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"Acredito que posso mudar o 'mindset' português e fazer-nos pensar maior"

Tim Vieira, empresário e fundador da Brave Generation Academy (BGA) - que é, também, candidato à Presidência da República - é o convidado desta quinta-feira do Vozes ao Minuto.

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Ema Gil Pires
13/07/2023 09:30 ‧ 13/07/2023 por Ema Gil Pires

País

Tim Vieira

"A educação precisava de voltar a ficar relevante para os nossos alunos”. A declaração é do empresário Tim Vieira, que ganhou visibilidade no papel de ‘tubarão’ do programa ‘Shark Tank’, da SIC. Entretanto, criou um projeto já presente em vários países - a Brave Generation Academy (BGA) - que pretende promover a mudança que julga necessária no sistema de ensino, dando aos alunos a oportunidade de ter acesso a um currículo mais flexível e mais voltado para os seus interesses e características próprias.

A ideia surgiu, explicou o empreendedor nascido na África do Sul em declarações ao Notícias ao Minuto, com base na premissa de que continua a apostar-se, nomeadamente em Portugal, numa “educação tradicional que já não é relevante para o mundo em que vivemos e para o mundo que está por vir”. A principal “competência” que é preciso ser trabalhada num contexto como este? “Ser humano”, frisou. 

Porém, as críticas que tece ao sistema de ensino vigente não dizem apenas respeito a Portugal - país onde considera que o “modelo educativo ficou parado no tempo”. Aliás, na ótica de Tim Vieira, “o mundo inteiro está com problemas na educação”.

Por considerar que Portugal precisava de “ter pessoas muito mais sérias a liderar”, o empreendedor anunciou ainda, recentemente, uma candidatura à Presidência da República nas eleições de 2026, assumindo o compromisso de querer “trabalhar com todos” os partidos para levar o país a “pensar maior”.

A educação precisava de voltar a ficar relevante para os nossos alunos

O Tim é o rosto fundador da Brave Generation Academy, um projeto que defende “que a educação precisa de mudar”. Mudar em que sentido?

A educação precisava de voltar a ficar relevante para os nossos alunos, porque estamos num mundo que mudou muito e continuamos com uma educação tradicional que já não é relevante para o mundo em que vivemos e para o mundo que está por vir. O que a nossa academia quer fazer é começar a preparar os nossos alunos para o mundo de hoje e de amanhã, começar a fazer com que eles sejam mais responsáveis a partir de uma idade mais jovem, deixá-los trabalhar em equipa e em maior interação com os seus pares, começarem a pensar mais fora da caixa, retirando a ansiedade e garantindo um maior bem-estar. Porque só assim podemos dar-lhe mais oportunidades.

A ideia passa, então, por ajudá-los a desenvolver novos tipos de competências?

Exatamente. Os nossos pilares são ‘knowledge, skills and comunity’ (‘conhecimento, competências e comunidade’). Até porque já percebemos que o futuro vai ser sobre pessoas com competências. E quanto mais cedo começarmos a trabalhar nisso, melhor é para ficarmos especialistas naquilo em que queremos trabalhar ou em que queremos ser bons.

Nova geração vai querer líderes que sejam honestos, com ética e com valores, e que respeitam todos, em vez de orientarem a atuação por alguns lóbis

Que competências são mais importantes de desenvolver neste que é um mundo em mudança?

A competência de ser humano. De conseguir trabalhar com outras pessoas, de conseguir fazer ‘network’, de conseguir falar e expor o seu ponto de vista a outras pessoas, de poder trabalhar em equipa e em espírito de cooperação, de poder trabalhar em comunidade. Tudo isso, que antes era algo quase normal, perdeu-se muito e era preciso recuperar urgentemente, porque vamos ter robôs, computadores e IA (Inteligência Artificial) que vão fazer tudo aquilo a que antes dávamos valor - ao conhecimento. Mas, hoje em dia, isso não vai ser o mais importante, pois todos nós vamos ter acesso a estas ferramentas.

