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"Portugueses acham país seguro mas ninguém está a salvo"

Vive há apenas dois anos em Portugal, mas tem já uma grande paixão pelo país. O embaixador dos Estados Unidos em Portugal é o entrevistado desta semana do Vozes Ao Minuto.

"Portugueses acham país seguro mas ninguém está a salvo"
Notícias ao Minuto

02/11/16 por Andrea Pinto

Mundo Robert Sherman

Robert Sherman, natural de Boston, nos EUA, chegou a Lisboa em abril de 2014 para desempenhar as funções de embaixador dos Estados Unidos da América. Com a confiança de Barack Obama, tem tido como principal missão promover os negócios bilaterais.

Convicto de que Portugal pode ganhar muito com o seu espírito empreendedor, o advogado de profissão está ciente, contudo, de que as limitações financeiras são muitas vezes um entrave ao país.

Veio para Portugal para assumir o cargo de embaixador dos Estados Unidos. O que o fez mudar de vida e vir para um pequeno país como Portugal?

Foi a oportunidade de servir o meu país. É um privilégio poder servir não só os Estados Unidos como o presidente Barack Obama e representar o meu país num país estrangeiro, o que torna o trabalho ainda mais importante. Em relação a Portugal, foi a minha primeira opção relativamente ao país para o qual gostaria de vir porque reconheço que existem aqui grandes oportunidades para expandir as relações bilaterais entre Portugal e os Estados Unidos, nomeadamente em áreas como o empreendedorismo, compromissos militares, entre outros.

Tinha então a oportunidade de escolher outro país se assim o entendesse?

Bem, não dizemos ao presidente para onde queremos ir, mas ele pede a todas as pessoas que pondera para o cargo de embaixador que lhe deem uma lista de países para onde gostariam de ir e Portugal foi a minha primeira opção.

E quais têm sido as suas principais preocupações enquanto embaixador?

Sem dúvida a questão da segurança. O terrorismo foi uma preocupação predominante durante o tempo em que aqui estive. Vivemos num mundo perigoso e percebemos que não existe nenhum país que esteja seguro neste mundo. Aprendemos isso nos Estados Unidos com o 11 de Setembro. Penso que a expansão das organizações terroristas significa que temos de trabalhar em coordenação uns com os outros, para assegurar que a segurança dos nossos cidadãos está garantida.

Portugal pode ser um alvo desses terroristas?

Absolutamente. Uma das minhas preocupações é que os portugueses acham que o seu país é seguro, quando nenhum país está a salvo porque os terroristas estão sempre em movimento. Não são necessárias grandes operações, basta indivíduos com armas para se fazer estragos consideráveis. Vimos isso em Orlando, San Bernardino ou Paris.

E como podemos evitar que isso aconteça?

É preciso tentar ir à raiz do problema. Criar oportunidades económicas, ver onde é que esse tipo de ataques tem tendência a acontecer. Estar atento a sociedades que são fechadas e que são menos abertas a questões de qualidade de vida, nomeadamente a das mulheres. É nesses sítios onde vemos o terrorismo a crescer. Do ponto de vista da prevenção, é necessário promover a cooperação internacional, partilhar informações, recursos e reconhecer que todos temos preocupações comuns que nos deviam tentar levar a trabalhar juntos.

Portugal foi a minha primeira opção relativamente ao país para o qual gostaria de vir porque reconheço que existem aqui grandes oportunidades

Uma da suas principais missões enquanto embaixador é promover as negociações bilaterais. Quais têm sido os maiores desafios?

Fizemos progressos consideráveis nas negociações bilaterais. A nossa forma de lidar com este assunto é tentar identificar os pontos fortes aqui em Portugal e tentar combiná-los com os interesses ou necessidades dos Estados Unidos. No plano económico há uma comunidade impressionante de empreendedores. Em termos de inovação é tudo de ponta. Isso significa que há aqui uma grande oportunidade de conciliar o empreendedorismo inovador português com os investidores, empresários e investigadores norte-americanos para ajudar a fazer crescer os seus negócios. Também em termos militares, Portugal não tem uma base militar muito grande, mas é extremamente eficaz. Os Fuzileiros são de primeira qualidade. A Marinha, a Força Aérea e o Exército, todos têm boa qualidade. Usar essas forças juntamente com a NATO e os EUA é uma forma de maximizar os recursos que são importantes em termos de compromissos mundiais.

As políticas portuguesas facilitam este tipo de negócios entre os dois países?

Sim. Temos uma relação muito forte e Portugal percebe isso e contribui para estas trocas. As limitações de Portugal são apenas financeiras, o que significa que não pode fazer tudo aquilo que gostaria. Nós olhamos para as oportunidades onde podemos ajudar a atingir objetivos comuns.

E com a experiência que tem, o que acha que Portugal pode fazer para superar essas limitações?

Isso é um problema para o Governo português e para os portugueses resolverem. Não conheço tão bem os problemas como as pessoas que vivem aqui, por isso deixo para elas e para os líderes políticos que elegeram a forma como devem trabalhar esses problemas.

Nestas negociações bilaterais quem pensa que pode ganhar mais: Portugal ou os Estados Unidos?

Nas relações bilaterais, como em qualquer negociação, o sucesso acontece quando ambas as partes ganham. Quando um lado ganha e o outro perde isso significa que a relação não é sustentável. Nas relações bilaterais é necessário procurar oportunidades em que ambas partes vejam vantagens para se comprometerem.

Há vinhos fantásticos, um clima agradável, bonitas praias, comida fantástica mas não há nada que se compare à amabilidade dos portuguesesÉ visível que tem uma afeão por Portugal...

Uma afeição não, um amor. Mas não diga nada à minha mulher.

Imagina-se a viver aqui o resto da sua vida?

Não. Penso que a minha casa está nos Estados Unidos e quando o meu tempo como embaixador chegar ao fim regressarei a Boston. Mas parte do meu coração ficará sempre em Portugal e espero ter a possibilidade de aqui regressar não só como parte daquilo que farei da minha vida a nível profissional como turista.

O que gosta mais em Portugal?

As pessoas. Há vinhos fantásticos, um clima agradável, bonitas praias, comida fantástica mas não há nada que se compare à amabilidade dos portugueses.

Foi um acérrimo apoiante da Seleção Nacional durante o Europeu de futebol. De onde surgiu a ideia de criar os vídeos de apoio à equipa das Quinas, que tanta visibilidade lhe deram?

Devo dizer que essa foi uma das grandes ideias desta embaixada. Tenho a sorte de ter uma equipa bastante dedicada. A equipa de relações públicas teve a ideia de criar os vídeos e nós pegámos nela e juntos tornámo-la numa coisa divertida. Mas havia também uma componente mais séria nos vídeos, que era a mensagem de que “se jogarmos juntos e com confiança consegue-se alcançar coisas muito boas”.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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