"Na época passada, muita gente falava dele. Eu comecei a acompanhá-lo mais nesta e é realmente um futebolista que dispensa comentários. Na minha opinião, joga em qualquer emblema de ponto do mundo, tal como Inter Milão, Bayern Munique, FC Barcelona, Real Madrid, Arsenal e Manchester United. Cabe fácil em qualquer um e como titular, nada de banco", disse à agência Lusa o ex-avançado, que foi tricampeão pelo FC Porto (1996/97, 1997/98 e 1998/99) e fez 42 golos em 30 jogos rumo ao 18.º título do Sporting (2001/02).

Quase 53% da produção ofensiva 'leonina' em 2024/25 teve impacto direto de Gyökeres, que juntou 53 golos e 13 assistências e voltou a ser o 'artilheiro' da I Liga, com 39 tentos, 10 acima de 2023/24, época na qual teve 42 golos e 14 assistências em todas as provas.

"Fiquei surpreendido pela positiva. É um jogador diferenciado, com muita força e técnica, que protege bem a bola e tem uma capacidade de finalização impressionante. Assisti ao embate de estreia do Sporting na Liga dos Campeões com o Lille e [vê-lo no estádio] foi ainda mais surpreendente. Muito dificilmente o Sporting vai conseguir segurá-lo", vincou.

O nórdico, que completará 27 anos em 04 de junho, juntou-se a Fernando Peyroteo (seis distinções), Manuel Soeiro, o argentino Héctor Yazalde e o luso-brasileiro Liedson (duas cada) no lote de atletas 'leoninos' que repetiram o estatuto de melhor marcador da I Liga.

"Deve-se ao grande trabalho de equipa, aos treinos e à exploração das habilidades dele. Dificilmente alguém o derruba, só na porrada. Há que parabenizar o Gyökeres por esta excelente campanha, além de toda a direção e equipa técnica do Sporting pela conquista do bicampeonato", traçou Jardel, principal 'artilheiro' da prova em cinco ocasiões - quatro pelo FC Porto, sucessivamente de 1996/97 a 1999/00, e uma pelo Sporting, em 2001/02.

Apesar da gestão da sua condição física nos dois primeiros meses de 2025, num período em que falhou três jogos e foi suplente utilizado em outros cinco duelos, Viktor Gyökeres tornou-se o primeiro a ultrapassar a marca dos 34 tentos na I Liga desde o 18.º cetro do Sporting, quando Jardel ganhou a segunda Bota de Ouro da carreira, repetindo 1998/99.

"Quando começam a surgir assim tantos golos, costumam vir muitos mais. É sinal de que o Sporting tem feito um bom trabalho e a equipa trabalha para ele. O Gyökeres é um dos melhores e mais fundamentais, mas uma equipa não vence apenas com um jogador. Eu tinha João Vieira Pinto, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Ricardo Sá Pinto, Marius Niculae, Paulo Bento e outros ao meu redor na minha altura", lembrou, frisando o papel atual do extremo Francisco Trincão e do médio dinamarquês e capitão Morten Hjulmand.

O sueco encerrou a I Liga no primeiro lugar dos melhores marcadores dos campeonatos europeus, mas pode ser superado até ao fim da época, sendo que os seus 39 tentos só multiplicam por 1,5 pontos, para 58,5, ao passo que os das cinco principais ligas dobram.

Segue-se o ponta de lança francês Kylian Mbappé, com 29 golos pelo Real Madrid a um desafio do fim da Liga espanhola e 58 pontos, dois acima do extremo egípcio Mohamed Salah, que já anotou 28 e tem duas partidas pela frente com o campeão inglês Liverpool.

"O Gyökeres necessitou de fazer mais golos do que jogos e de se superar. Essa situação tem de mudar, até porque Portugal está no ranking dos melhores. A Bota de Ouro é uma fonte de motivação e uma marca própria. Quando se chega a um certo patamar, mais do que nunca queremos arrebatá-la. Entramos para a história do clube e da Europa e é uma honra extraordinária. Tive essa felicidade e era para ter vencido três Botas de Ouro, mas roubaram-me na pontuação de uma época que fiz pelo FC Porto [em 1999/00]", partilhou.

Jardel foi o quarto e último representante do campeonato português a ganhar a distinção, na sequência de Eusébio, em 1967/68 e 1972/73, ao serviço do Benfica, Héctor Yazalde, em 1973/74, com o Sporting, e Fernando Gomes, em 1982/83 e 1984/85, pelo FC Porto.

"Na minha opinião, fazer golo em qualquer lugar do mundo é difícil. É lógico que o futebol está mais físico e acredito que hoje é muito mais complicado marcar. Eu não tinha essa característica de lutar muito e fazer quase de parede [junto dos defesas adversárias], tal como faz o Viktor Gyökeres. Eu era mais de estar ali [dentro da área] a finalizar", avaliou.

Famoso pelos seus cabeceamentos, Jardel, de 51 anos, alerta que o sueco "passa longe de si" no jogo aéreo e "podia marcar mais se melhorasse isso", numa altura em que tem contrato até 2028 e uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros (ME), após deixar o Coventry, do escalão secundário inglês, por 20 ME fixos, mais quatro ME em variáveis.

"Mantê-lo? Dependerá do bolso do Sporting. Se fosse presidente, arriscaria mais um ano. Agora, ninguém é insubstituível. Na minha época, diziam a mesma coisa sobre mim, mas chegou outro jogador, que tem feito quase o mesmo. A vida segue, aparecem jovens e o Sporting tem bons analistas. Se o Gyökeres sair, encontrarão outro avançado", terminou.

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