"Está na altura de os africanos pensarem pela sua própria cabeça"

O  escritor angolano Pepetela apresentou hoje, em Luanda, o seu novo romance, 'Tudo-Está-Ligado', aproveitando o reencontro com os leitores para encorajar os angolanos e os africanos "a começarem a pensar pela sua própria cabeça".

"Está na altura de os africanos pensarem pela sua própria cabeça" -- Pepetela

© Lusa

Lusa
25/06/2025 22:44 ‧ há 5 horas por Lusa

Cultura

Pepetela

"Realmente já é a altura de, não só os angolanos, mas os africanos de modo geral, é altura de começarem a pensar e a trabalhar pela sua cabeça. Já é altura de não andarem a pedir sempre conselhos ao exterior", disse o autor aos jornalistas, à margem da sessão de lançamento.

 

Conselhos esses que "antes eram impostos" e agora já não são, "mas acaba por se pedir, [porque] estamos habituados a isso", afirmou Pepetela, frisando que "era bom olhar para dentro por uns tempos" e "pensar as nossas realidades", partindo da experiência africana, sem receio de ficar isolado.

Na sessão de lançamento, o autor refletiu sobre o título do livro e o sentido de ligação entre lugares e memórias que percorre a narrativa.

"Tudo aquilo que acontece deve ser percebido sempre num contexto global", afirmou, sublinhando que "Tudo-Está-Ligado" é uma expressão que ultrapassa o romance e serve também como chave de leitura do presente.

O livro, editado em Angola pela Kacimbo, do também autor Ondjaki, tem como protagonista o major Santiago, que, após um acidente, regressa à sua casa de infância em Benguela.

É ali, entre memórias familiares, encontros insólitos com um cão e um gato e a magia das tradições africanas que redescobre um passado interligado com o presente, numa viagem que vai desde a formação dos reinos no Planalto Central à atualidade de Angola.

Pepetela partilhou que o título do livro resultou de um debate interno durante o processo de escrita e que o romance esteve para se chamar "Santiago", mas acabou por fazer a ligação entre as várias personagens e percebeu que estava tudo ligado.

Revelou ainda que os hífens do título geraram resistências nos editores de Portugal e no Brasil, mas decidiu mantê-los como elemento essencial.

A cidade de Benguela, onde nasceu e viveu até aos 17 anos, surge como espaço central da narrativa, ilustrando a ligação afetiva com a infância e o território angolano.

Pepetela, pseudónimo literário de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, destacou também a importância que dá à História e à Sociologia, que sempre serviram de instrumento à literatura, já que "conhecer o passado é fundamental para conhecer a sociedade atual.

A obra foi publicada em três versões distintas: a original angolana, a portuguesa e a brasileira (adaptadas ao Acordo Ortográfico). "Mas o verdadeiro livro é este", disse, referindo-se à edição hoje lançada em Angola.

Questionado sobre o legado que deixa para o futuro, foi direto: "Os livros".

Pepetela, nascido em Benguela, em 1941, é um dos nomes maiores da literatura angolana e lusófona.

Foi guerrilheiro do MPLA durante a luta de libertação e mais tarde desempenhou funções como vice-ministro da Educação no período pós-independência.

A sua obra literária, iniciada nos anos 1970, aborda temas centrais da história e identidade de Angola num estilo marcado pelo realismo histórico, crítica social e elementos do fantástico.

Pepetela foi distinguido com o Prémio Camões em 1997 e o Prémio Especial dos Críticos de São Paulo, em 1993, entre outras distinções literárias.

Leia Também: Angola distingue mais 697 figuras nos 50 anos da independência

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas