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"Olhar para a 'vida lá fora' simboliza fugirmos aos lugares comuns"

Janeiro e Paulo Novaes editam esta sexta-feira um novo álbum, argumentando a dupla que "o facto de ser um projeto que atinge o público de dois países diferentes, amplia as possibilidades da crítica". Os artistas deixam ainda um convite que aponta no sentido de se "olhar para a 'vida lá fora'.

"Olhar para a 'vida lá fora' simboliza fugirmos aos lugares comuns"
Notícias ao Minuto

09:00 - 20/10/23 por José Miguel Pires

Cultura Janeiro e Paulo Novaes

É editado, esta sexta-feira, o segundo álbum da dupla luso-brasileira composta por Janeiro e Paulo Novaes. Chama-se 'Protocolar, Volume 2' e é o seguimento de um trabalho de estúdio editado em 2020.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a dupla fala um pouco do novo disco, dos efeitos da pandemia da Covid-19 e dos últimos três anos na escrita, que ficou mais "protocolar".

"Olhar para a 'vida lá fora' simboliza olharmos para fora da nossa própria realidade e fugirmos aos nossos próprios lugares comuns", dizem Janeiro e Paulo Novaes, em alusão ao single de lançamento deste álbum, 'Vida lá fora'.

Já lá vão 3 anos desde o ‘Protocolar, Volume 1’. Que mudanças mais sentem na vossa forma de trabalhar juntos desde então?

Por muito que isto possa ser irónico… a nossa forma de trabalhar está cada vez mais protocolar. A grande diferença de 2020 para 2023 é a nossa organização, o nosso método de trabalho e como estamos a conseguir gerir os projetos de cada um - porque ambos continuamos com a nossa carreira a solo - em conjunto com o projeto que temos os dois, 'Protocolar'.

As repercussões da Covid-19 refletem-se [...] nomeadamente para a crescente desumanização do ser humano e este terrível hábito de olharmos uns para os outros de forma funcional e sob modelos de representação social

O mundo também mudou muito desde então. Covid, guerra na Ucrânia... Como é que essas alterações mexeram com a vossa escrita?

É verdade. A mudança que acontece no mundo inspira-nos a cada minuto. Torna a nossa escrita e composição mais densa e dá-lhe mais propósito. Já existia uma forte carga política metafórica no primeiro Volume, o segundo também a traz de forma mais leve, mas ainda assim metafórica.

As repercussões da Covid-19 refletem-se nos anos que estamos a viver, nomeadamente para a crescente desumanização do ser humano e este terrível hábito de olharmos uns para os outros de forma funcional e sob modelos de representação social, em vez de nos olharmos de forma horizontal e humana. As guerras são também um reflexo da celeridade e efemeridade com que vivemos - uma das canções do segundo Volume afirma:

'Nessa tempestade/ Tanta gente assim com pressa/ A vida na cidade/ Só ver quem nos interessa/ Dizem que é da idade/ Mas só vejo um pensamento/ É essa vaidade/ Que justifica esse tormento/ Muda essa mentalidade/ Tanta gente a se ofuscar na luz/ Muda essa mentalidade/ Tanta gente a sufocar na cruz'

Porque é que escolheram o single ‘Vida lá fora’ para dar o ‘sneak peek’ do álbum? O que é que tem de especial?

O álbum tem duas frases muito importantes para nós: “Se não viver, nunca vai saber” e “tem vida lá fora”.

Para nós, olhar para a “vida lá fora” simboliza olharmos para fora da nossa própria realidade e fugirmos aos nossos próprios lugares comuns, em prol duma desconstrução mental que todos necessitamos: é também um convite para olharmos para fora do ecrã, no qual estamos todos presos, cada um pela sua razão, por uma questão logística e prática.

O facto de ser um projeto que atinge o público de dois países diferentes amplia as possibilidades da crítica

O que é que este Volume 2 vai buscar ao primeiro? Ou é uma procura total de novos sons?

O volume 2 vai buscar ao primeiro volume a tonalidade. Foi construído todo sobre uma frequência composta por várias notas que nos sugeriam sempre Fá Maior, tonalidade em que acaba a última faixa do primeiro volume, 'Viver e Trabalhar'.

Que balanço fazem da receção dos públicos, tanto no Brasil como em Portugal, do primeiro disco em conjunto? E do novo single? Sei que já o interpretaram ao vivo, nos Anjos.

A receção do público foi muito interessante. O facto de ser um projeto que atinge o público de dois países diferentes amplia as possibilidades da crítica. Acho que um ponto interessante que tivemos que feedback é que o facto de ter, ao mesmo tempo, o português do Brasil e o de Portugal, deixa mais confortável a compreensão tanto paro o brasileiro quanto para o português. 

A gravação do álbum foi feita no Brasil, mas a ideia nasceu cá... O que é que vão beber a cada um dos países para depois implantar no disco?

Naturalmente as influências de cada um acabam ressoando na sonoridade do disco. A ideia é justamente unir a música popular brasileira e a canção portuguesa, o orgânico com o eletrónico, com uma proposta de brincar com as formas das canções.

É tudo fruto de uma grande amizade com muito respeito e admiração

Qual diriam que é a característica mais marcante deste trabalho em conjunto?

A característica mais marcante é a vontade de unir dois universos, que representam duas figuras de lugares distintos que juntos inauguram e propõem uma visão para além do mundo protocolar numa união de Brasil-Portugal e da canção em língua portuguesa. Em primeiro lugar, isso é tudo fruto de uma grande amizade com muito respeito e admiração.

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