17 por Ruben Valente

Desporto Moretto

Disputado por Benfica e FC Porto enquanto ainda estava no V. Setúbal, Marcelo Moretto escolheu rumar ao clube da Luz. O brasileiro, que já arrumou as luvas, abriu o livro e contou ao Desporto ao Minuto como se deu a sua transferência para o Benfica, como soube que iria ser titular pela primeira vez nas águias e como lidou com as críticas por parte dos adeptos encarnados.

Olhando para trás, Moretto “mudaria 50%” daquilo que fez durante a sua carreira, mas admite que a passagem pelo Benfica foi o ponto alto do seu percurso no futebol.

E há um momento que o ex-guardião de 39 anos não esquece: a grande penalidade que “já sabia que ia defender” a Ronaldinho Gaúcho.

Estiveste no Benfica de 2005 a 2010. Que memórias te marcaram na passagem pelo clube?

Foram momentos muito felizes os que vivi no Benfica. Mas o que vai ficar sempre na minha memória são aqueles encontros em que jogávamos fora de casa. Aquele apoio dos adeptos… Qualquer campo fora do estádio da Luz, estava cheio de adeptos nossos. Guardo isso para sempre.

Havia muita expectativa sobre ti quando chegaste do V. Setúbal. Achas que correspondeste?

Eu acredito que o meu começo foi muito bom. Vinha de uma boa sequência no V. Setúbal. Mas, olhando mais friamente, e 10 anos depois, eu acredito que podia ter sido melhor do que fui. Se tivesse sido lançado no ‘onze’ com mais calma, com mais tranquilidade... Para eu também me poder ambientar ao clube e à dimensão do Benfica. Com todo o respeito que eu tenho pelo Vitória, que é também um clube do meu coração, a dimensão de um clube para o outro é completamente diferente. Saí de um estádio onde jogava para quatro, cinco, seis mil adeptos, para o Benfica. Ali jogava para 60 mil. Houve também aquele episódio com o FC Porto… Quando entrei na equipa, o Quim estava muito bem e a opção causou mal estar no seio do grupo. Eu estava numa posição delicada. Tinha feito três ou quatro treinos e o Koeman chamou-me. Perguntou se estava pronto, eu respondi que sim, e ele disse-me: “A partir de hoje és o novo número 1 da baliza do Benfica”. Eu entrei na equipa, fiz alguns bons jogos, mas depois caímos um pouco de rendimento. A imprensa, na altura, apontou alguns culpados pelo momento menos bom e eu fui um deles.

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Achas que esse momento menos bom se deveu à precoce aposta de Ronald Koeman? Só tinhas feito uns três treinos…

Sim, acredito que sim. Primeiro, entrei como um jogador estrangeiro, segundo entrei para o lugar do Quim, que era o segundo guarda-redes da seleção de Portugal,  ainda por cima era ano de Campeonato do Mundo. Tudo isso pesou e toda a confusão e expectativa que houve em relação a mim, prejudicou-me. Acredito que se tivesse tido mais tempo, talvez as coisas tivessem sido bem melhores para mim.

Falaste num “mal-estar” no grupo depois da tua titularidade. Sentiste que os teus companheiros olharam para ti de outra forma, depois de relegares o Quim para o banco de suplentes?

Nós tínhamos grandes jogadores. O Simão Sabrosa, o Nuno [Gomes], o Ricardo Rocha, o próprio Quim… E tínhamos muitos brasileiros, essa foi a minha sorte. Eles acolheram-me muito bem, mas os portugueses também. Só que nós percebemos as coisas. Foi uma coisa que ficou chata, até porque o Quim era uma pessoa muito querida dentro do balneário e acabou por ser uma situação muito delicada. Se estivesse no lugar do Quim também ficaria muito chateado.

E como era a tua relação com o Quim? 

Isso foi tudo criado pela imprensa. Nós nunca fomos amigos, mas mantínhamos uma relação profissional e nunca tive nenhum problema com ele. Nunca tive uma discussão com o Quim. Sempre nos respeitámos um ao outro.

Eu disse que queria jogar no Benfica e Vieira disse-me: ‘Está fechado'Antes de chegares à Luz, foste muito disputado por Benfica e FC Porto. O que te levou a escolher o Benfica?

Quando cheguei a Portugal um dos meus sonhos era jogar no Benfica. Surgiu essa oportunidade pouco tempo depois. O José Veiga veio falar comigo e nós entendemo-nos. Depois, no dia em que eu ia assinar com o Benfica, veio o FC Porto e fez uma proposta bem superior. Eu fui ao Porto, na altura, com o meu ex-empresário, mas estava com o coração apertado. Não era aquilo que eu queria, estava apenas a pensar no bem estar da minha família. Era bom, mas não era o clube onde queria jogar.

