"É um filme sobre pessoas, porque as pessoas me interessam e são elas que fazem aquele território", explicou Salomé Lamas à agência Lusa, em Berlim, referindo-se a La Rinconada, uma aldeia remota nos Andes peruanos, a 5500 metros de altitude, onde a população vive da extração de minerais.
"Não há cidade habitada mais alta do que a Rinconada, que não está feita para [as pessoas] viverem ali. São cerca de 80 mil pessoas a viverem sem saneamento básico. Um dia na Rinconada está a destruir-te os pulmões. É uma cidade construída do desespero humano e isso é fortíssimo. Estamos a falar de um território que é quase uma terra de ninguém. Eu achei que tinha estado em terra de ninguém, com o [anterior documentário] 'Terra de Ninguém', mas claramente estava enganada", referiu a cineasta.
Salomé Lamas diz que o filme de não-ficção, estreado na segunda-feira, no Berlinale, não pretende fazer um "drama social", mas mostrar uma realidade, tendo a cidade mineira La Rinconada como personagem principal.
"Forneço uma série de dados para que um espetador minimamente ativo possa refletir e criar mais questões e procurar mais respostas. Mas há questões levantadas que são muito complexas e não têm resposta assim", explicou.
A equipa de filmagens, que esteve no local durante cinco semanas, teve de trabalhar com escolta policial, por questões de segurança.
"Foi a primeira vez que filmei com um polícia nas minhas costas e não é uma situação que me deixe muito confortável. Aparecer com alguém com uniforme não é eticamente correto. Mas os nossos condutores, dois peruanos, disseram que não conseguiam continuar, porque era demasiado perigoso. Todos os dias havia histórias de assaltos", lembrou a cineasta.
Salomé Lamas estreou "Terra de Ninguém", um longo depoimento de um antigo mercenário, comando militar durante a Guerra Colonial, na secção Fórum do Berlinale, em 2012, ano em que venceu o Grande Prémio do DocLisboa, com esta obra.
A realizadora regressa agora à capital alemã, com "Eldorado XXI", produzido por Luís Urbano e Sandro Aguilar.
O documentário volta a ser exibido hoje à noite e no próximo sábado, em Berlim.
Para esta 66.ª edição do festival de cinema de Berlim, que encerra no próximo domingo, foram selecionados oito filmes de produção portuguesa, três dos quais para a competição oficial.