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"Estava na Premier League e a proposta do Famalicão era irrecusável"

É treinador principal há três épocas, depois de ter deixado a equipa técnica de Marco Silva. Começou em Portugal com uma prestação de alta qualidade. Agora livre no mercado, depois de deixar o Boavista nesta temporada, João Pedro Sousa concedeu uma entrevista ao Desporto ao Minuto na qual falou sobre estudar, aprender e treinar, entre outras coisas.

"Estava na Premier League e a proposta do Famalicão era irrecusável"
Notícias ao Minuto

07:22 - 11/01/22 por Tiago Antunes

Desporto Exclusivo

João Pedro Sousa será sempre, de forma inevitável até, reconhecido como o grande obreiro da esplêndida época 2019/20 do Famalicão que surpreendeu o futebol português. A possibilidade de se ver uma versão portuguesa do Leicester City levou muitos ao delírio, mas o próprio técnico admite que, dentro do clube, os pés estiveram assentes no chão e que, independentemente do final da história, não aceitou que se falasse na palavra frustração.

Apesar da alta expectativa que se alimentou em torno do Famalicão, a época seguinte ficou bem aquém da anterior, saindo na rifa uma carta de despedimento. Seguiu-se o Boavista, no entanto, por pouco tempo, já que 16 jogos depois, o técnico de 50 anos deixou o clube axadrezado com uma "proposta irrecusável" em mãos. Ainda está a pensar no futuro, porém admite que tem estudado e aprendido, fundamental para qualquer treinador nas palavras do próprio.

O Desporto ao Minuto conversou com João Pedro Sousa sobre o dia-a-dia do treinador, sobre o próximo passo na carreira e ainda sobre a sua paixão maior: o treino. Apesar de não estarmos no ativo, estamos sempre ativos.

O João Pedro Sousa é um treinador livre neste momento. O que é que um treinador livre faz no seu dia-a-dia?

Eu aprendi desde muito novo que, seja qual for a profissão, há sempre qualquer coisa para fazer e qualquer coisa para aprender e para evoluir. O caso do treinador não foge à regra e é isso que eu faço. Procuro de alguma forma perceber aquilo em que posso evoluir, aquilo que posso melhorar, aquilo que posso corrigir e aquilo que posso até reforçar. Depois há uma série de questões que estão sempre a evoluir no mundo do futebol e tento manter-me o máximo atualizado possível sobre isso. Portanto, determinados dias ou semanas não deixam de ser preenchidas. Apesar de não estarmos no ativo, estamos sempre ativos.

Notícias ao Minuto [João Pedro Sousa deixou o Boavista nesta temporada, ao fim de 16 jogos]© Boavista FC

Portanto, é importante, apesar de estar de fora, manter-se atualizado e estudar as equipas das diferentes competições.

Claro, isso é fundamental, até porque nestes casos de treinador de futebol, de um dia para o outro, estamos numa equipa diferente, numa competição diferente, por vezes até num país diferente e temos de ter o mínimo de conhecimento ou então o maior conhecimento possível, quer dos jogadores, quer das equipas, quer das competições, para estar mais perto do sucesso.

Este período também serve para repensar muita coisa, para refletir, por exemplo, sobre a ideia de jogo utilizada, sobre a forma que tem adotado para gerir o plantel...

Tudo isso. Para dar um exemplo, sempre que estamos numa fase como esta, em que estamos de fora, que não estamos a trabalhar, eu e a minha equipa técnica reunimos com muita frequência e temos um plano extenso de debate desde as coisas macro até às coisas micro, para percebermos o que podemos mudar a todos os níveis. Referiu as questões mais técnicas e, de facto, isso também acontece, porque, independentemente de gostarmos de jogar de uma forma ou de outra, podemos encontrar contextos em que essa ideia não seja o ideal. Então, temos de estar preparados e encontrar outras formas de jogar e é disso que nós, como profissionais, temos de ter consciência. E quando se fala do jogo, fala-se também do treino, que é uma situação muito importante. Trabalha-se igualmente a evolução ao nível do treino. Portanto, se vamos alterar a nossa forma de jogar, muito provavelmente vamos ter de alterar também a forma como treinamos.

Quanto tempo demora um treinador sem clube a ter saudades de voltar a treinar?

