Em comunicado emitido em setembro do ano passado, a editora anunciou a publicação de "Elsa -- Romance de costumes políticos portugueses", no dia 13 de fevereiro, quando se completam 52 anos sobre o assassinato do general Humberto Delgado, em Los Almerines, próximo da cidade espanhola de Olivença,
Todavia, um dos herdeiros de Humberto Delgado interpôs uma providência cautelar por causa da publicação da obra, explica a editora, esclarecendo que "o Tribunal da Propriedade Intelectual, na passada segunda-feira, considerou-a improcedente na sua totalidade, confirmando que a obra é da autoria de Humberto Delgado", lê-se no comunicado enviado à agência Lusa.
"A Guerra e Paz, ciente embora da sua legitimidade, entende que a publicação desta obra, de extraordinário valor e impacto social cultural e político, deve ser feita sem a sombra de qualquer conflito".
A editora sublinha que "está agora em condições de publicar esse surpreendente romance do homem que desafiou [António de Oliveira]Salazar".
Todavia, vai desenvolver "todos os esforços para chegar a acordo com as diferentes partes envolvidas, por forma a que a publicação da obra possa ser feita num quadro de consenso e que todas as atenções se possam concentrar no que mais importa, nas qualidades literárias da obra e no vibrante testemunho que ela encerra".
Em setembro do ano passado, em comunicado, a editora afirmou que se trata "de um romance inédito, de cariz marcadamente autobiográfico, escrito no exílio, há mais de 50 anos e, até agora, depositado no processo de Humberto Delgado no Arquivo Histórico da Força Aérea".
O romance é constituído por "185 páginas datilografadas em papel A4 que, segundo o seu neto e biógrafo Frederico Delgado Rosa, terão sido escritas entre 1959 e 1963, período em que Humberto Delgado viveu exilado, no Rio de Janeiro, depois de ter sido candidato da oposição nas eleições presidenciais de 1958".
A descoberta deste romance perdido de Humberto Delgado aconteceu durante os trabalhos preparatórios da exposição "General da liberdade e escritor", promovida pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), explicou na ocasião a editora.
"'Elsa' narra a relação entre um militar, Armando Dias, e a protagonista, que dá o nome ao romance, uma jovem cinéfila e intelectualmente curiosa, apesar da sua origem humilde, filha ilegítima de uma criada", adianta a editora.
"O romance mergulha os leitores num quadro de surda revolta social, de que as perseguições e as torturas da PIDE fazem parte integrante e sufocante", lia-se no comunicado.
A Guerra e Paz adiantava, então, o primeiro parágrafo do romance: "Já para a cozinha! Estúpida! Apontando a porta, insulta a jovem que ri, despreocupadamente, sentada no sofá. Ao increpá-la, tremem-lhe as adiposas curvas de matrona. De olhos parados, Elsa hesita em aceitar o vexame sem reação".
O editor da Guerra e Paz, Manuel S. Fonseca, sublinhou o facto "surpreendente" de se tratar de "um romance preocupado com a condição feminina e com o papel central da mulher".