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Seres fantásticos e paisagem transmontana em filme de Nuno Beato

As figuras de barro da ceramista Rosa Ramalho e a paisagem transmontana servem de inspiração para o imaginário de 'Os demónios do meu avô', primeira longa-metragem de animação de Nuno Beato, em construção em Lisboa.

Seres fantásticos e paisagem transmontana em filme de Nuno Beato
Notícias ao Minuto

06:13 - 20/10/19 por Lusa

Cultura Animação

No recém-inaugurado estúdio Cardume, cerca de uma dezena de pessoas está a compor o universo visual que servirá de base para este filme: A história de uma mulher que ruma à aldeia do avô para se reencontrar com o passado da família.

A ação, imaginada por Nuno Beato e escrita por Possidónio Cachapa, irá decorrer numa aldeia imaginária em Vale do Sarronco, povoada de humanos, animais e seres fantásticos inspirados no universo singular da ceramista Rosa Ramalho (1888-1977).

Nas mesas de trabalho espalhadas pelo estúdio estão a ser construídas maquetas de casas, árvores e adereços minúsculos, ensaiam-se movimentos de personagens e planeiam-se cenas. Apesar de já ter sido feito um curto filme para ser mostrado na angariação de financiamento, as filmagens da longa-metragem estarão concentradas no começo de 2020.

A partir de 400 quilos de uma massa semelhante a barro e outros materiais como esponja, arame, madeira e papel, os animadores projetam e constroem uma aldeia em miniatura, com microárvores, caminhos, telhados, alpendres.

Nas paredes do estúdio, onde em simultâneo se trabalham noutras produções de cinema de animação, estão perfis de personagens, crianças, adultos, demónios e caretos, e muitos animais, entre sapos, cegonhas, águias e gatos, que povoarão Vale de Sarronco.

A técnica principal será 'stop-motion' com animação de volumes. Por cada segundo de filmagem são precisas 12 fotografias de cena, para que, no final, haja a ilusão de movimento. Significa que o processo de trabalho será demorado e paciente. 'Os demónios do meu avô' só deverá chegar aos cinemas em 2021.

O filme fala sobre "a forma como nos relacionamos com o outro e o que é que o dia-a-dia, o trabalho, o 'stress', nos tira em relação a isso. Neste caso a relação é entre Rosa e o avô. [...] O filme começa no momento em que Rosa tem a notícia de que o avô morreu. Para para pensar e tem necessidade de voltar à aldeia, voltar à terra, daí este lado todo de barro da estética", explicou o Nuno Beato à agência Lusa.

O realizador, cofundador do estúdio Sardinha em Lata e autor de várias curtas-metragens de animação, contou que a personagem principal desta longa se chama Rosa precisamente por causa da ceramista Rosa Ramalho, "que tem um trabalho fantástico e um imaginário relacionado com demónios e com as aldeias".

No filme, "o avô de Rosa constrói personagens à semelhança das de Rosa [Ramalho], personagens que são a mistificação de quem o rodeia".

Enquanto os técnicos e animadores dão corpo ao universo do filme, Nuno Beato tem procurado financiamento para a produção.

"É muito caro fazer cinema de animação, porque envolve grandes equipas, profissionais formados, muito tempo, muita dedicação e obviamente tudo isto é um investimento muito grande", explicou.

Além do apoio financeiro de um milhão de euros do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), o filme acaba de ser contemplado com cerca de 300 mil euros do instituto homólogo de Espanha e a Sardinha em Lata tenta agora "abrir uma porta em França".

O orçamento atual do filme ronda atualmente os dois milhões de euros. "Parece o Euromilhões mas é o trabalho de muita gente mesmo", sublinhou Nuno Beato.

A montagem financeira é uma das razões para escassez de longas-metragens de animação em Portugal.

"Em Portugal, embora tenhamos alguma cultura de animação na curta, com prémios lá fora, esta entrada no mundo mais comercial, mesmo quando falamos de longas um pouco mais autorais, este mundo comercial ainda estamos a dar os primeiros passos. Este investimento do ICA é extremamente importante, mas é preciso ter os privados interessados em fazer chegar o cinema mais além", explicou o realizador.

Atualmente, com apoio do ICA, está em produção uma outra longa-metragem de animação, "Nayola", assinada por José Miguel Ribeiro.

Inaugurado no final de setembro, o estúdio Cardume, onde está a ser construído 'Os demónios do meu avô', tem curadoria da produção Sardinha em Lata e engloba ainda o estúdio de som Green Peak, o clube de desenho Sisu e a produtora Gomtch Gomtch, da realizadora Joana Toste.

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