Cristiano Ronaldo está no centro de todos os acontecimentos das últimas horas em Inglaterra. Na noite de quarta-feira o craque português surpreendeu tudo e todos ao abandonar o jogo entre Manchester United e Tottenham (2-0) aos 89 minutos - ou seja, antes do apito final -, e abriu um novo capítulo no autêntico pesadelo em que se transformou a sua segunda passagem pelos red devils. O United não tardou em reagir e menos de 24 horas depois emitiu um comunicado para confirmar que Ronaldo está fora do jogo com o Chelsea, numa decisão que surge em jeito de castigo. Mas há mais para contar. 

Os red devils não divulgaram mais detalhes, mas a imprensa inglesa foi lançando novos dados sobre os bastidores. Cristiano Ronaldo também terá sido afastado do plantel, passando a treinar sozinho, ao mesmo tempo que também foi noticiado que o craque português terá recusado disputar os minutos finais diante do Tottenham, momentos antes de decidir abandonar o relvado. 

A relação com Erik ten Hag está, assim, mais frágil do que nunca e em Inglaterra garantem mesmo que já não há volta a dar: Ronaldo terá que deixar Old Trafford em janeiro e Ten Hag ficará "feliz" assim que isso acontecer. O 'divórcio' até poderá acontecer a custo zero, com as partes a rescindirem contrato por mútuo acordo. 

Ao final do dia de quinta-feira, Cristiano Ronaldo recorreu às redes sociais para reagir publicamente à polémica que se instalou na véspera, e deixou uma garantia: irá continuar a dar tudo em prol do United. Pelo meio, reconheceu que às vezes se deixa levar pelo "calor do momento", mas também frisou que é o "mesmo profissional de há 20 anos" e que tenta ser um exemplo para os mais jovens.

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Assunto do dia em terras de Sua Majestade

A atitude de Ronaldo virou tema do dia e foram várias as vozes que comentaram o caso, sendo que a maior parte condenou o gesto de Cristiano Ronaldo em Old Trafford. Antigos jogadores e treinadores expressaram as suas opiniões e não faltaram os habituais comentários mais mordazes. No entanto, também, houve quem saísse em defesa do avançado português de 37 anos. A vitória do United ficou em segundo plano e o centro das atenções passou a ser Cristiano Ronaldo, mesmo não tendo somado qualquer minuto naquele jogo de quarta-feira. 

Neil Warnock, talkSPORT

"Eu faria duas ou três coisas. Se não fosse o Ronaldo, eu ficaria tentado a dizer aos meus pares: 'Olhem, ele vai embora em janeiro. Podemos deixá-lo sair já? Podemos enviá-lo para Portugal agora?' Eu acho que ao fazer aquilo até ajudou o Ten Hag, porque agora ele tem a simpatia das pessoas". 

Dion Dublin, BBC

"Eu provavelmente agarrava-o pelo pescoço e dizia: 'o que estás a fazer?' Tenho muito respeito por ele, acho que ele deveria ter mais minutos e poderia fazer a diferença, mas o jogo ainda estava a decorrer e os seus companheiros de equipa estavam em campo. O que ele está a dizer é que não se importa. Cometeu um grande erro esta noite [de quarta-feira]".

Nani, Stats Perfom

"Não sei o que aconteceu naquele momento. Talvez tenha precisado de ir à casa de banho... Toda a gente sabe que ele é um profissional, um grande profissional". 

Rio Ferdinand, Vibe with FIVE

"Ten Hag precisa de pensar muito bem sobre o que pretende fazer no próximo mercado de inverno. Se não vê Ronaldo como titular, tem de o deixar ir embora. Não é justo para ninguém - clube, Cristiano, Ten Hag ou para os jogadores - que depois de todos os jogos a história dos mesmos se resuma ao porquê de Ronaldo não ter começado no onze". 

Peter Schmeichel, BBC

"Sair assim cria tudo o que não queremos neste momento. Ele sabia que isto ia estar nas manchetes. É a primeira vez que posso dizer que estou desiludido com ele. Normalmente, apoio-o e entendo a situação dele. A questão aqui é que ele é um jogador tão grande, ele é uma presença tão grande. Devemos pô-lo a jogar ou deixá-lo sair? Não sei". 

