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André Fialho. Um português, uma meta: "Ser o melhor de todos os tempos"

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o lutador de MMA fala das dificuldades que tem encontrado nos Estados Unidos, que, garante, não 'beliscam' as metas que traçou para a sua carreira.

André Fialho. Um português, uma meta: "Ser o melhor de todos os tempos"

Nascido e criado em Cascais, André Fialho partiu para os Estados Unidos há cerca de ano e meio, em busca da glória na MMA. Com 22 anos, o lutador português admite que a busca pelo ‘american dream’ está a ser tudo menos simples, mas, tal como no octógono, não baixa a guarda e, em conversa com o Desporto ao Minuto, promete não parar enquanto não escrever o seu nome na história da modalidade.

A “mãozinha de Deus” que o empurrou para San José

Como enveredou pelo MMA, num país em que o futebol é desporto-rei?

Por acaso, na altura em que comecei a levar o MMA a sério, também jogava à bola [risos]. Tive de optar entre os dois e acabei por escolher o MMA. Joguei à bola desde pequenino, também fiz boxe, mas, quando tinha 18 anos, fui para o Algarve com o meu pai e conheci o meu treinador.

Foi uma paixão instantânea ou demorou a entranhar-se?

Foi uma paixão bastante rápida. Sempre gostei de MMA e depois de experimentar apaixonei-me pelo desporto. Sempre adorei a técnica, seja em que desporto for, e, nesta modalidade, técnica é coisa que não falta. Como costumam dizer, não escolhes aquilo por que te apaixonas, e eu apaixonei-me pelo MMA.

Como surgiu a oportunidade de rumar aos Estados Unidos?

Vim para os Estados Unidos com 21 anos. Fiz 21 no dia 7 de abril e no dia 25, apanhei o avião para Las Vegas. Vim para tentar entrar no Tuff, mas não consegui, então fiquei lá até dia 1 de maio. Depois apanhei o avião para San José, que era logo ao lado. Senti aquela coisa de ir ao AKA [ginásio onde treina], ainda por cima não tinha entrado, estava irritado para caraças e não ia fazer a viagem em vão. Parecia que tinha uma mãozinha de Deus a empurrar-me para vir a San José. Vim. Quando cheguei abriram-me as portas, receberam-me como se fosse parte da família, ainda me arranjaram um contrato com o Bellator para poder ter visto... Liguei para casa e disse que não ia voltar.

Foi difícil tomar essa decisão?

Custou e não custou. Na altura pensei: 'quero tanto isto, sei tanto o que quero', que nem hesitei. Mas custou-me, porque tinha uma vida do caraças em Portugal, uma qualidade de vida muito boa, e abdiquei de tudo por isto.

E vale a pena?

Vale, sem dúvida alguma. Uma vez ouvi uma frase e nunca mais me esqueci: "You have to be able at any moment to sacrifice what you are for what you will become" [Tens de ser capaz, a qualquer momento, de sacrificar aquilo que és por aquilo em que te vais tornar]. Interiorizei essa frase e é o que estou a fazer neste momento.

Foi complicado afastar-se, de um dia para o outro, da família e dos amigos?

Foi difícil, claro. Ainda por cima estou num sítio de que não gosto. Além da qualidade de vida que tinha em Portugal, toda a gente sabia quem eu era e todos me respeitavam. Tinha família, amigos, pessoas de quem gosto, que amo... Custou, claro que custou abdicar de tudo isso. Mas sei o que quero e onde quero chegar.

Camas partidas e escassez de meios não quebram uma mente decidida

Que nível de vida encontrou em San José?

Quando cheguei não foi nada fácil. É uma das cidades mais caras do mundo. Perdi toda a qualidade de vida, principalmente nos primeiros tempos. Já estou cá há quase um ano e meio e já tenho casa, carro... O meu carro custou-me quase mil dólares, é um Honda Accord de 1992, não é nada de especial.

Mas sente que a situação está a compor-se?

Passo a passo, as coisas estão a melhorar. O meu trabalho começa a ser mais reconhecido e, se calhar, vou assinar um contrato de patrocínio bom, que vai mudar a minha vida. Mas, até agora, não tem sido fácil. Faz parte. Não podia chegar aqui e ter logo um grande casarão, um grande carro. É bom para crescer como pessoa, como atleta, para dar valor ao trabalho e ao sacrifício. Houve um mês em que aluguei um quarto, cheguei lá e a cama estava partida, não tinha sítio para guardar a roupa, tinha tudo na minha mala. Tive o colchão dentro do carro durante dois meses, cheguei a não ter dinheiro para comer. Passei por momentos que não foram fáceis, mas faz parte.

Alguma vez lhe passou pela cabeça desistir?

Não, até pensei em dormir à porta do ginásio se não tivesse mais dinheiro. Agarrando as oportunidades, as coisas acontecem. Independentemente das condições ou da qualidade de vida, não ia sair daqui. Sabia que só precisava de uma oportunidade para demonstrar aquilo de que sou capaz e que, mais cedo ou mais tarde, as coisas iam melhorar. É o que tem acontecido.

A alimentação é um ponto-chave para a preparação de um atleta. Com tantas dificuldades, como lidou com isso?

Tento comer tudo o que é bom, saudável e energético. Preciso do meu corpo a trabalhar como se fosse uma máquina. Se encher o carro de porcaria e nem lhe meter óleo nem nada disso, ele também não anda como deve de ser. Normalmente cozinho em casa, apesar de ser bem mais caro do que comer fast-food. Por isso é que a maioria dos americanos são um bocado para o pesado [risos]... Tento comer bem, especialmente quando se aproximam lutas.

