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"Têm sido umas eleições aberrantes e ainda não estão decididas"

Embaixador dos Estados Unidos em Portugal está desapontado com a forma como os dois principais candidatos à Casa Branca se têm batido para ganhar as eleições.

"Têm sido umas eleições aberrantes e ainda não estão decididas"
Notícias ao Minuto

02/11/16 por Andrea Pinto

Mundo Robert Sherman

Escolhido por Barack Obama para representar os Estados Unidos fora do país, Robert Sherman mudou-se para Portugal em 2014 para assumir o cargo de embaixador. Em dois anos de mandato, provavelmente, nunca teve uma agenda tão cheia e a 'culpa' é das eleições norte-americanas, que a uma semana de levarem os eleitores às urnas, continuam a deixar a dúvida: quem será o próximo líder dos EUA?

Em entrevista ao Notícias Ao Minuto, Robert Sherman mostra-se desiludido com esta campanha eleitoral mas tem a certeza de que os norte-americanos votarão na melhor opção para levar o país “para a frente”.

Estas têm sido uma das campanhas eleitorais mais controversas da história dos Estados Unidos. Como tem acompanhado a corrida à Casa Branca?

Estou desapontado com o tom das eleições. Se me perguntar se eu tivesse filhos pequenos se ficaria orgulhoso por eles ouvirem as palavras e o tom que tem sido usado nesta campanha, a resposta é claramente ‘não’. A linguagem e a retórica não refletem os valores dos norte-americanos. Têm sido umas eleições aberrantes e fora do normal, que pouco refletem a forma como encaramos a nossa política.

E o que pensa sobre cada um dos candidatos: Hillary Clinton e Donald Trump?

Como embaixador não posso ter opiniões políticas. Do ponto de vista de um observador normal, o que posso dizer é que estão a apresentar visões bastante diferentes sobre onde acham que os Estados Unidos deveriam estar na comunidade mundial. Cabe aos eleitores fazerem a sua apreciação e decidir o que acham. Veremos isso quando votarem.

Mas qual deles acha que está mais capacitado para assumir o cargo?

Embaixadores não podem participar em campanhas eleitorais ou promover candidatos. A minha opinião pessoal em relação a estas questões não pode ser revelada. Apenas posso dizer que já votei.

Trump foi um candidato surpresa mas acabou por conseguir chegar longe. Acha que ainda tem hipóteses de ganhar?

Por norma, neste ponto das eleições, as pessoas já têm definido em quem vão votar. Esse não é o caso agora. A uma semana das eleições ainda se luta para tentar alcançar o número necessário de eleitores nos Estados para ganhar. Acho que há possibilidades para os dois candidatos. Alguém, uma vez, disse que ‘uma semana é uma vida inteira na política’, e a minha experiência diz-me que as coisas podem mudar neste curto período de tempo. Estas eleições ainda não foram decididas.

Se me perguntar se eu tivesse filhos pequenos se ficaria orgulhoso por eles ouvirem as palavras e o tom que tem sido usado nesta campanha, a resposta é claramente 'não'O candidato republicano tem perdido alguns dos seus apoiantes devido às polémicas em que se tem envolvido. Há quem defenda que será o próprio a promover estas polémicas para, de forma intencional, não vencer as eleições. Acredita nesta teoria?

É muito perigoso as pessoas apontarem motivos para a forma como outras pessoas agem quando não sabem o que se passa na sua cabeça. É preciso julgar os políticos e os candidatos eleitorais por aquilo que dizem e não por aquilo que se acha que eles pensam. Não sei o que está por trás daquilo que Trump ou Hillary dizem. O julgamento tem de ser feito com base naquilo que eles dizem e fazem.

Se Hillary Clinton ganhar considera que é por os norte-americanos acreditarem que é uma pessoa capaz para o cargo ou, simplesmente, porque não havia nenhuma outra opção melhor?

Nós votamos para um presidente de forma diferente da forma como votamos para qualquer outra eleição. Para os americanos, o voto presidencial é um dos atos mais íntimos. As primárias, que usamos para eleger os candidatos para representar o partido Democrata ou Republicano, são eleições em que votamos com entusiasmo. Uma eleição geral é algo muito mais frio e racional. Os americanos perguntam a si próprios quem é que tem a visão de um país onde gostaríamos de viver. E eu acredito que quem for eleito presidente será precisamente por isso.

Alegadamente, Vladimir Putin terá dito publicamente que apoia Donald Trump. O que sente em relação a isso, sabendo que as relações entre os dois países não são as melhores?

Tem de lhe perguntar a ele. Pessoalmente não sei se ele disse isso. O que Vladimir Putin pensa das eleições americanas tem muito pouco interesse para a maioria dos americanos.

Acredita que algum dos dois candidatos será capaz de substituir o seu antecessor Barack Obama?

Ninguém consegue substituir ninguém. As pessoas são diferentes, têm diferentes forças e fraquezas e não acredito que se vá votar em ninguém pensando nisso. Só há um Barack Obama tal como só houve um George Bush ou um Ronald Reagan. A questão não é olhar para o passado, até porque o mundo hoje está diferente daquilo que era quando Obama foi eleito. O importante é perceber se a pessoa que se vai sentar atrás da secretária está preparado para fazer o país andar para a frente.

Alguém, uma vez, disse que ‘uma semana é uma vida inteira na política’, e a minha experiência diz-me que as coisas podem mudar neste curto período de tempoQuais deverão ser as prioridades do próximo presidente?

A segurança é sempre uma prioridade. Os norte-americanos querem saber se estão seguros e penso que será essa sempre a prioridade do presidente. A segurança económica é a segunda prioridade.

Se continuasse como embaixador em Portugal com qual dos dois candidatos gostaria de trabalhar?

As coisas não funcionam dessa maneira. É o presidente quem convida o embaixador. O meu tempo aqui está prestes a chegar ao fim. Desde que vim para aqui, sempre foi claro que haveria um início e um fim e, infelizmente, já estou mais perto do fim do que do início. Tem sido uma experiência compensadora.

Os Estados Unidos tiveram, com Obama, o seu primeiro presidente afro-americano e pode agora ter a sua primeira presidente mulher. É um sinal de que as mentalidades estão a mudar?

Creio que as mentalidades estão a mudar e que o eleitor americano não vê os candidatos em termos da sua representação demográfica. Quando as pessoas votam Hillary ou Obama não o fazem porque estão a votar numa mulher ou num afro-americano. Votam em quem pensam ser o candidato mais qualificado. Nos Estados Unidos ainda somos uma ‘meritocracia’, ou seja, votamos pelo mérito. Dou um exemplo: no início das eleições para o secretário geral da ONU, os Estados Unidos preferiam que fosse uma mulher a ocupar o cargo mas, ao longo do processo, percebemos que António Guterres era o candidato mais qualificado para o lugar e foi nele em quem votámos.

E como estão os americanos em Portugal a viver e a acompanhar estas eleições?

Estão a acompanhar de forma muito próxima. Estão a vivê-la de forma apaixonada, dependendo do partido que apoiam. E, sinceramente, acho que também os portugueses estão a vivê-las de forma intensa. Acho que há um reconhecimento de que o presidente dos Estados Unidos não é apenas um lider no país mas em todo o mundo e as pessoas têm um grande interesse em querer saber quem será essa pessoa.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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