Os Quatro e Meia caíram "de paraquedas", mas encontraram porto seguro

Os Quatro e Meia (que, na verdade, são seis) conversaram com o Notícias ao Minuto antes de pisarem o Palco NOS pela primeira vez, no arranque do segundo dia do NOS Alive.

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© NOS Alive / Arlindo Camacho

Daniela Filipe
08/07/2022 07:00 ‧ 08/07/2022 por Daniela Filipe

Cultura

NOS Alive

De conversa (e brincadeira) fácil, Os Quatro e Meia arrancaram o segundo dia do festival NOS Alive, metendo o Passeio Marítimo de Algés ‘a mexer’. Horas antes, o sexteto de Coimbra teve encontro marcado com o Notícias ao Minuto, onde deu conta das altas expetativas para a estreia no Palco NOS, assim como um ‘cheirinho’ sobre o terceiro álbum de temas originais que está por vir.

Formada por acaso num sarau de ballet, a banda é composta por Tiago Nogueira (voz e guitarra), Ricardo Liz Almeida (voz e guitarra), Mário Ferreira (teclados e vozes), João Cristóvão Rodrigues (violino), Pedro Figueiredo (bateria e percussão) e Rui Marques (baixo). Todos os elementos levam uma ‘vida dupla’, gravando aos fins de semana e, durante a semana, atuando enquanto médicos, engenheiros e informáticos. Ao Notícias ao Minuto, Tiago e Ricardo explicaram como é feita essa gestão, fazendo, nessa linha, um balanço do seu percurso desde a fundação do grupo, em 2013.

É a vossa estreia no NOS Alive. Quais as expetativas? Como é que se sentem?

Tiago Nogueira: As nossas expectativas são muito altas em relação ao público. Esperemos que as do público sejam mais baixas em relação a nós.

Porquê?

Tiago: Porque era um alívio do caraças. Assim vai ser sempre bom. Se as expetativas estão em baixo, qualquer coisa que aconteça as pessoas ficarão ‘olha, não estava à espera, sim senhora, nada mau, superou as expetativas’. Fora de brincadeiras, sabemos que há muita gente que está cá para ver, sobretudo, os artistas internacionais. Haverá também, obviamente, gente que nos quer ver; sabemos disso. Até porque aqui, em Lisboa, já nos habituaram a ser sempre um público impecável, que nos recebe muito bem.

Temos a sorte de fazer duas profissões que amamos, de verdade, e só temos de agradecer isso e aproveitar enquanto o podemos fazer

Sabemos também que vem gente de todos os pontos do país; o Alive é, provavelmente, o maior festival nascido em Portugal e, por isso, certamente que haverá muita gente preparada para ‘fazer a festa’, e isso é o essencial. Mesmo que não nos conheçam, que não conheçam a nossa música, se estiverem disponíveis para nos ouvir já será muito bom. Até porque, quem sabe, não saímos daqui com mais gente a seguir-nos e a gostar da nossa música.

Todos os membros do grupo têm outra ocupação, além da música. Como é que têm conseguido gerir as duas coisas? 

Ricardo Liz Almeida: Com muito custo, poucas horas de sono, mas com muita vontade, acima de tudo. Isto soa um bocado a cliché, mas ‘quem corre por gosto não cansa’ e, na verdade, acaba por ser mesmo isso. Temos muita sorte com as pessoas com quem trabalhamos, os nossos colegas de trabalho nas outras profissões, que conseguem sempre ajudar.

No meu caso, sou médico; o Tiago às vezes tem problemas de fazer uma urgência e conseguimos trocas de turno. Com a ajuda deles é fundamental. E, depois, a ajuda da família, porque percebe [o porquê de estarmos] pouco tempo em casa e que tenhamos um bocado esta vida de ‘correr’, fazer a A1 e a A25 quase todos os dias. Mas, no final, o balanço é extremamente positivo. Temos a sorte de fazer duas profissões que amamos, de verdade, e só temos de agradecer isso e aproveitar enquanto o podemos fazer.

Desde a vossa fundação que têm recebido muito carinho por parte do público. Como é que a pandemia influenciou a vossa relação com os fãs e o vosso processo criativo?

Ricardo: O processo criativo não mudou muito. Melhorou em termos de tempo, porque tivemos menos concertos, então houve oportunidade de fazer músicas com um ritmo maior. Em relação ao público, obviamente que aquela fase em que as pessoas puderam começar voltar a ir a concertos, mas com muitas restrições, foi estranha. Foi estranha porque se percebia que faltava ali aquele à vontade do costume das pessoas puderem mostrar-se, puderem abraçar-se, poder cantar sem máscara. Os primeiros concertos foram um bocado excêntricos nesse sentido, e sentimos que só a meio do concerto é que as pessoas se soltavam um bocado e a coisa fluía.

Isto soa um bocado a cliché, mas ‘quem corre por gosto não cansa’ e, na verdade, acaba por ser mesmo isso

Desde que as restrições foram levantadas, nota-se uma diferença muito grande em termos de ambiente no concerto. As pessoas estão, claramente, sedentas de música, de concertos, de festivais e de todo o tipo de cultura de entretenimento, e obviamente que ficamos muito satisfeitos. Até porque isto permitiu, de certa forma, termos um calendário de concertos este ano que ultrapassa tudo o que acontecia mesmo pré-Covid-19, e para a nossa equipa técnica, para a nossa agência, para a nossa editora, este é um prémio depois de uma travessia no deserto. Ficamos muito contentes que isto aconteça.