Como é o seu dia-a-dia?

Depende se tenho luta ou não, como sinto o meu corpo. Quando estou em 'train camp', treino por volta de seis, sete horas, se calhar às vezes mais. Aqui não tenho grande vida social. Eu sobrevivo. Até agora tem sido só sobreviver, não tenho dinheiro para andar a aproveitar a vida. Eu não vivo aqui, sobrevivo. Basicamente treino. É casa-treino, treino-casa, volta e meia vou à praia, quando consigo juntar um dinheiro ou outro.

Esse contrato de patrocínio de que falou pode mudar radicalmente a sua vida?

Pode mudar para bem melhor, vai ser um apoio mensal. Ainda não está nada fechado, estamos em negociações, mas, se for para a frente no próximo mês, vai mudar a minha vida. Vou começar a aproveitar a vida, que é o que não tenho feito até agora. Não é fácil, às vezes só dá vontade de ir para Portugal.

“Quero ser o melhor lutador de todos os tempos”

Sente-se uma pessoa diferente daquela que saiu de Portugal?

Muito diferente não. Tenho a minha personalidade, a minha maneira de ser. Mas sem dúvida que estou um bocado diferente. Cresci, como pessoa e como atleta, vejo as coisas de maneira diferente.

Como é que os seus pais olham para a sua carreira?

Ao início a minha mãe nem me apoiava muito, não queria que fizesse isto. Eu percebo. Mas estão orgulhosos do percurso que estou a fazer.

Tem sido fácil manter contacto com a família?

A minha mãe ainda não veio, o meu pai veio cá uma vez, o meu irmão veio cá às duas lutas que tive. Mas, em breve, isso vai mudar.

Sente-se apoiado pelo público?

Tenho muito apoio. É bom, motiva-me, dá aquela força extra quando não a tenho. No fundo, nem sempre tenho aquela força que aparento ter. Estou muito grato por isso.

A UFC é um objetivo a curto-prazo?

Tenho contrato com o Bellator. Quero ser o melhor lutador de todos os tempos. Tudo indica que a UFC vai continuar a ser a melhor organização de MMA, mas acredito que vim para o Bellator por alguma razão. Não vou sair daqui enquanto não tiver os dois cintos que quero ter. O que não falta é competição, tenho muito para crescer, principalmente na minha divisão, que é capaz de ser a melhor de todas as organizações de MMA. Agora tenho de me preocupar em ganhar o cinto de 77 quilos do Bellator, depois o de 84. Depois falamos do UFC, se continuar a ser a melhor organização.

É possível ser o melhor no Bellator ou é preciso dar o salto para a UFC?

Para ser o melhor, tens de estar na melhor organização. Neste momento, a melhor organização é a UFC. Não sei como vai ser daqui a um ano, mas tudo indica que vai continuar a sê-lo, mas por essa altura pretendo já ter os dois cintos do Bellator. Se a UFC continuar a ser a melhor, vou ter de ser campeão da UFC para ser o melhor do mundo.

O que é que os seus treinadores lhe dizem?

Já me disseram tanta coisa... Já me disseram que tenho potencial para fazer mais dinheiro do que alguém já fez no MMA, pelo peso em que estou, pelo meu estilo de jogo... O que traz dinheiro é o KO e eu ponho a malta a dormir, é esse o meu jogo. Disseram-me muitas coisas boas e isso é bom. O meu head coach é o Javier Mendez, é o único treinador que está no Hall of Fame do MMA. Ouvir as coisas que ele me diz... Já me disse que sou a pessoa que ele já treinou que bate mais forte. Tenho uma grande margem de progressão e é bom ver que não sou só eu a acreditar.

Sente-se respeitado pelos adversários?

Já tenho luta marcada, mas não foi fácil. Os atletas de topo não querem lutar comigo porque não tenho nome e sou demasiado perigoso. Os que não estão no topo, não querem porque, pronto... Mas tenho ouvido que sim, que a maioria dos adversários me respeitam e tenho tido várias lutas negadas.

A morte de João Carvalho

Cristiano Ronaldo é, atualmente, considerado o maior símbolo do desporto português. Acredita que vai ser o Cristiano Ronaldo do MMA?

Não, vou ser o André Fialho do MMA.

Como vê a modalidade em Portugal?

Quando treinava em Portugal, não havia grandes condições em termos de material e local. Mas há outro tipo de condições. A técnica é boa, os treinadores também, mas acho que diferença está na maneira das pessoas verem as coisas. Aqui, sinto que há mais mentalidade de campeão, aí não. Em Portugal, uns só querem dar espetáculo, outros lutam só por lutar. Parece que a ambição não é tão grande, mas está a desenvolver-se. Aqui é mais conhecido, há mais oportunidades... É diferente, acredito que vai melhorar bastante em Portugal e vou contribuir para isso.

Falando de um assunto mais sensível, como recebeu a notícia da morte de João Carvalho?

Ao início não queria acreditar. Quando soube que ele estava em coma, nem sei... Chorei um bocado, ele era meu amigo, treinei com ele durante muito tempo. Foi difícil. Mesmo nos dias que se passaram não conseguia interiorizar aquilo. Foram tempos difíceis.

Alguma vez pensou que isso lhe pudesse acontecer?

Não. Se tivesse medo não estava neste desporto. Não tenho a mínima dúvida de que sou o melhor, por isso é que estou aqui. Vou prová-lo.

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