Vestígios arqueológicos de Balsa ameaçados por atividade agrícola

Os vestígios arqueológicos da cidade romana de Balsa, localizada no concelho de Tavira, estão a ser ameaçados pelo retomar da atividade agrícola de uma empresa privada, cujos trabalhos tinham sido embargados em 2015, segundo o arqueólogo Manuel Maia.

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© Reuters

Lusa
30/10/2016 14:00 ‧ 30/10/2016 por Lusa

Cultura

Tavira

Manuel Maia, que participou numa das poucas escavações arqueológicas realizadas no local, em 1977, considera Balsa como "a maior cidade romana existente no território que hoje é Portugal", superando inclusivamente Olissipo (Lisboa), e critica a "falta de atuação das autoridades" durante dezenas de anos, em que os proprietários dos terrenos realizaram trabalhos agrícolas sem controlo, "destruindo vestígios arqueológicos únicos".

A zona em causa é uma área de cerca de 15 hectares, localizada na freguesia de Luz de Tavira (distrito de Faro) e inserida numa faixa de proteção do sistema lagunar da ria Formosa, onde se encontram vestígios arqueológicos da cidade romana de Balsa, detetados em 1866 mas sujeitos a poucas escavações arqueológicas.

A empresa espanhola Surexport, proprietária de uma exploração de frutos vermelhos no local, foi obrigada, em novembro de 2015, a "parar de imediato" os trabalhos para a construção de estufas, depois de um embargo ordenado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve por violação do regime da Reserva Ecológica Nacional (REN).

A empresa, com quem a Lusa tentou agora falar, sem sucesso, assegurou nessa ocasião que iria cumprir todos os requisitos legais exigidos pelas autoridades e estimou poder retomar a construção "em meses", previsão que, conforme a moradora Benedicte Travaux disse à Lusa, se confirmou "lamentavelmente" agora.

A Lusa questionou a CCDR do Algarve e, segundo uma resposta escrita do presidente do organismo, Francisco Serra, os serviços confirmaram, numa fiscalização realizada a 05 de abril passado, que "todas as estruturas para instalação de estufas ilegalmente cravadas no solo, na parte do terreno abrangida pela REN, tinham sido integralmente removidas".

A empresa cumpriu assim as determinações da CCDR para "repor a legalidade no local", acrescentou o organismo, precisando que "não emitiu qualquer parecer que reconheça à sociedade promotora do investimento agrícola legitimidade para a reinstalação das referidas estruturas na parte do terreno inserida em REN", a única sobre a qual disse ter competência.

A Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCALgarve) também revelou que deu "parecer favorável condicionado" à operação da empresa por, na zona em causa, não haver qualquer vestígio arqueológico detetado pelos trabalhos de diagnóstico realizados por técnicos contratados pelo proprietário e exigidos após o embargo de 2015 para se poder pronunciar.

Benedicte Travaux, francesa residente na zona, disse à Lusa que, além dos vestígios arqueológicos, há problemas ambientais causados pelo "lixo proveniente dos plásticos das estufas e outros materiais químicos, como pesticidas, que contaminam aquíferos" subterrâneos e "chegam à ria Formosa", danificando essa zona húmida protegida e parque natural.

Benedicte Travaux criticou o retomar de trabalhos agrícolas na zona e assegurou que fará "tudo o que estiver ao alcance" para evitar impactos ambientais negativos e a destruição do património arqueológico existente, a par de vizinhos e associações como a Tavira em Transição, que tem organizado iniciativas para sensibilizar a população e alertar a sociedade civil para o problema.

 

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