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'Indecoroso', de Therese O'Neil, contesta visão "romântica" do século XIX

A investigadora Therese O'Neil, na sua obra "Indecoroso", contesta a visão "romântica", que vulgarmente se apresenta sobre o século XIX, cujo quotidiano não corresponde à imagem de época retratada pela arte, pelos livros e pelos filmes.

'Indecoroso', de Therese O'Neil, contesta visão "romântica" do século XIX
Notícias ao Minuto

14:15 - 11/11/16 por Lusa

Cultura Ensaio

Therese O'Neil faz estas afirmações na obra "Indecoro. O guia da dama vitoriana para o sexo, casamento e conduta", publicada pela Guerra e Paz, numa tradução de Miguel Nogueira, que apresenta numa escrita itinerante por diversos aspetos do quotidiano oitocentista.

A autora divide esta sua "viagem ao século XIX" em 14 temas, entre os quais o "vestuário", "baldes para evacuação intestinal", "a arte traiçoeira de tomar banho", "métodos contracetivos e outras afrontas a Deus", "ser uma boa esposa" ou o "vício secreto", como era descrita a masturbação, apontada como causadora de "insanidade e mamilos pequeninos".

"A civilização ocidental no século XXI não é perfeita, mas é bastante boa", salienta a autora, que justifica: "Comparativamente ao tempo das nossas trisavós, é mais do que boa; é como um conto de fadas de luxo, liberdade e igualdade de género".

Todavia, realça a investigadora norte-americana, as mulheres da era vitoriana -- referente ao período do reinado de Vitória de Inglaterra (1837-1901) -- foram as que deram "início à transformação".

"Nós temos este mundo porque aquelas mulheres vitorianas começaram a pressionar as paredes que as mantinham presas", escreve Therese O'Neil, rematando: "Um milhão de mulheres a 'cotovelar' ao mesmo tempo, ao longo de um grande período de tempo, podem criar um movimento profundo".

A autora realça os incómodos que existiam no século XIX e os preconceitos, em que as mulheres "ficavam com a pior parte", o que contrasta com o 'glamour' com que o quotidiano oitocentista é apresentado em filmes, romances e na arte, com heroínas sempre bem compostas, "um lugar de cavalheirismo e honra, beleza dourada e criadas divertidas", "um universo onde nunca precisa de fazer cocó" com "salões de baile com luzes radiantes e remoinhos de sumptuosos vestidos de seda".

Therese O'Neil enfatiza a falta de sanitários, o cheiro nauseabundo, os banhos frios, os casamentos por obrigação, tendo em vista os interesses da família, ou para "encobrir um primo homossexual", as péssimas condições de higiene, os mitos criados em torno da mulher -- a menstruação, a gravidez, a virgindade e a relação sexual.

Alerta a autora para o facto de o século XIX ter sido um período de "pobreza, guerra e exploração", e recorda as difíceis condições de vida e trabalho que a maioria das mulheres enfrentava, pois poucas podiam encarnar heroínas como as de "E tudo o vento levou" (1939), filme de Victor Fleming, baseado no romance homónimo de Margaret Mitchell, publicado em 1936.

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