Mais do que um documentário, este filme é um ensaio poético e ficcionado, que convoca atores, amigos e testemunhos para revisitar Natália Correia (1923-1993), figura incontornável da liberdade de pensamento e criação em Portugal, antes e depois do 25 de Abril, dizem os produtores, em comunicado.
Esta "viagem pelas múltiplas facetas de Natália Correia", de poeta a cronista, passando por dramaturga, editora, feminista, política e provocadora, é construída partir do enorme arquivo da autora e de lugares "onde ainda ecoa a sua ausência".
Neste filme, Rosa Coutinho procura não apenas reconstruir uma memória, mas reencontrar uma mulher movida pela liberdade, profundamente ligada à sua "açorianidade" e a uma ideia radical de poesia como gesto político, acrescentam.
"Intensificando relações semânticas entre planos da peça, do filme e os materiais do grande arquivo Natália Correia: fotografias, imprensa, crónicas, teatro, obra ensaística e poética... O que me interessou foi suspender o intervalo entre imagens-retratos, sons-retratos, poemas-retratos e decantar uma 'persona dramatis' que a morte não derruba: fica para sempre entre nós", afirmou a realizadora.
Entre 'castings' de atores, materiais de arquivo, poemas e testemunhos, "A Mulher que Morreu de Pé" tenta não encerrar Natália Correia numa narrativa fixa, mas antes deixá-la viver em toda a sua complexidade.
Com a participação dos atores Lídia Franco, Soraia Chaves, Joana Seixas e João Cabral, o documentário teve estreia na última edição do Olhares do Mediterrâneo e desde então tem sido exibido em vários festivais, como o Porto Femme 2025, no qual venceu o prémio de Melhor Documentário da Competição Nacional.
Do elenco fazem ainda parte Alexandra Sargento, Carolina Bettencourt, Hugo Mestre Amaro, João Araújo, Leonor Cabral, Leonor Coutinho Cabral, Maria Galhardo, Mariana Pacheco de Medeiros, Milagres Paz, Paula Guedes, Ângela de Almeida, Fernando Dacosta, Carlos Melo Bento, Victor Meireles, Sérgia Farrajota e Luís Alves de Sousa.
Este documentário ficcionado, apresentado como um "casting poético", move-se entre temas e materiais, "pondo a funcionar poeticamente uma máquina documental como um fluxo emocional, um comboio que não segue rumo certo, uma passageira que salta dele quando lhe apetece", explica Rosa Coutinho Cabral.
Nas palavras da realizadora, "é a origem destes saltos e a fuga ao rumo domesticado do mundo" que lhe interessa assinalar em Natália, "a poeta e antifascista toda a vida, movida pela liberdade contra qualquer forma de opressão".
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