A nós, sai-nos ainda mais do corpo ter de fazer mais concertos, mas estamos a dar tudo por tudo para não recusar nenhum, porque queremos retribuir todo o trabalho que toda esta gente que faz parte da nossa equipa teve durante estes dois anos, e que foi muito mal pago para aquilo que eles nos habituaram sempre a fazer. São, realmente, todos muito bons e trabalham não só connosco, como com outros músicos que sofreram exatamente do mesmo mal.

Para quando um novo álbum?

Ricardo: Temos já as músicas pensadas para o próximo álbum, já começámos a gravar algumas; até já antecipámos dois dos temas que estarão nesse trabalho, o ‘Olá, solidão’ e ‘Amanhã’, que foi a música do Festival da Canção. No alinhamento [do NOS Alive] vamos tocar uma delas. Ainda não tivemos oportunidade de as fechar em estúdio, mas estamos a trabalhar nisso. Gostávamos muito de poder dizer às pessoas que ainda este ano vamos lançar o terceiro álbum, mas temos algum receio de não cumprir com o que estamos a dizer, portanto também queremos relativizar um bocadinho os timings. Vamos ver o que é que conseguimos fazer.

Há esta questão de termos muitos concertos até ao final do ano; normalmente, reservamos os fins de semana para gravar e, neste momento, acho que não temos nenhum fim de semana livre até outubro. Será muito complicado gravar só aos dias de semana à noite depois do trabalho – quase a fazer lembrar o nosso primeiro álbum, que era assim que o gravávamos e que deu o resultado que deu. Agora está aquela miséria que sabemos.

Também gostávamos, à semelhança do segundo, de ter uma outra participação de músicos que admiramos muito e que achamos que encaixam bem em alguns temas. Um deles é o Jorge Drexler, que ainda há poucos dias atuou aqui em Cascais, mas também músicos portugueses. Portanto, vamos ver o que é que o futuro nos reserva.

As pessoas estão, claramente, sedentas de música, de concertos, de festivais e de todo o tipo de cultura de entretenimento

Gostávamos de apresentar este futuro trabalho com essas participações porque achamos que enriquecem sempre não só a nossa música, como a música em geral. A música é para ser partilhada, é para ser vivida com mais pessoas, e se temos músicos que admiramos e com que nos identificamos musicalmente, obviamente que temos todo o gosto em que eles participem nas nossas músicas.

Qual é o balanço que fazem do vosso percurso? Como é que a vossa música tem vindo a evoluir?

Tiago: Temos tido a sorte de ir conhecendo cada vez mais pessoas na indústria, e vamos bebendo aqui e acolá e tendo acesso a instrumentos que antes não tínhamos. O primeiro disco é quase todo acústico. Entretanto, no segundo já começam a aparecer guitarras elétricas, bateria. E, à medida que vamos tendo acesso a esses instrumentos, começamos a perceber como usá-los sem estragar a essência da banda.

Uma das grandes lutas que tivemos ao início era termos perceção de que o estilo de música que fazíamos era para teatros, era para espaços pequenos, porque eram instrumentos acústicos e não tinham a intensidade, não tinham a dimensão para palcos deste calibre. E, portanto, houve aqui um crescimento, uma aprendizagem que fomos fazendo [sobre] o que é que podemos incluir nas nossas músicas sem estragar a forma como vemos a música.

Não quer dizer que por aqueles instrumentos entrarem estraguem alguma coisa; nós é que não os sabemos introduzir da forma certa. Foi um processo que até agora demorou bastante tempo, até começarmos a usar guitarras elétricas, uma bateria mais pop-rock, porque até aqui era uma produção super acústica. Tudo isso foi um processo longo que continuamos a fazer e esperamos continuar a fazer no futuro porque, na verdade, não éramos músicos. Caímos um bocadinho de paraquedas no mundo da música.

Ricardo: Quando o grupo apareceu, não tínhamos propriamente uma definição de som que queríamos atingir. Temos os seis origens muito diferentes no que toca a música, então cada um acaba por pôr o seu cunho. A matriz que temos é: se nos soar bem, pomos, de forma mais ou menos democrática. A questão da música é sempre muito complicada de catalogar, pelo menos eu acho.

O que é que o futuro vos reserva?

Ricardo: Nunca tivemos, e por isso também continuamos a não ter, objetivos muito definidos. Vamos seguindo um bocadinho aquilo que quem está à nossa volta nos proporciona e nos empurra para fazer. Nisso, o mérito vai todo para a primeira linha, que foi a agência que acreditou em nós ainda praticamente só tínhamos dois ou três originais e que, hoje em dia, simplesmente marca-nos na agenda que no ano que vem vamos fazer Altice Arena e acreditamos que é possível.

É muito nessa linha de raciocino que temos trabalhado. Já chegámos a pontos que nunca pensámos algum dia, quando começámos a tocar, sequer atingir. Tivemos um concerto no Estádio Cidade de Coimbra há 10 dias, na nossa terra, para 17 mil pessoas. Se algum dia julgámos sequer que passaríamos de concertos para 100, 200 pessoas? Nunca pensámos. Já chegámos a um ponto tão bonito, não podemos exigir muito mais. É deixar acontecer e o que vier será muito bem acolhido.

Tiago: Mesmo o NOS Alive; venho aqui há tantos anos. Se me dissessem, ‘olha, um dia vais tocar aqui’, eu diria ‘és completamente louco’.

Ricardo: Eu tinha bilhetes para ver Da Weasel no sábado e já não vou poder vir, chegámos a este ponto. Sempre fomos mais espetadores do que músicos.

Tiago: Para nós foi uma boa surpresa porque sempre fomos fãs do festival, portanto isso ainda torna mais apetitoso e especial podermos tocar aqui.

Leia Também: NOS Alive arrancou com pôr-do-sol dos Jungle e 'calor' dos The Strokes

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