O importante vai ser o modo como transmitimos as ideias, como pensamos fora da caixa, como vamos convencer outras pessoas dos nossos pontos de vista, como vamos liderar, como vamos ter valores e ética. Tudo isto que, hoje em dia, vemos que está em falta. Mas creio que a nova geração vai voltar a dizer que estas é que são as coisas importantes e vai querer líderes que sejam honestos, com ética e com valores, e que respeitam todos, em vez de orientarem a atuação por alguns lóbis. Acho que é isso que a Brave Generation Academy, como o próprio nome indica, aposta: numa geração com mais bravura e com mais oportunidades para fazer isso acontecer.

De que modo o projeto tem potenciado essa mesma mudança? Quais são as principais preocupações deste projeto, que leva já cerca de dois anos?

Para fazer as coisas funcionarem e para podermos executar a nossa visão, a melhor maneira é ‘keep it simple’, ou seja, manter as coisas o mais simples possível e usar o senso-comum em tudo o que fazemos. E a ideia é precisamente essa. Temos um ‘hub’ (‘polo’) onde estão inscritos 30 alunos dos 11 aos 19 anos e que contam com dois ‘learning coaches’, que são pessoas que estão lá para criar relações com eles e para inspirá-los a experimentar fazer as coisas de maneira diferente e a fazer os trabalhos que eles querem mesmo fazer. E depois temos, ainda, as crianças misturadas pelas diferentes idades, então os mais velhos podem ajudar os mais novos, criando uma maior empatia. Serve, também, para os mais velhos trabalharem com os mais novos e verem que eles, afinal, não são assim tão pequeninos. O ‘hub’, mesmo abrindo às oito horas e fechando às 18 horas, um aluno apenas precisa de estar lá cinco horas por dia. Por exemplo, se praticar desporto, pode ir fazê-lo durante esse horário.

Apostam, quer isso dizer, numa maior liberdade e flexibilidade do currículo educativo?

Exatamente. Aliás, os jovens podem até ir de férias quando quiserem, ainda que não estejamos mesmo abertos em julho e agosto. Porém, no que toca aos exames, eles decorrem três vezes por ano, e não apenas uma, e apostamos ainda em cursos que não são orientados para a realização desses exames, mas mais voltados para a realização de projetos. Apostamos, ainda, na oferta de bolsas para alguns estudantes, de modo a democratizar a educação. São tudo pontos pequeninos, mas todos eles têm um grande impacto quando os vemos no seu todo. E hoje em dia, com o melhor do ‘online’ e do ‘offline’, ou seja, com a ajuda da tecnologia, conseguimos fazer tudo isso acontecer.  

A Brave Generation Academy tem crescido e conta já com dezenas de escolas em vários países - na Europa e em África, mas não só. Qual a previsão no que toca à expansão do projeto para mais países? Quais os objetivos que tem em vista? 

Estamos, atualmente, em nove países. A Brave Generation Academy nasceu em Portugal e este vai ser sempre um sítio especial para o projeto. Mas, de facto, agora estamos a começar a expandir lá para fora. Neste momento, abrimos praticamente quase um ‘hub’ por semana em sítios diversos. Trabalhamos em conjunto com os pais e com as crianças que querem a Brave Generation Academy. Assim que fazem o pedido, começamos a trabalhar com eles, eles dizem-nos onde se encontram, procuramos um sítio para sediar o ‘hub’  - e depois investimos e fazemos acontecer. Basicamente, o nosso lema é “mudar a educação e mudar vidas um BGA ‘hub’ de cada vez”, e é isso que está a acontecer. Em termos de expansão, o que é interessante é que estamos também a chegar ao interior do país. Estão lá muitos alunos com talento e que também querem aderir a este modelo.

Isso significa que a Brave Generation Academy conta já com presença um pouco por todo o país?

Estamos em quase todo o país. Temos 40 ‘hubs’ no território e estamos já em sítios como Tábua, Espinho e Aljezur, entre outros.

Não só Portugal, mas o mundo inteiro está com problemas na educação

O setor da educação tem ficado marcado, em Portugal, por uma ampla vaga de protestos por parte dos professores e de outros profissionais do ensino. Já há, inclusive, uma nova greve marcada para o início do ano letivo. Considera que os professores continuam a ter razões para reivindicações? 

