As autocaravanas produzidas nos Estados Unidos da América podem estar a ameaçar as florestas tropicais do Bornéu, na Indonésia. O alerta vem das organizações não governamentais (ONG) ambientais Earthsight e Auriga Nusantara.
Em comunicado, a Earthsight - uma entidade sem fins lucrativos que se propõe a investigar e expor "crimes ambientais e sociais" - sublinha que a indústria de veículos recreativos, como autocaravanas, é "de longe a maior consumidora de madeira tropical nos EUA". Muita da madeira vem das florestas tropicais da Indonésia no Bornéu - habitat natural não só de comunidades indígenas, como também de espécies animais ameaçadas como os orangotangos.
Alegam estas ONG que há provas de que a madeira de lauan, muita dela proveniente de território indonésio, é utilizada em diversos componentes das autocaravanas, como os pisos, paredes ou tejadilhos. E estão em causa modelos de algumas das principais marcas.
Para chegarem a estas conclusões, a Earthsight e a Auriga estiveram vários meses a investigar o comércio, tendo começado por visitar o Bornéu. Também recorreram a registos de expedição e relatórios de empresas. Concluíram que, em 2024, uma empresa madeireira da Indonésia (PT Kayu Lapis Asli Murni) obteve 87 da sua madeira tropical nas zonas desflorestadas visitadas.
Metade terá sido exportada para as americanas MJB Wood e Tumac Lumber, que são importantes fornecedoras de madeira de lauan a fabricantes que, juntos, totalizam cerca de 86 por cento das autocaravanas comercializadas nos EUA. Também se apurou que os outros dois fornecedores de lauan à MJB Wood baseados na Indonésia compram madeira que é obtida a custo de desflorestar o Bornéu.
No entender da Earthsight e da Auriga "é impossível dizer com certeza que um veículo ou linha de produção em particular está a usar madeira proveniente da deflorestação da Indonésia". No entanto, consideram que os dados obtidos permitem deduzir que "é quase certo que a madeira indonésia de lauan/meranti importada pela MJB Wood e pela Tumac Lumber da PT KLAM e de outros fornecedores indonésios e vendida a clientes na indústria dos veículos recreativos inclui madeira da deflorestação no Bornéu".
Segundo as organizações ambientalistas, o impacto desta madeira é bem conhecido pela indústria, enquanto estão "facilmente disponíveis" fontes de madeira sustentável - mesmo que isso signifique um ligeiro aumento no custo de produção. Falam da abundância de toros de lauan provenientes de florestas indonésias geridas de forma sustentável.
Timer Manuring, líder da ONG Auriga Nusantara, alertou num comunicado: "A Indonésia já perdeu 23 milhões de hectares, ou 20 por cento, da sua floresta tropical desde 1990, num custo significativo para o nosso clima, ecossistemas e povos indígenas. A destruição tem de parar. As empresas nos Estados Unidos e em todo o mundo têm de agir para impedir a madeira da deflorestação na Indonésia de entrar nas suas cadeias de abastecimento".
Sam Lawson, diretor da organização Earthsight, referiu: "Os proprietários de autocaravanas amantes de natureza ficarão horrorizados por saber que o passatempo deles arrisca destruir florestas tropicais. As gigantes dos veículos recreativos da América precisam de sair dos anos 1980 e implementar padrões mínimos de sustentabilidade que outras empresas dos EUA têm em vigor há décadas".
O comunicado da Earthsight e da Auriga lamenta ainda o cenário encontrado na visita a florestas tropicais: "Onde recentemente estavam florestas luxuriantes, encontraram extensões áreas de terra despida, com maquinaria pesada a trabalhar no transporte de toros recentemente cortados".
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