Gabriel Agbonlahor, talkSPORT

"Ele tem 37 anos, teve uma carreira brilhante e é provavelmente um dos melhores jogadores a praticar esta modalidade. A sua equipa, que é suposto amar, está a jogar o melhor futebol que jogou em anos e despachou absolutamente os spurs. [...] Eles jogam melhor sem ele. Ronaldo entrou durante o jogo contra o Everton, marcou um golo e esteve bem, depois começou contra o Newcastle e fez um jogo pobre, foi retirado e teve um ataque". 

Patrice Evra, Amazon Prime Video Sport

"Eu acho que todos somos diferentes. Eu quero focar-me nesta exibição do United. Não se trata de proteger o Cristiano ou o lá que seja. Não sabemos o que ele disse a Ten Hag. Talvez precisasse de algum tratamento médico? Não quero arranjar desculpas, mas temos que parar de falar todos os dias sobre Ronaldo". 

Jason Cundy, talkSPORT

"É tudo para dar espetáculo. É por isto que eu não levaria o Ronaldo [para o Chelsea]. Ele é um jogador brilhante e vai continuar a marcar golos, mas esta é a razão. O Ten Hag ainda tem um problema com ele e janeiro nunca mais chega para Ten Hag poder transferi-lo. Ele quer sair. Há ali arrogância".

Pré-época ditou má relação com Ten Hag

A relação entre Cristiano Ronaldo e Erik ten Hag começou da pior maneira, com o craque português a estar ausente durante quase toda a pré-temporada do clube inglês. Com o United fora da Liga dos Campeões, Ronaldo recorreu a Jorge Mendes para, juntos, arranjarem uma solução que permitisse disputar a prova que mais ambiciona. No entanto, Ronaldo acabaria por não arranjar uma saída e teve mesmo que voltar a terras de Sua Majestade para cumprir a segunda temporada após regressar a Old Trafford. 

Mas nem aí os problemas acabaram. No primeiro jogo de preparação que disputou, frente ao Rayo Vallecano, Ronaldo foi titular, mas saiu ao intervalo e deixou Old Trafford antes do apito final. Sendo pré-temporada, a situação não assumiu grande importância, mas Ten Hag depressa deu a entender que Ronaldo teria que lutar para ter um lugar no onze titular. E assim foi. 

O Manchester United iniciou a temporada 2022/23 com uma surpreendente derrota caseira, diante do Brighton (1-2), e com Cristiano Ronaldo... no banco. No jogo seguinte, ante o Brentford (0-4) noutro marco negativo da temporada, os red devils foram goleados em 30 minutos, mas o craque português até foi titular. 

O United recuperou o nível nos jogos seguintes e a ideia de jogo de Ten Hag foi ganhando forma nos red devils, e com Cristiano Ronaldo a ter menos influência do que seria esperado e a passar a maior parte do tempo no banco de suplentes, tirando os duelos referente à Liga Europa. 

Sentado no banco, CR7 foi dando sinais claros de que as coisas não estavam bem. As reações do craque português eram mais do que notadas e os golos tardavam em aparecer. Na Moldávia, diante do Sheriff, em setembro, acabou com o jejum, e a 9 de outubro entrou, ainda mais, na história do desporto-rei ao marcar o 700.º golo ao nível de clubes, com uma bela finalização que valeu a vitória no reduto do Everton. 

O golo em Goodison Park parecia ser o ponto de viragem, mas tal não aconteceu. Ronaldo até foi titular nos dois jogos seguintes, mas frente ao Newcastle voltou a protagonizar nova reação polémica. Substituído aos 72 minutos, o avançado português não escondeu a frustração ao abandonar o terreno de jogo para dar o lugar a Marcus Rashford. Seguiu-se o duelo com o Tottenham, no qual abandonou Old Trafford antes do apito final. A corda parece ter rebentado. De vez.

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