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Uma campeã olímpica, distrações e... CR7. Aí está o Mundial de ski alpino

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Tina Maze analisou a evolução da modalidade ao longo dos últimos anos, e antecipou o desafio de ser a especialista do Eurosport para esta prova, que começa já no domingo.

Uma campeã olímpica, distrações e... CR7. Aí está o Mundial de ski alpino

É já no próximo domingo que a pista de Solden, na Áustria, irá receber a primeira prova da nova temporada da Taça do Mundo de ski alpino. Agora, se for como a larga maioria da população portuguesa, estará a pensar 'Mas como é que me vão convencer a acompanhar isto?'.

Foi, precisamente, com essa questão em mente que o Desporto ao Minuto chegou à fala com Tina Maze, vencedora de dois títulos olímpicos (ambos em Sochi, na Rússia, em 2014) e de quatro títulos mundiais (um em 2011, outro em 2013 e dois em 2015).

Afastada desta modalidade já desde 2017, a eslovena irá, agora, abraçar um novo desafio, enquanto especialista do Eurosport para a modalidade... isto apesar de não esconder que sente que ainda "conseguia derrotar algumas raparigas", se a isso se dispusesse.

Agora com 39 anos, a atleta natural da cidade de Slovenj Gradec explicou o que a atraiu para começar a praticar ski alpino, isto apesar de ter nascido no país que, só para enumerar alguns casos, viu nascer Jan Oblak, Luka Doncic ou Tadej Pogacar.

Pelo meio, lamentou que este seja visto como um desporto "arriscado", alertou para as distrações que se têm vindo a acumular nas mais novas gerações e apontou, ainda, Cristiano Ronaldo como um exemplo de que é possível competir no limite sem sofrer lesões.

Notícias ao Minuto Tina Maze conquistou duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Sochi, nas categorias de 'slalom' gigante e 'downhill'© Getty Images  

Vindo de uma pequena aldeia, quis sempre saber o que havia por detrás das nossas montanhas

Como convenceria alguém de Portugal, um país sem grande tradição no ski alpino, a investir o seu tempo nesta modalidade?

Penso que vocês gostam mais de surf, certo (risos)? É normal que se pratique o desporto que lhe é oferecido quando se sai de casa, mas, por vezes, o desporto pode ser divertido para viajar. Para mim, viajar foi sempre uma das coisas mais belas que pude fazer, graças ao ski. Neste momento, viajo para praticar surf, por exemplo. Estou a aprender um novo desporto, que não é típico no meu país, mas adoro aprender e viver novas experiências. Diria que, para alguém que nunca praticou ski, é uma oportunidade para viajar, para fazer desporto e para conhecer novas culturas.

Portugal não tem muitos locais para praticar ski alpino, com exceção da Serra da Estrela. Alguma vez praticou por cá?

Não... Mas, sendo pequeno, é perfeito para aprender a esquiar. Se és um iniciante, não precisas de grandes montanhas ou pistas complicadas. É a forma perfeita de testar, e, quando alcanças um certo nível, começas noutros locais. Tens de começar por algum lado. Eu também comecei em locais muito pequenos.

A Eslovénia é um país com tradição em modalidades como futebol, basquetebol ou até ciclismo, mas não tanto no ski alpino. Como é que uma jovem de 17 anos decidiu enveredar por este caminho?

Vindo de uma pequena aldeia, quis sempre saber o que havia por detrás das nossas montanhas. Viajar, para mim, era uma das coisas mais importantes, quando era jovem, e o ski era apenas uma ferramenta para viajar pelo mundo e conhecer outros países e culturas. É claro que, tendo uma pista de ski a 200 metros de casa, ajudou-me a trabalhar nas minhas capacidades. A partir daí, foi uma combinação entre ter sucesso, viajar e usar o meu talento para a minha carreira. Foi algo de muito espontâneo e natural.

Começou a carreira há mais de 20 anos. Sente que, neste período, a modalidade evoluiu muito?