Não só Portugal, mas o mundo inteiro está com problemas na educação. Mas, por cá, vemos que os pais não estão contentes com essa situação, os professores também não, e julgo que o Governo também não. No entanto, mais importante do que tudo isso, é que os alunos não estão contentes. Não acreditam que estão a ter a melhor educação possível, não estão motivados para ir à escola, muitos nem percebem se estão a aprender ou não, e isso não é bom. Acho que é tempo de começarmos a mudar, porque o que está a ser feito não está a funcionar. Precisava de existir uma conversa muito honesta, de ter os dois lados dispostos a partir quase do zero, e a pensarem, não no passado, mas naquilo que vai ser o futuro.

Acredito que os professores querem ganhar novas competências, avançar com novas ideias e fazer as coisas de uma maneira diferente. Acredito que os pais e os alunos também querem isso, tal como os empregadores. E acredito, até, que as universidades e quem recebe esses alunos quer estudantes mais bem preparados, competentes e motivados para, depois, poderem fazer aquilo que querem fazer. As escolas profissionais também não estão a ter o sucesso que precisávamos que tivessem, numa época em que alguém com um curso profissional vai ter imediatamente um trabalho muito bem pago.      

Mas existem, ainda assim, sinais que apontem para uma vontade de mudança do modelo educativo em Portugal? Ou existe ainda uma certa resistência?

O modelo educativo ficou parado no tempo e há muito medo de mudar. Vai ser preciso um sistema novo para começar essa mudança, e vão ser precisas parcerias para fomentar a mesma. Vamos precisar de trazer muitas pessoas com talento para dentro do sistema para que isso aconteça. Na Brave Generation Academy, estamos agora a fazer testes-piloto dentro de escolas públicas, onde começamos a dar um ensino diferente a crianças que o querem, efetivamente. E sempre tendo em conta que há crianças que querem ser mais académicas, outras querem ir um pouco mais devagar, e outras que precisam de um currículo diferente. Há outras que são desportistas ou que têm interesse na cultura e que podem apostar, desta forma, também nessas dimensões, para além da escola. Tudo isso tem de acontecer.

O que vejo é que estamos com muito medo de fazer a diferença e de começar a mudar, mas o que estamos a fazer hoje em dia não está a funcionar. E isso está a colocar as crianças em situações difíceis, nomeadamente em termos de doença mental. Eu, que olho de fora, penso que é uma enorme oportunidade perdida. Portugal é um país pequeno, com muitas pessoas com talento e educadas, e que tem tudo para fazer as coisas andar para a frente. Penso que podíamos estar a fazer os melhoramentos que são precisos, para começarmos a ter um crescimento efetivo no país e pessoas mais bem preparadas, e estamos a falhar nisso porque não queremos mudar. 

Tem-se posicionado criticamente face ao modelo de ensino tradicional em vigor nas escolas portuguesas. Porém, que outros setores e dimensões da sociedade considera que devem ser pensados de maneira diferente? Quais os ‘campos’ que necessitam, na sua ótica, de intervenção urgente?

Temos de começar a rever o modelo dos impostos, ver como dar às empresas forma de pagar salários mais altos sem terem de pagar mais ao Estado. Ultrapassar a ideia de que pagamos ao Estado e que, depois, o Estado dá o dinheiro de volta. Era muito mais eficiente se fosse possível dar o dinheiro a quem trabalha e a quem produz logo à partida. Conseguíamos, desse modo, fazer a economia crescer e, consequentemente, manter os portugueses cá em Portugal.

Podíamos, também, tirar a Segurança Social a pessoas que já têm 66 anos e querem trabalhar, de modo que quem trabalhasse para além dessa idade não tivesse de pagar Segurança Social. Porque aí ajudaríamos as empresas a pagar esses salários, essas pessoas já não estariam a ‘tirar’ dinheiro dos cofres do Estado e não iam ser um custo, mas iam ainda estar a produzir e, também, ser mais felizes. Contribuía-se, assim, para o país e para as empresas - que, hoje em dia, continuam à procura de pessoas. Seria um ‘win win’, e defendo que precisamos de encontrar muito mais dinâmicas destas.

