António Luís Patrício da Silva César Machado, conhecido artisticamente como Tóli César Machado, lançou ao mundo, no passado dia 27 de outubro, o seu segundo álbum a solo.
Chama-se 'Noir' e, tal como o nome indica, é um estilo de álbum-filme, remontando aos tempos do preto e branco da década de 1940, das longas gabardines e dos chapéus, do drama e do romance.
Tóli César Machado fez carreira como baterista e fundador dos GNR, mas, nos últimos anos, tem também brilhado na sua carreira a solo, primeiro com 'Espírito - Contrário da Escuridão', em 2018, e agora com 'Noir'.
Ao Notícias ao Minuto, o artista multifacetado fala sobre os contornos deste álbum, das suas origens e do porquê de se focar tanto neste género cinematográfico.
Porquê este ênfase na estética dos anos 1940? O que é que o levou a escolher esta era?
É o meu género e estética cinematográfica preferida. Estudei cinema e sempre me atraiu este lado do cinema, o 'film noir', dos filmes de Jean Pierre Melville e outros como 'Dama Xangai', 'Underworld USA', etc. Em termos musicais e de inspiração leva-me para ambientes mais 'dark' e melancólicos onde eu me sinto à vontade.
Diz que os temas de ‘Noir’ “incorporam a essência da lusofonoia”. Pode desenvolver?
A essência da lusofonia encontra-se nas letras e nos cantores convidados. Um grupo de amigos habituados a escrever e a cantar fado – que eu considero a origem da música portuguesa e onde habitam os grandes letristas e poetas da nossa língua. Essa foi uma preocupação, tive um grande cuidado com a escolha das letras. O “fado” tem esse lado melancólico e 'noir' de que eu tanto gosto.
Todo o processo de criação do 'Noir' foi muito solitário, não só porque foi trabalhado durante a pandemia mas também porque a base musical foi toda gravada por mim
Pode contar-nos um momento caricato de que se lembre nas gravações deste álbum? Conta com a participação de muitos artistas diferentes…
O meu cão esteve presente em grande parte das gravações, mas não reagiu bem ao som do violoncelo aquando da gravação de um quarteto de cordas no tema 'Sul'. Tive de o expulsar da sala.
Todo o processo de criação do 'Noir' foi muito solitário, não só porque foi trabalhado durante a pandemia mas também porque a base musical foi toda gravada por mim. No meu estúdio de casa fui tocando os diferentes instrumentos e a base ficou gravada. Depois partilhei com o Rui Maia e juntos tratámos da produção.
A Marisa Liz e o Hélder Moutinho, por exemplo, gravaram a voz em Lisboa e eu acompanhei em direto a partir do Porto. Ela enviou três versões e foi difícil escolher a melhor. O Hélder estava a cantar uma letra dele e foi à primeira.
O Valter Lobo também foi à distância e resultou muito bem, foi uma surpresa. Assim como o Zeca Medeiros que, a partir dos Açores, recitou o excerto do poema 'À memória de Ruy Belo', de Eugénio de Andrade. Hoje em dia a tecnologia permite-nos trabalhar à distância, o que é muito bom. Comigo só gravaram a Ela Vaz, a Marcela Freitas e o Wallchoir.
Foi um processo de criação bastante interessante. Entreguei as minhas músicas aos letristas e cantores e o resultado final deixou-me muito orgulhoso/satisfeito.
As letras do Hélder Moutinho, Tiago Torres da Silva, Mário Alves, Vasco Barreto, Valter Lobo e do Edu Mundo, foram cantadas por Ela Vaz, Hélder Moutinho, Marisa Liz, Marcela Feitas, Valter Lobo e o Zeca Medeiros, que lê um excerto de um poema de Eugénio de Andrade, por altura do centenário do seu nascimento. Musicalmente convidei ainda o Ricardo Parreira (guitarra portuguesa), a Luísa César Machado (contrabaixo), a Ianina Khmelic (violino) e o Wallchoir.
Diferentes estilos e gerações, mas que fazem todo o sentido e muito acrescentaram ao 'Noir'.
Apesar de ser um projeto intimista, espero que tenha a aceitação por parte do público como os GNR têm
Lançou em 2018 ‘Espírito - Contrário da Escuridão’ e, agora, ‘Noir’. Que desafios novos lhe tem apresentado o trabalho a solo, comparativamente com o trabalho em grupo, nomeadamente com os GNR?
Este disco é uma evolução do disco anterior ('Espírito-Contrário da Escuridão'). No 'Noir' também assumi a produção, fui técnico de gravação e toquei praticamente todos os instrumentos. Foi um processo muito solitário, finalizado com muitas parcerias e convidados. Além disso, estamos a preparar a apresentação ao vivo, coisa que não aconteceu com o meu primeiro disco.
Comparativamente com os GNR, o processo de composição e gravação não é muito diferente. Mas depois passa por outro tipo de produção e, claro, tem o envolvimento e prestação dos outros elementos da banda. Num trabalho a solo a responsabilidade é maior, mas também há mais liberdade. Agora, o grande desafio será o palco. Apesar de ser um projeto intimista, espero que tenha a aceitação por parte do público como os GNR têm.
Escolheu ‘Calipso Amor’ para single de avanço… porquê?
Foi o tema que eu e a minha equipa achámos que seria mais radiofónico. Depois falei com o André Tentúgal para fazer o vídeo e o resultado não podia ser melhor. Encontrei no André alguém que também se identifica e gosta da estética 'neo noir' e rapidamente nos entendemos. Gravámos o vídeo numa tarde, e muita da sua beleza está naquele casal de bailarinos de tango que tão bem representa a tensão da música.
Cada um dos cantores do disco acrescentou algo à canção que lhes foi entregue
Que tal foi trabalhar com Ela Vaz?
Foi muito bom! É a cantora certa, no momento certo. É muito fácil trabalhar e compor para a Ela Vaz, é muito profissional, criativa e tem uma grande voz. É, sem dúvida, uma convidada especial: além de interpretar quatro temas no disco, vai comigo para a estrada.
Além da Ela, cada um dos cantores do disco acrescentou algo à canção que lhes foi entregue.
O concerto de apresentação está marcado para fevereiro… que planos tem para os quatro meses que nos separam desse dia?
Muitos ensaios, promoção do disco e, quem sabe, um ou outro showcase. Para já temos a data de Lisboa marcada, 24 de fevereiro no Cinema Roma/Fórum Lisboa.
Mas também vamos apresentar o disco no Porto. Em breve teremos a confirmação da data, assim como de outras. Pelo meio, e nos entretantos, também tenho concertos com os GNR, claro.
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