Cheguei a assinar um pré-acordo com o FC Porto e vim para o Brasil. Antes, o Chumbita [Nunes], presidente do V. Setúbal, ligou-me, o José Veiga ligou-me, mas eu estava com o pessoal do FC Porto e eles não me deixavam atender o telefone. Assim que eu desembarquei no Brasil, o Chumbita ligou-me novamente e perguntou-me: ‘Olha, eu só quero saber onde é que tu queres jogar?’. Eu disse que queria jogar no Benfica, mas o FC Porto ofereceu-me quase o dobro. A proposta é bem melhor. Depois soube que o presidente do Benfica queria falar comigo e, até então, nunca tinha falado com ele. O Luís Filipe Vieira ligou-me e fez a mesma pergunta: ‘Eu quero saber da tua boca onde é que tu, afinal, queres jogar?’. Eu respondi que queria jogar no Benfica, e se me oferecessem o mesmo que o FC Porto, eu jogaria no Benfica. O Vieira disse-me logo: ‘Então tu já és jogador do Benfica, está fechado’.

Estar no Benfica foi o ponto alto da tua carreira?

Sim, com certeza. Mas em termos desportivos, o momento que tive no Vitória de Setúbal foi muito bom. Consegui a Taça de Portugal, fomos a melhor defesa da Europa na 1.ª volta da época 2005/06… Tudo começou a partir daí.

Jorge Jesus marcou-me muitoPassados alguns anos e olhando para trás, o que mudarias na tua passagem pelo Benfica?

Eu acho que devia ter tido mais paciência do que a que tive. Tenho um temperamento muito forte e muitas vezes tomei decisões erradas em relação à minha permanência no clube. A rescisão de contrato também partiu de mim, porque eu tinha mais dois anos de contrato. O presidente não queria rescindir e queria que fosse emprestado, mas eu disse que não queria continuar vinculado ao Benfica.

O teu último treinador no Benfica foi Jorge Jesus. O facto de ele não querer apostar em ti, levou a que mais facilmente tomasses a decisão de sair?

Não, pelo contrário. Ele marcou-me muito e foi muito frontal. Em março, quando ele foi contratado, eu tive uma operação ao joelho. Já tinha informado o Rui Costa de que queria ir embora. Ele disse-me: ‘Não, porque o Jorge Jesus quer ver-te treinar’. Acabei por me apresentar e, por incrível que pareça, essa foi a minha melhor pré-época no Benfica. Depois Jesus chamou-me para falar e disse que quando chegou sabia que não era para contar comigo. Acabaram por contratar o Júlio César e havia ainda o Quim. Eu ou o Quim tínhamos de sair, mas acabei por ser eu a sair, devido às regras da UEFA. O Benfica não podia manter dois guarda-redes estrangeiros no plantel. Foi aí que pedi a rescisão, porque o Luís Filipe Vieira queria emprestar-me. Ele sempre foi impecável comigo e é uma pessoa que tenho como pai. Foi fantástico e, se calhar, se eu lhe tivesse dado ouvidos, teria tido uma vida bem melhor e mais longa no Benfica.

Notícias ao MinutoMoretto defendeu uma grande penalidade marcada por Ronaldinho

Muitos adeptos ainda guardam a imagem de um penálti defendido por ti frente ao Barcelona. O que sentiste quando defendeste uma grande penalidade de Ronaldinho Gaúcho, um dos melhores do mundo na altura?

Vou ser muito sincero. Eu tinha a certeza que ia defender aquele penálti. No balneário até comentei com o treinador de guarda-redes. Vai haver uma grande penalidade hoje e eu vou defender. Quanto à sensação...foi muito boa. Ainda para mais sendo no jogo que foi e contra quem foi. Até hoje é lembrado por muitas pessoas e são momentos que marcam.

Já terminaste a carreira. Olhando para trás, para todos os momentos, farias tudo novamente?

Eu mudaria muita coisa. Principalmente o meu lado explosivo. Às vezes tinha atitudes impulsivas que me prejudicaram bastante. Acho que 50% das coisas teria feito de forma diferente. Faltou-me alguma maturidade e uma pessoa ao meu lado para me orientar melhor também. Sempre geri a minha carreira sozinho.

Que planos tens para o futuro?

Hoje faço intermediação de transferências de jogadores. Por ter jogado aí na Europa, há muitas pessoas que me procuram. Tem sido uma experiência boa e continuo ligado ao futebol. Pretendo estar ligado à modalidade, mas não no relvado. Eu gosto de negociações e é isso que mais me atrai.

Confira o prognóstico de Moretto para o Clássico de sexta-feira aqui.

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