Meteorologia

  • 19 MARçO 2024
Tempo
15º
MIN 12º MÁX 21º

"O meu trabalho é um ato de resistência", diz Claire de Santa Coloma

A vencedora da 12.ª edição Prémio Novos Artistas Fundação EDP, Claire de Santa Coloma, afirmou hoje, em Lisboa, que o seu trabalho "é um ato de resistência", e "uma reflexão sobre o tempo", em defesa da lentidão.

"O meu trabalho é um ato de resistência", diz Claire de Santa Coloma
Notícias ao Minuto

14:56 - 19/09/17 por Lusa

Cultura Prémios

"O meu trabalho é como um ato de resistência. Toda esta velocidade que está à nossa volta faz parte do nosso quotidiano, mas o nosso ritmo de pensamento continua a ser o mesmo de há muitas décadas", sustentou a artista argentina de 33 anos.

Claire de Santa Coloma falava aos jornalistas no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), no final do anúncio prémio principal, no valor de 20 mil euros, e da menção honrosa para a também finalista Ana Guedes.

Para esta edição do galardão de iniciativa bienal, que visa revelar e apoiar talentos nas artes plásticas e visuais, tinham sido selecionados seis finalistas: além da vencedora, os portugueses Ana Cardoso, Bernardo Correia, João Gabriel, Ana Guedes e Igor Jesus.

Candidata ao prémio com a obra "Composição Eterna" de escultura em madeira, a artista - nascida em Buenos Aires e a residir em Lisboa há oito anos - disse aos jornalistas que a sua maneira de trabalhar "é uma reflexão sobre os tempos que estamos a viver".

"A lentidão não é sempre uma coisa má, nem a velocidade é uma coisa má. Este trabalho é uma reflexão sobre o tempo. Nem tudo tem de ser veloz", defendeu.

O júri internacional, que não alcançou unanimidade sobre a obra, sublinhou que esta "revela uma invulgar independência", é um "exemplo de dedicação, uma importante reafirmação de liberdade", e "transcende a sua própria técnica" artesanal em escultura de madeira.

A escultura em madeira de Claire de Santa Coloma esteve, nas preferências do júri, muito a par da escultura sonora de Ana Guedes, que acabou por receber uma menção honrosa.

"O meu trabalho implica tocar, portanto precisa de uma presença física. E hoje em dia passa quase tudo pela comunicação, as coisas são vistas por imagens digitais. E nem sempre as imagens estão de acordo com a realidade. Para mim, o mais importante é fazer a experiência da obra de arte", sublinhou ainda.

No quadro da velocidade que critica, a artista argentina falou nas pressões exercidas sobre os artistas: "Hoje em dia exigem aos artistas que sejam empresários, que paguem as contas, ganhem prémios", e que tenham "sempre ter um discurso construído". "Para mim, o mais importante é construir o trabalho em si".

Claire contou que veio para Portugal há oito anos "por amor", depois de ter estudado cinco anos em Paris, e acabou por decidir ficar em Portugal, porque "surgiram muitas oportunidades", nomeadamente a aquisição de uma obra para a coleção António Cachola, em Évora.

"Esta é uma grande oportunidade e reconhecimento do trabalho feito, fiquei muito contente com o prémio", disse, sobre a escolha do seu trabalho, realizado com "uma técnica muito tradicional de talha direta".

Ressalvou, no entanto, que o trabalho em si não se resume à técnica usada na madeira, mas "é sobre a própria escultura, como apresentar a escultura, e como vivemos com a escultura".

"A ideia era transformar o espaço expositivo num espaço de convivência tanto dos visitantes como das obras entre si", explicou, comentando que não esperava ganhar, e ficou entusiasmada.

Para o futuro, os planos de Claire de Santa Coloma passam por construir uma carreira definida pelo trabalho: "Essa é a minha maior responsabilidade. Eu quero continuar a ser fiel a mim própria, e ter qualidade no meu trabalho".

A artista estudou escultura de talha direta nos Ateliers Beaux Arts de la Ville de Paris, fez um mestrado de investigação em artes plásticas na Universidade de La Sorbonne, e frequentou o programa de Estudos Independentes da escola de artes Maumaus, em Lisboa.

O júri que escolheu o vencedor foi presidido pelo diretor do MAAT, Pedro Gadanho, e composto ainda pelo artista Eduardo Batarda, a diretora do Museu Gulbenkian, Penelope Curtis, o artista Bill Fontana e o co-diretor da Kunsthalle Lissabon, João Mourão.

O valor do prémio destina-se ao aprofundamento dos estudos ou à concretização de um projeto artístico específico pelo vencedor.

Nas edições anteriores foram vencedores Joana Vasconcelos, Vasco Araújo, a dupla João Maria Gusmão/Pedro Paiva, Carlos Bunga, André Romão, João Leonardo, Leonor Antunes, Gabriel Abrantes, Priscila Fernandes e Mariana Silva.

As obras dos artistas finalistas desta edição estão em exposição no MAAT até 9 de outubro.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório