O musical, que multiplica influências e conjuga expressões como jazz, blues, mantendo lealdade à raiz erudita, é apresentado, em versão de concerto, no próximo domingo, às 18h00, no Teatro Tivoli, em Lisboa, e no dia 28, às 21h30, no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz.
Em declarações à agência Lusa, a maestrina referiu-se à OSP, como a sua casa. O elenco é constituído pelos barítonos Luís Rodrigues e Diogo de Oliveira, e ainda os cantores Lara Martins, Mário Redondo e Sérgio Martins, mais a soprano Juliana Zara.
Joana Carneiro trabalhou este musical há seis anos com a OSP e grande parte do elenco, tendo convidado, para estas duas récitas, a soprano Juliana Zara, com quem trabalhou na Escócia e de cuja voz gostou, achando-a "adequada" para o projeto.
"Este musical é um bom exemplo da imaginação e da genialidade de Bernstein como compositor. É muito importante conhecermos a figura de Leonard Bernstein {1918-1990] como maestro, pianista, uma pessoa muito interessada na cultura de uma cidade como Nova Iorque, uma pessoa com influências literárias", disse Joana Carneiro à Lusa, acrescentando que "são também importantes as fontes de inspiração {do compositor], desde a literatura à cultura nova-iorquina, e os géneros musicais que fazem parte da sua imaginação".
"Nesta obra ouvimos tudo isto. É aliás um bom ponto de partida para a compreendermos. Ouvimos jazz, blues, conga, swing, ouvimos tantas influências, que transparecem também noutras obras [de Bernstein], mas 'Wonderful Town' é, certamente, um bom exemplo das confluências destas tradições e que fazem parte da genialidade deste compositor".
Um musical reflete o cosmopolitismo nova-iorquino, "mas fala também do sonho que tanta gente tem quando chega a uma grande cidade", sublinha Joana Carneiro. "Nova Iorque é a grande cidade para onde tantas pessoas vão para tentar vencer, é o 'american dream'".
O musical retrata o sonho de duas irmãs, Ruth e Eileen Sherwood, que vêm do estado de Ohio para a grande cidade tentarem "dar asas aos seus sonhos, uma como atriz, a outra como escritora".
"Uma narrativa muito fácil de compreender e de nos revermos também: o ultrapassar barreiras e conhecer pessoas", considerou a maestrina.
E que tem raiz na história real das duas irmãs McKenney, que na década de 1930 se mudaram de Columbus, no Ohio, para Nova Iorque, para tentar novas oportunidades.
Ruth sonhava ser escritora, e foi na revista The New Yorker que escreveu curtas histórias autobiográficas, que viriam a ser reunidas no livro de contos 'My Sister Eileen' (1938), sobre as aventuras das duas irmãs em Greenwich Village, e nas figuras curiosas do bairro de Nova Iorque onde viviam. A obra tornou-se um sucesso e depressa chegou aos palcos e ao cinema.
'Wonderful Town', o musical, parte da adaptação para palco dos contos de McKenney, por Joseph A. Fields e Jerome Chodorov. O sucesso na Broadway, em 1940, deu origem à primeira versão cinematográfica, dois anos depois, dirigida por Alexander Hall, com Rosalind Russell, mantendo o título original, 'My Sister Eileen'.
O musical surgiria em 1953, com libreto de Betty Comden e Adolph Green, abrindo portas a novas versões para cinema ('Há Falata de Homens', de Richard Quine, na estreia portuguesa) e televisão, a partir da peça original. O musical de Bernstein, no entanto, impor-se-ia por si mesmo.
A maestrina sublinhou à Lusa que 'Wonderful Town', além das tradições de Nova Iorque, reflete a própria música de Leonard Bernstein, a riqueza da sua escrita. Como exemplos, destacou a opereta 'Candide', inspirada no clássico de Voltaire, e o musical 'West Side Story', com libreto de Stephen Sondheim, a partir do romance de Arthur Laurents.
A maestrina chamou à atenção para "a forma sublime de escrever música e orquestrar" de Bernstein.
"Quando olhamos para esta 'Wonderful Town' há uma simplicidade e uma inevitabilidade dos grandes compositores. Mas por detrás disto há um 'craft', um saber, sobre o que é tocar em orquestra, o que são os instrumentos de orquestra, o que é escrever para orquestra e escrever para voz. O que tem a ver com toda a sua experiência não só neste domínio dos musicais como na ópera e no campo sinfónico", realçou Joana Carneiro.
Sendo uma versão de concerto, a que chegará ao Teatro Tivoli, em Lisboa, e ao Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, Joana Carneiro afirmou que se "juntam-se alguns aspetos cénicos que têm a ver com a própria narrativa, e há algumas partes faladas".
A maestrina Joana Carneiro, 48 anos, tem em agenda dirigir a Orquestra Metropolitana de Lisboa, no próximo dia 29, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, num concerto que tem anunciada a pianista Gabriela Montero, como solista, e um programa com "Os Planetas", de Gustav Holst, e "O Terramoto de Lisboa", de Armando José Fernandes.
Entre os vários compromissos internacionais da maestrina contam-se um concerto em Valladolid, em Espanha, com a Orquestra de Castilla-León, e a participação no Festival do Lincoln Center, em Nova Iorque, em agosto. Em outubro, deverá dirigir as orquestras sinfónicas de Baltimore, também nos Estados Unidos, e de Helsingborg, na Suécia.
"Faço o mesmo de sempre, música pelo mundo fora", concluiu.
Leia Também: Intérpretes, músicas do mundo e concertos na 'Gulbenkian 2025/26'