A escritora e viúva de Carl Sagan, cientista que revolucionou o pensamento sobre a vida extraterrestre e criou a série 'Cosmos', em 1980, concebeu a nova temporada com o lusodescendente Brannon Braga, conhecido pelo seu trabalho em 'Star Trek'.
"Penso que temos a melhor história para contar. Uma história muito melhor que a pseudociência e a superstição", afirmou Druyan, considerando que 'Cosmos: Mundos Possíveis' elevou a fasquia em termos de animação e efeitos especiais.
A temporada sucede a 'Cosmos: Odisseia no Espaço', que se estreou em 2014, com apresentação do astrofísico Neil deGrasse Tyson, e foi desenhada como sequela da série original, 'Cosmos: Uma Viagem Pessoal'.
"É desanimador pensar que as pessoas ainda estão a optar pela versão da Terra plana ou pela astrologia, que não é verdade", disse, considerando que "as pessoas acreditam no que querem acreditar".
A diferença, afirmou, é que essas crenças estão a criar problemas sérios no combate à crise climática, "um dilema que exige que encaremos as consequências" a partir do conhecimento presente. "O facto é que se não começarmos a aceitar o que os cientistas nos dizem, a nossa civilização está condenada", avisou.
Ann Druyan, que foi casada com Carl Sagan desde 1981 até à sua morte, em 1996, coassinou com ele um artigo intitulado 'O aquecimento do mundo' para a Parade Magazine, a avisar sobre a morte dos recifes e o aquecimento dos oceanos nos anos oitenta.
"Os nossos cenários mais radicais já foram excedidos", contou Druyan. "Por isso é urgente e por isso é que fizemos 'Cosmos'".
No entanto, a escritora disse que os novos episódios, que voltam a ser apresentados pelo astrofísico Neil deGrasse Tyson, são otimistas. "Passámos esta temporada a imaginar não um futuro distópico, que é o cliché da cultura popular, mas um grande futuro, um que ainda podemos ter se fizermos a nossa parte", afirmou.
"Mostramos um cenário em que damos cabo de tudo, mas isso é apenas uma parte de um episódio. A maioria dos episódios são histórias da coragem e ingenuidade dos nossos antepassados, que conseguiram sair da escuridão".
Segundo Druyan, que ecoa a opinião de Neil deGrasse Tyson, "não podemos pegar nas pessoas pelos colarinhos e gritar que vamos todos morrer", porque essa abordagem não funciona.
Além disso, frisou, "a humildade da ciência reconhece que há coisas que ainda não sabe e que pode estar errada sobre coisas que pensa saber", uma vez que "não é arrogante" e apresenta-se de forma mais humilde "que muitas outras doutrinas religiosas e filosóficas".
Ainda assim, aquilo que os espectadores não vão encontrar na temporada é um embate com Deus. "Não é ciência contra a religião. Somos muito respeitadores da religião", sublinhou Brannon Braga.
A intenção é tirar a ciência dos compartimentos a que está votada na sociedade, considerada uma coisa de elites ou de livros para abrir na escola uma vez por semana. "O desafio do nosso tempo é começarmos a pensar na escala de tempo da ciência, não no próximo balanço e contas ou eleição", disse Druyan.
A escritora considerou que há uma espécie de "sonambulismo" na forma como a sociedade encara o dinheiro como a coisa mais importante para viver, uma "ficção em que todo o mundo acredita" que é "inútil num cenário de extinção".
Druyan disse que esta é a temporada "mais ambiciosa" de Cosmos, apesar de reconhecer que o trabalho original, de 1980, foi muito inovador e levou multidões para o campo científico. "Muitos cientistas que estão hoje a trabalhar foram atraídos para a ciência por 'Cosmos'", afirmou.
A estreia de 'Mundos Possíveis' está marcada para segunda-feira, 9 de março, às 22h10, no canal National Geographic Portugal.