A tricampeã nacional de surf, Teresa Bonvalot, está de regresso à Liga MEO Surf para a quarta e penúltima prova do campeonato nacional. Na Praia Grande, em Sintra, a jovem surfista que mora mesmo ali ao lado, em Cascais, tentará de sexta-feira a domingo dar o tudo por tudo para conseguir o melhor resultado possível.

A vitória, se acontecer, não terá em vista a revalidação do título nacional conquistado em 2020. A mente de Teresa Bonvalot está já alinhada para... Tóquio'2020. A ausência na última prova na Figueira da Foz aconteceu precisamente para a surfista de 21 anos tentar alcançar uma vaga nos Jogos Olímpicos. Vaga essa que Teresa não deixou fugir. 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, a tricampeã nacional revelou que garantir um lugar na maior competição desportiva do mundo foi "das melhores sensações de sempre" e nem a presença dos mais qualificados atletas em Tóquio a faz baixar a fasquia. Teresa Bonvalot tem bem presente aquilo que quer trazer do Japão: uma medalha. E não, não é uma qualquer. A tricampeã nacional e bicampeã europeia de juniores quer o ouro, porque como a própria afirma, "se não fosse atingível, não estaria neste desporto".

 Quero entrar no Championship Tour, ser campeã do mundo, e, para isso tudo, é preciso muita dedicação, esforço e paixão por aquilo que estamos a fazerQuais as tuas expectativas para esta prova em Sintra? Chegas a esta etapa, acredito eu, muito motivada pelos teus últimos resultados.

Completamente. A qualificação para os Jogos Olímpicos e a minha primeira vitória no QS (Qualifying Series) foram momentos muito marcantes e um objetivo concretizado. Estou nos Jogos Olímpicos, um torneio gigante, e sinto-me super motivada para o que aí vem. Este campeonato servirá de preparação e treino para os objetivos que realmente tracei para este ano. É um grande evento para treinar, ao lado de casa, as condições vão ser ‘pequeninas’, como se espera também nos próximos eventos, e vou testar o que tem de ser testado. Estou super ansiosa.

Abdicaste de uma prova nacional para tentar garantir uma vaga nos JO. Conseguiste e acabas por fazer história por estares presente a representar Portugal no primeiro ano em que o surf será modalidade olímpica. É ainda mais especial?

É das melhores sensações de sempre. Principalmente por tudo isso que disseste. É histórico… Estamos a falar da maior competição de desporto do mundo e eu vou representar Portugal, a minha nação, ao mais alto nível. Ter lutado até ao fim neste último evento, ter deixado tudo o que tinha dentro de água, foi super especial. Eu própria fiquei… [pausa]. Foi um conjunto de emoções intensas. Deixei a minha raça, dedicação e paixão dentro de água. Adoro competir e ir aos Jogos Olímpicos vai ser uma sensação única.

Quais as tuas ambições para Tóquio’2020? Determinaste alguma meta?

Sempre que entro em alguma prova dou tudo o que tenho com o objetivo vencer. O meu objetivo é conquistar uma medalha, e vou fazer o possível para trazer a de ouro para casa. Quero ir passo a passo, heat a heat, controlar tudo o que posso controlar, desfrutar e também poder surfar com os restantes atletas.

Acreditas mesmo que podes trazer uma medalha? Digo isto porque é a primeira vez que o surf fará parte dos Jogos Olímpicos e irão estar lá alguns dos melhores atletas…

[Interrompe a pergunta antes do final] Se não fosse um objetivo atingível, eu não estaria neste desporto. Acredito que tudo é possível. Acredito em mim, tenho estado a trabalhar imenso, e estou num patamar onde as coisas mais pequenas contam. Acredito que é possível e isso é o mais importante.

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Custou não estares presente na Figueira da Foz e hipotecar, talvez, as hipóteses de revalidar o teu título?

Os meus objetivos já mudaram desde a penúltima vez em que fui campeã nacional [2015]. Foi um momento ótimo para a minha carreira e para a idade que tinha, mas comecei a querer voar mais alto e a ter ambições maiores. Tento sempre ser um bocadinho melhor do que fui ontem. Comecei a pensar mais num panorama internacional… Sagrei-me bicampeã da Europa em juniores, e depois os meus objetivos começaram a ser maiores. Sempre que estou cá participo na Liga MEO Surf, mas os planos passam pelas provas internacionais.

Um dado curioso: Estamos em 2021, tens 21 anos e 21 provas vencidas na Liga MEO Surf. Perspetivas o futuro e tens alguma meta a atingir em termos de números, recordes… ou não pensas dessa forma?

Acho que nunca pensei muito nisso. Sempre que entro em qualquer prova, o meu objetivo é vencer. Nem a feijões gosto de perder, não é de agora, e as coisas acabam por acontecer de forma natural. Faço o que faço por mim, pelo gosto à competição. Os meus objetivos neste momento estão mais focados em atingir certo tipo de competições e não tanto em bater recordes. Quero entrar no Championship Tour, ser campeã do mundo, e, para isso tudo, é preciso muita dedicação, esforço e paixão por aquilo que estamos a fazer.

Habituada a vencer desde muito nova, o sucesso andou sempre de mãos dadas contigo. Contudo, certamente já existiram resultados menos bons e provas menos conseguidas. Como é que lidas com o sentimento da ‘derrota’?

Acho que ou ganhas ou ganhas, mesmo com a derrota. Nas derrotas aprendes imenso e é assim que eu olho para elas. Mesmo nas vitórias, há sempre algo a melhorar para o futuro. A derrota acaba por dar um alerta… Quer ganhe sabedoria ou experiência, ganho sempre algo. O mais importante em tudo é sempre olhar para o positivo de qualquer que seja a situação.

Ser campeã do mundo é um dos teus grandes objetivos, como afirmaste. É nisso que pensas sempre que te levantas para treinar e para surfar?

Acho que acaba por ser um pensamento que está sempre na tua mente. Alimento-me de objetivos que traço e acho que todas as pessoas deviam fazer isso, porque ajuda imenso o facto de teres um objetivo concreto a seguir. ‘Ok, eu quero isto, portanto tenho de fazer isto para lá chegar’. Desta forma tenho tudo muito mais certo na minha cabeça.

Teresa Bonvalot no ISA World Surfing Games 2021, em El Salvador, onde conquistou uma vaga para Tóquio'2020© Reuters