Victor Vidal, de 32 anos, licenciado em História de Arte e professor no Rio de Janeiro, venceu hoje, por unanimidade, a edição deste ano do Prémio Leya, no valor de 50.000 euros.
A notícia apanhou-o de surpresa em casa, logo bem cedo de manhã: "Tomei um susto. Estava lendo um livro, tinha acabado de tomar o café da manhã. Estou muito feliz e contente pela homenagem, mas ao mesmo tempo não me parece real", disse o escritor à Lusa.
"Estou muito emocionado, nunca publiquei nenhum livro. Sempre escrevi, mas nunca tive coragem de mostrar o meu trabalho", contou.
Victor Vidal diz que o fator desbloqueador desse receio foi o facto de pela primeira vez ter sentido "que o texto tinha algo de importante" para si e para quem o lesse, na medida em que é "muito pessoal", embora não tenha sido vivido por si.
"Não há pássaros aqui" narra a história de uma mulher que recebe uma chamada telefónica sobre a mãe, com quem não tem boas relações há muitos anos, a dar conta do seu desaparecimento, relatou Victor Vidal.
Essa mulher regressa então à casa da infância para perceber o que se passou, acrescentou, explicando que "esta é a premissa da história", que nasceu de uma viagem que o autor fez a Amesterdão, onde visitou e conheceu a casa de Anne Frank.
"Conhecer aquela casa e ver onde as pessoas se esconderam teve um forte impacto em mim e comecei a pensar na necessidade de esconder, nos traumas de infância e em esconderijos".
O anúncio do prémio foi feito hoje pelo escritor Manuel Alegre, presidente do júri, que destacou a "coerência entre a escrita correntia, tão adequada à inserção de uma história invulgar, de grande violência e de segredos escondidos na aparente banalidade do quotidiano".
De acordo com a organização, ao galardão apresentaram-se 907 candidatos de 14 países, tendo sido a edição mais concorrida de sempre. Portugal, Brasil, Angola e Moçambique foram os países de onde vieram mais originais.
O Prémio Leya foi criado em 2008 com o objetivo de distinguir um romance inédito escrito em português, sendo o prémio literário com o maior valor pecuniário para romances inéditos em língua portuguesa.
No ano passado, por unanimidade, o vencedor foi o brasileiro Celso Costa, com a obra 'A arte de driblar destinos'.
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