Ensemble Bonne Corde grava pela primeira vez obra de António Pádua Puzzi

O Ensemble Bonne Corde, liderado pela violoncelista Diana Vinagre, gravou pela primeira vez uma obra do português António de Pádua Puzzi, num disco que vai ser apresentado em setembro em Lisboa.

violoncelo

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Lusa
13/08/2025 16:52 ‧ há 3 horas por Lusa

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"Trata-se, ao mesmo tempo, da estreia moderna desta peça", disse à agência Lusa a violoncelista Diana Vinagre.

 

O Ensemble Bonne Corde, fundado em 2009, tem uma geometria variável. Este disco foi gravado sob a direção artística de Diana Vinagre, que tocou um violoncelo histórico, emprestado pelo Conservatório Nacional, construído por Joaquim José Galrão, em 1788, na sua oficina em Lisboa.

A gravação contou também com a violoncelista Rebecca Rosen, os fagotistas Thomas Wesolowski e Kamila Marcinkowska-Prasad, a contrabaixista Marta Vicente, o organista Miguel Jalôto e as vozes de Ana Quintans e Raquel Mendes (soprano), Gabriel Diaz e António Lourenço Menezes (alto), Rodrigo Carreto e Fernando Guimarães (tenor) e Hugo Oliveira e Luís Rendas Pereira (baixo).

"Esta é a primeira vez que se faz a gravação de uma obra completa" de Pádua Puzzi (c. 1762-1807), uma vez que antes tinham sido apresentados em concerto "pequenos excertos de obras para os órgãos da Basílica de Mafra", disse Diana Vinagre.

O álbum, intitulado 'Messa a quatro voci, con Violoncelli, Fagotti, Basso, ed Organo (1793) de Anto´nio de Pa´dua Puzzi', resulta de uma investigação feita pela violoncelista para o seu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, sobre o violoncelo na música sacra no período clássico, de 1750 até 1834, coincidindo com o desmantelamento das capelas reais.

"A minha tese foi centrada na pesquisa deste repertório, tendo uma primeira parte sobre o violoncelo e o seu contexto histórico. O repertório solo para o instrumento neste período é muito escasso", afirmou a música, acrescentando que "nunca tinha sido feito este tipo de investigação".

A 'Messa a quatro voci, con Violoncelli, Fagotti, Basso, ed Organo' faz parte de um repertório musical sacro específico de Portugal, que não se encontra noutras partes da Europa, realçou Diana Vinagre, explicando que um dos fatores desta exclusividade do aparecimento deste repertório se prende com uma regra que vigorou até ao século XIX na corte portuguesa e que obrigava a que a música sacra fosse escrita para vozes e baixo contínuo (instrumentos graves).

Houve experiências noutros países de instrumentações fora da norma similares, nomeadamente em França e Itália, mas em nenhuma durou tanto tempo, pois em Portugal prolongou-se por várias décadas.

"Em Lisboa, [...] mantiveram a regra de escrita para voz e baixo continuo até muito tarde, até ao século XIX, com a dissolução das capelas reais, entretanto o baixo contínuo entrou em desuso e vigoravam os padrões estéticos clássicos. Os compositores da Patriarcal tiveram esta ideia, bastante engenhosa, de continuar a usar os instrumentos do baixo contínuo, alargando o efetivo, usando dois violoncelos e dois fagotes, contrabaixo e órgão", explicou.

A artista continuou: "Esses instrumentos que tocavam todos a mesma linha, passaram a ter linhas a solo para dois fagotes e dois violoncelos numa tentativa de, com os mesmos instrumentos, existirem mais vozes numa tentativa de imitar a textura da orquestra clássica".

Reconhecendo "ser difícil de datar" a utilização deste tipo de instrumentação, Diana Vinagre avançou com um período de tempo "entre as duas últimas décadas do século XVIII até às primeiras décadas do século XIX".

"A utilização de instrumentos graves solistas veio, de alguma maneira, por influência da música napolitana", referiu, justificando que "era um recurso usado em momentos de maior consternação do calendário litúrgico, como a Semana Santa, ou o Dia dos Fiéis Defuntos".

Diana Vinagre disse, ainda, que há "um arranjo anónimo para esta instrumentação do Requiem, de Mozart, que se encontra na Sé de Évora e que o Ensemble Bonne Corde conta gravar no próximo outono.

O concerto de apresentação do álbum está previsto para o próximo dia 26 de setembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, sendo antecedido por uma conferência pelo musicólogo Rui Vieira Nery.

O disco 'Messa a quatro voci, con Violoncelli, Fagotti, Basso, ed Organo, de Pádua Puzzi', sucede ao 'Lamentationes Hebdomade Sanctae', de Joseph-Hector Fiocco (vencedor do Prémio Play para a música erudita em 2023), e a 'Concerti Grossi', de António Pereira da Costa, todos sob a direção musical de Diana Vinagre.

Leia Também: Novo disco de Nancy Vieira e Fred Martins propõe fusão musical

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