Tenor Luís Madureira celebra 50 anos de carreira com 'Modéstia à Parte'

O tenor Luís Madureira celebra 50 anos de carreira e apresenta-se com um recital, 'Modéstia à Parte', acompanhado por quatro músicos das áreas do rock e do jazz, a partir de quarta-feira, no Teatro S. Luiz, em Lisboa.

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Lusa
26/05/2025 10:37 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Teatro S. Luiz

"Um concerto com quatro músicos que tocam habitualmente rock ou jazz, uma experiência que nunca tive, e é um pouco um resumo destes meus 50 anos de trabalho", disse Luís Madureira, em entrevista à agência Lusa.

 

Lévi Martins (direção musical, voz e guitarra), Pedro Branco (guitarra), Diogo Arranja (percussão) e António Madureira Costa (baixo) são os músicos que vão acompanhar Luís Madureira.

'Modéstia à Parte' ficará em cartaz durante cinco dias, de quarta-feira até ao próximo domingo, no S. Luiz - Teatro Municipal.

Desta vez, Luís Madureira optou por um repertório ligeiro, embora parte significativa da sua carreira tenha sido dedicada aos repertórios clássicos de canção de câmara, como o 'lied' alemão e a 'mélodie' francesa.

À Lusa, Madureira admitiu que nesta escolha pesou sobretudo a "exigência" consigo próprio, por "não ter a mesma disponibilidade vocal" de momentos anteriores do seu percurso.

Do alinhamento de 'Modéstia à Parte', o espectáculo, fazem parte várias canções da dupla Michel Legrand e Boris Vian, canções do repertório de Charles Aznavour, de Friedrich Hollaender, também de Kurt Weil, com texto de Brecht, assim como a canção 'As time goes by', de Herman Hupfeld, outra de Joseph Kosma e Jacques Prévert, 'Les Feuilles mortes', e uma canção da Barbara.

Estes são alguns dos seus autores favoritos, "numa tentativa de chegar a um público diferente" daquele do 'lied' e da 'mélodie', da música erudita, que também interpretou.

O tenor adiantou à Lusa que durante o concerto falar-se-á da sua vida profissional e serão lidos textos já publicados sobre si, e algumas entrevistas que deu. Interpretará ainda algumas canções que cantou, contracenando com o ator João Jacinto.

Luís Madureira reconheceu ter desenvolvido uma "carreira muito diversificada", da qual salientou o seu desempenho de Domenico Scarlatti, na ópera 'Blimunda', de Azio Corghi, baseada no romance 'Memorial do Convento', de José Saramago, apresentada no Teatro Nacional de S. Carlos. Um 'papel' que lhe deu "um enorme prazer".

Do seu percurso de 50 anos, o tenor recordou igualmente os "muitos espetáculos" que fez com o encenador Ricardo Pais, que o iniciou na dramaturgia, o trabalho que fez com o encenador italiano Giorgio Corsetti, e ainda com Nuno Carinhas, Fernanda Lapa e Sandra Faleiro.

"Os espetáculos mais importantes que fiz foram com estes encenadores", declarou, acrescentando ainda Rogério de Carvalho.

Numa perspetiva sobre a sua carreira, disse: "O período mais rico da minha vida foi um período em que havia projetos especiais para mim, ou a criação de primeiras obras. Havia um financiamento maior do que existe agora, que se vive um período de grandes dificuldades. Mas do ponto de vista dos intérpretes, eu acho que o ensino melhorou muito, em todos os níveis, e isso é bom. Agora, [quanto a] saídas profissionais, é que é mais problemático. O financiamento é curto".

O período "mais rico" da sua vida profissional corresponde às décadas de 1980 e 1990, assegurou. Dá como exemplo o trabalho com a compositora Constança Capdeville, referindo "a criação e experimentação múltipla, em que foram associadas várias especialidades do palco, como a dança a interpretação enquanto ator e cantor, e as obras criadas para a [bienal de artes] Europalia [em Bruxelas em 1991] e a Expo'98", em Lisboa.

Além dos encenadores, Luís Madureira guarda também boas recordações, entre outros, do maestro Michel Corboz, lembrando o seu início de carreira no Coro Gulbenkian, e o convite que lhe endereçou para atuar com o Ensemble Vocal e Instrumental de Lausanne.