24 horas [risos]. Quando faz a pergunta, fala especificamente em treinar?

É o trabalhar, o estar com a equipa, estar no balneário, sentir o ambiente do futebol.

Eu digo isto porque é diferente o jogo e o treino. Claro que o jogo é muito bom, o viver o jogo é bom, é um misto de emoções muito grande, emoções muito fortes, mas o dia-a-dia, o treino, muito sinceramente, é o que me apaixona e que gosto muito. Não é só o treino que se está a trabalhar, é uma série de questões. Há uma série de pessoas que trabalha connosco, e que está diariamente a evoluir no seu trabalho e a tentar que as coisas corram bem. Portanto, esse dia-a-dia do treino, de facto, deixa logo muitas saudades. 

A proposta que recebi do Famalicão era irrecusável e não foi pelo dinheiro, seguramente.O João Pedro comunicou, aquando da sua saída do Boavista, que tinha "uma proposta irrecusável de um clube estrangeiro". Como está esse processo?

De facto, existe a proposta. Felizmente, surgiram outras a partir do momento em que fiquei livre. No entanto, ainda não tomei uma decisão. Penso que estará para breve, até fruto daquela saudade de que falávamos há pouco. Portanto, vou tomar uma decisão a curto prazo, sendo que, aquilo que posso adiantar é que a probabilidade de ser lá fora, de ser no estrangeiro, é muito grande.

Para si, olhando para o futebol como um todo, o que é uma 'proposta irrecusável'?

O último critério, pelo menos no meu caso, é o critério económico. As pessoas podem pensar que, quando se fala de uma proposta irrecusável, trata-se só da questão económica, mas, felizmente, tenho uma carreira já longa e não tenho essa necessidade de pensar única e exclusivamente nesse aspeto. Claro que é importante e eu não posso esconder. Agora, há outras coisas que me estimulam. Às vezes as Ligas, o próprio clube, o contexto em que está o clube, aquilo que o clube pretende fazer no futuro imediato. Há uma série de questões... Vou dar um exemplo. Quando eu estava no Everton, estava na Premier League e estava num contexto fantástico e, no entanto, a proposta que recebi do Famalicão era irrecusável e não foi pelo dinheiro, seguramente. Teve a ver com aquilo que me propuseram, com a proposta e o estilo que me deram. Partiu tudo mesmo de um desafio e eu sou uma pessoa que gosta muito de desafios, e isso, para mim, foi irrecusável. Era algo que estava longe de ser económico e aquilo que me levou a sair do Boavista foi uma situação muito parecida com esta.

Notícias ao Minuto [João Pedro Sousa fez parte da equipa técnica de Marco Silva desde o Estoril até ao Everton]© Reuters

Falando mais propriamente sobre a passagem pelo Famalicão, cuja primeira época foi bastante marcante, a esperança de fechar a época com uma surpresa era grande ou os pés estiveram desde sempre bem assentes no chão?

Tivemos sempre noção de que estávamos a fazer as coisas bem e que, independentemente do resultado final, nunca poderia haver frustração ou pensar que o objetivo não teria sido de alguma forma cumprido. O objetivo foi totalmente cumprido. Aquilo que nós prometemos foi uma equipa a jogar bem, a jogar bom futebol, a dar bons espetáculos, a tentar ganhar mais vezes do que perder, e foi isso que aconteceu. Ganhámos mais vezes do que perdemos. Lembro-me de dizer que gostava que as pessoas olhassem para a equipa e que percebessem que era o Famalicão que estava a jogar, independentemente das camisolas, e isso também aconteceu. Conseguimos, de facto, com uma equipa extremamente jovem, dar a oportunidade a vários jogadores de seguirem as suas carreiras noutros patamares. Penso que foi amplamente conseguido aquilo a que nos propusemos no início da época.

Qual foi o segredo, se é que houve algum, para manter aquele bom momento da equipa?

Não houve segredo nenhum, para ser sincero. Foi um conjugar de vontades, de competências de várias pessoas, de vários departamentos do clube e conseguimos - e quando digo conseguimos, estou a juntar toda a gente, equipa técnica, jogadores, direção. Toda a gente conseguiu chegar onde queria e, talvez, até um bocadinho mais além.

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