Faz, agora, 20 anos que conquistei a minha primeira prova mundial. O quê? 20 anos? É muito (risos)... Graças à tecnologia, não só no desporto, como em outras áreas, podemos falar mais facilmente. Isso traz muitas coisas boas, mas também muitas coisas com as quais perdemos demasiado tempo e concentração. É assim no ski, como no desporto em geral. Temos de ter muito cuidado com a energia e a concentração que perdemos em coisas como redes sociais, fotografias... Quando comecei a esquiar, estava nas pistas sem telemóvel e não pensava em fotografias, mas penso que isso mudou um pouco com o passar das gerações. Acredito que os mais jovens preocupam-se mais com a fotografia em que ficaram bem ou com o vídeo mais engraçado do que com aquilo que a modalidade deveria ser. Mudou muito, e não tenho a certeza se isso é bom ou mau.

Isso também se aplica ao nível dos equipamentos?

A tecnologia e o desenvolvimento dos materiais está sempre a evoluir. Há sempre algo de novo, de mais rápido e de mais forte. Evoluímos, isso é normal. Uma vez que o ski é praticado com o corpo, e não com um motor que podes arranjar, estamos, talvez a pressionar os atletas a um nível demasiado elevado, e há demasiadas lesões no ski alpino. É a minha opinião. O corpo tem limites, e temos de conhecer os nossos limites. É claro que temos de os ultrapassar, mas há coisas que podem ser feitas com segurança. Isso é muito traiçoeiro, no ski alpino.

Foi o seu caso?

Eu nunca me lesionei. Provavelmente, fui uma pessoa que se ouviu a si própria. Tentei não me pressionar demasiado. O meu treinador dizia sempre que era 20% menos eficaz do que podia ser, mas escolhi a via segura. Não aceito lesões, e trabalhava sempre mais na prevenção. Se sentia medo, preferia não arriscar, porque é um desporto arriscado.

Cristiano Ronaldo também sempre teve esse cuidado, por exemplo...

Ele está a fazer um grande trabalho, porque está fisicamente preparado. Trabalha sobre isso. Se trabalhas assim, as lesões não aparecem. Podes proteger-te muito melhor.

Notícias ao Minuto Tina Maze é a nova especialista de ski alpino do Eurosport© Eurosport  

Treino muito e ainda sinto que conseguia derrotar algumas raparigas, mas há momentos

Como encara este novo desafio de comentadora? Não preferia estar do outro lado?

Não... Já dei o meu melhor durante a carreira (risos). Treino muito e ainda sinto que conseguia derrotar algumas raparigas, mas há momentos. E, neste momento, sou mãe, tenho uma filha de quatro anos e estar do outro lado, enquanto especialista, é uma grande honra. Há dois anos, estava afastada do ski alpino, não o seguia muito. Este ano, para mim, também é um novo desafio, para perceber como estão os atletas, como se têm preparado, se estão a trabalhar bem, quem será o favorito... É bom fazer parte da Eurosport, e estou muito grata por isso.

Quais são as suas expetativas para o arranque da nova temporada?

É muito difícil dizer quem será o favorito. Sei que a prova de Solden é muito dura. É, provavelmente, o 'slalom' gigante mais complicado de toda a temporada. Em primeiro lugar, porque é a uma altitude muito elevada. Precisas de uma boa preparação física, não é como se estivesses a esquiar a uma altitude de 200 metros. Em segundo lugar, é a primeira corrida. E, em terceiro, por um lado, estás entusiasmado e queres estar bem, mas fazer uma boa prova é muito complicado. Fazer uma exibição perfeita é... Aconteceu-me uma vez. Foram sempre sentimentos complicados, quando esquiava, nunca foi fácil. Não sei quem irá vencer. Há vários atletas que estão a esquiar bem, mas tudo pode acontecer.

Quais foram as suas referências no ski alpino?

Eu venho de uma aldeia onde há nove atletas olímpicos numa povoação de 3.000 pessoas, por isso, há uma grande tradição no desporto. Não houve campeões olímpicos, eu fui a primeira, mas seguir esta tradição foi muito importante. Em primeiro lugar, pela minha aldeia, e em segundo, pelo meu país. Internacionalmente, inspirei-me muito no Alberto Tomba e na Deborah Compagnioni. São italianos muito divertidos de se ver. Admiro todos os atletas que estão a um nível elevado, especialmente aqueles que não se lesionam, porque acredito que é possível. Infelizmente, o ski é visto como um desporto com um grande risco, do qual as lesões fazem parte, mas acho que as podemos prever muito bem.

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