Os maestros Fernando Eldoro, que o "lançou significativamente na carreira de cantor", e João Paulo Santos, com quem trabalhou "em obras bastante difíceis, como a 'Façade', de [William] Walton", numa encenação de Luís Miguel Cintra, garantem também boas memórias a Luís Madureira.

À Lusa, o cantor disse que de, certo modo, neste recital, 'Modéstia à Parte', retorna aos tempos iniciais, "em que a música que mais se ouvia, à sua volta, era a francesa". Daí as escolhas de Barbara, Aznavour e das composições de Michel Legrand.

"Só canto textos de bons escritores", assegura, dando como exemplo Boris Vian, autor de quem gravou, no início da década de 1990, um disco com canções, incentivado por José Adelino Tacanho, então diretor do Festival de Música dos Capuchos - o festival "onde os intérpretes portugueses começaram a cantar um género de música que se articulava com a música clássica".

Referindo-se a esse período disse: "Houve uma necessidade, por um lado, e uma vontade dos programadores, de que o público aumentasse. Mas em contrapartida, ao longo do tempo, com a exceção da Fundação Gulbenkian, e aqui há alguns tempos do Teatro de S. Carlos, o recital clássico de canto e piano, de 'lieder' e 'mélodie', deixou de estar tão presente nas programações, e eu acho que o público, hoje, é muito mais desconhecedor deste repertório".

Sobre a produção musical, o tenor considera que "há imensa qualidade de intérpretes e autores".

O recital 'Modéstia à Parte', título que encerra "alguma ironia", como reconheceu à Lusa, foi criado no âmbito da Companhia Mascarenhas Martins, na Casa da Música Jorge Peixinho, no Montijo, com a qual trabalha há alguns anos.

"Gosto muito de trabalhar com eles. Têm uma linha de pensamento que me agrada, são muito rigorosos e, na maior parte, criam os seus próprios textos", disse.

A companhia, com sede no Montijo, é dirigida por Lévi Martins e Maria Mascarenhas.

Luís Madureira, 70 anos, completou o curso de Canto no Conservatório Nacional, na classe de Joana Silva, no início da década de 1970, e prosseguiu os estudos, como bolseiro da Secretaria de Estado da Cultura, em Londres, de 1979 a 1980, com Peter Harrison. Frequentou cursos de aperfeiçoamento com Max von Egmond, na Fundação da Casa de Mateus, e com Kurt Equiluz, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Apresentou-se como solista tanto em Portugal como no estrangeiro, em recitais e em elencos de ópera. Estabeleceu uma longa parceria com o pianista Jeff Cohen, para programas de 'lied' e 'mélodie'.

Ao longo da carreira, procurou explorar uma abordagem interdisciplinar do espectáculo, tendo sido um dos fundadores do grupo Colec Viva (1985-1992), dirigido pela compositora Constança Capdeville (1937-1992). Como ator, fez também teatro e cinema, tendo trabalhado com realizadores como Monique Rutler, Manoel de Oliveira, Ruy Guerra, e encenadores como Carlos Quevedo, Filipe La Féria, Luis Miguel Cintra, Cornelia Geiser, além de Ricardo Pais, Nuno Carinhas, Luís Miguel Cintra, Rogério de Carvalho, Giorgio Barberio Corsetti.

Um percurso eclético, como reconheceu à Lusa, que também se estendeu à programação de música, como aconteceu durante Faro - Capital Nacional da Cultura (2005), e à direção artística, como a do Estúdio de Ópera do Porto da Casa da Música, que assumuiu em 2001.

O ensino também fez parte do percurso do tenor, que foi professor no Instituto Gregoriano e na Escola Superior de Música de Lisboa, da qual está atualmente reformado. Sem projetos à vista, nomeadamente de um disco, Luís Madureira leciona aulas particulares de Canto.

O recital 'Modéstia à Parte' ressalta a sua característica de, "ao longo da vida, querer experimentar coisas muito diferentes", disse o tenor à Lusa, realçando o "grande trabalho de adaptação".

"Nunca me imaginei a dar um concerto com esta tipologia de músicos", concluiu.

Leia Também: 'Il trionfo del Tempo e del Disinganno' de Handel estreia-se em Portugal

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