"Inspiraram-na também os espaços e o cenário do vale de Massarelos, onde viveu, percorrido pelos Caminhos do Romântico, com a sua diversidade de percursos e as escarpas sobre o rio, tão defintivamente descritos no romance A Muralha [de 1957]", disse a artista Mónica Baldaque hoje na Fundação de Serralves, no Porto.
A filha de Agustina Bessa-Luís falava na sessão de abertura das comemorações do centenário de Agustina Bessa-Luís no Porto, prévia à inauguração da exposição "Uma Exposição Escrita: Agustina Bessa-Luís e a Coleção de Serralves".
"Espaços cénicos da história da cidade do Porto, que é património mundial [no centro histórico], cuja memória vai ser destruída pelo programa e projeto da nova ponte sobre o rio Douro", afirmou.
Mónica Baldaque fez este comentário após citar a obra da sua mãe: "Logo a partir do rio, sobem as congostas, os caminhos altos e rebeldes, as avenidas com as imobilíssimas tílias, os calços e tapumes, túneis sobre uma terrosa ladeira, um trecho de linha onde corre um comboio."
A escritora e pintora referiu-se diretamente ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da linha Rubi do Metro do Porto, divulgado na quarta-feira, citando que o projeto "causará um impacto negativo bastante significativo na paisagem e, sobretudo, cenicamente".
A ponte deverá passar ao lado da casa onde viveu Agustina Bessa-Luís, na zona do Campo Alegre, no Porto, que será servida por uma estação.
"No Porto, onde viveu mais tempo, inspiraram-na as pessoas com quem se cruzava por breves momentos, ou em laço de amizade mais duradoura. Inspiraram-na as famílias, as ruas, as casas, o clima, os dias mornos, húmidos, conservadores de histórias", tinha já recordado.
O EIA da linha Rubi do Metro do Porto admite que a nova ponte sobre o rio Douro causa um "impacto negativo bastante significativo" na paisagem e, "sobretudo, cenicamente", apesar de estarem previstas medidas de mitigação projetadas pelos arquitetos Álvaro Siza e Souto Moura.
O mesmo resumo refere, porém, que, "globalmente, a implementação do projeto, apesar de acarretar a ocorrência de impactes negativos na paisagem, não se constitui como uma disrupção inaceitável na paisagem da cidade do Porto".
Moradores do bairro de Massarelos, no Porto, temem que a nova ponte do metro e a sua construção, além de lhes "roubar" a vista, o sossego e a paz, lhes "abale" as casas onde vivem há 39 anos.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afirmou que o EIA da linha Rubi do Metro do Porto confirma as "preocupações" que tem vindo a manifestar relativamente à nova ponte sobre o Douro.
Já o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, disse hoje que o Estudo de Impacto Ambiental da linha Rubi do Metro do Porto não é "negativo" e que a inserção da ponte vai ser resolvida por dois dos "melhores arquitetos".
O presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, assegurou em 07 de outubro que a nova ponte da Linha Rubi vai ser feita e "será uma realidade".
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