Na saúde, por exemplo, ao começar-se a pensar em vouchers para que, em vez de as pessoas ficarem à espera durante meses e meses para receber tratamento ou tirar uma radiografia, pudessem ir ao setor privado, começando a tirar aquele peso do setor público, deixando-o respirar para voltar a ter condições para trabalhar. Porque, da maneira que estamos a ir, estamos a estragar o sistema público ainda mais e, um dia, não haverá volta a dar, se não começarmos já a fazer algumas mudanças.

A produtividade não é melhor e maior porque os cidadãos são praticamente penalizados e castigados por produzir

Facto é que Portugal é visto internacionalmente como um país com fraca produtividade. Sendo, também, um empresário, a quem se deve atribuir a responsabilidade por esse facto - às próprias empresas, aos governos ou aos trabalhadores?

Diria que a produtividade não é melhor e maior porque os cidadãos são praticamente penalizados e castigados por produzir. Quando produzimos, parece que somos maus ou ambiciosos. E quando não produzimos, e ficamos em casa à espera de receber, somos bons cidadãos. Mas não é assim. Temos de começar a acreditar nos nossos empreendedores e nas empresas, de trazer para cá maiores empresas que paguem melhores salários. Temos de começar a fazer várias coisas, porque só isso fará com que a produtividade aumente.

O mesmo nos funcionários públicos: precisamos de começar a desbloquear para que eles possam trabalhar. Muitas vezes, quando falo com eles, eles não fazem mais porque não podem fazer mais, não os deixam. E, muitas vezes, não têm tecnologia que os deixe fazer mais. Talvez até tenhamos muitos funcionários públicos, mas talvez nem seria preciso despedi-los, mas sim perceber quem quer ir para casa tomar conta dos avós ou dos pais, deixando-os ir e apostando na tecnologia, ou quem quer ir procurar outro trabalho. Nesses casos, podíamos ter o Estado a pagar 50% desse salário por mais cinco anos, para começarmos a remodelar isto passo a passo. Porque as pessoas querem produzir, e é claro que ninguém fica feliz ao não estar bem no trabalho. 

Estou a concorrer para Presidente da República porque acredito que posso ser um bom moderador entre os partidos para fazer as coisas acontecer

Considera, então, que Portugal ainda ‘falha’ para com aqueles que continuam a investir no seu próprio desenvolvimento, tanto pessoal como profissional, como do próprio país?

Exato. Até porque, em termos políticos podemos estar bastante estáveis, porque temos bons políticos, mas em termos das leis que saem para as empresas, para as pessoas que querem investir cá e que vêm por meio de vistos ‘gold’ e de outros incentivos, trata-se de bom marketing, mas depois acaba por falhar muito. Isto porque não temos pessoas responsáveis por executar. Temos um bom marketing, mas depois não fazemos acontecer. Indo ao SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), percebe-se perfeitamente o que estou a dizer. É muito difícil ter uma marcação, tudo é difícil. E não devia ser assim.

O Estado trabalha para os cidadãos, para melhorar a vida das pessoas, e não precisávamos de estar nesta situação. Ainda para mais num país que é unido, que tem boas pessoas e braços abertos para o mundo. É, até, um país que lá fora é muito bem visto, os portugueses fazem ótima figura lá fora. Tendo um pouco menos de burocracias, conseguiríamos crescer. E é também isso que temos de começar a mudar.

Acredito que posso ainda, como Presidente, mudar o ‘mindset’ português e fazer-nos a todos pensar maior. Acredito que também posso ajudar a ter uma visão para o futuro, pois neste momento não a temos, estamos à deriva

Anunciou recentemente que vai ser candidato às eleições presidenciais em 2026. O que o motiva a dar esse passo?

Escolhi ficar cá a viver e quero ficar aqui o resto da minha vida. Amo Portugal e acho que é um sítio espetacular, mas também não gosto daquilo que está a acontecer e de para onde estamos a ir. As pessoas estão a ficar mais pessimistas relativamente ao futuro que vão ter. Dos nossos jovens aos mais velhotes, ninguém diz que isto está a ficar melhor. E também estou farto de ficar apenas a ouvir e a dizer que isto não está bom. Decidi que cheguei a um momento na minha vida em que também tenho de agir.

Gostava que a minha candidatura ajudasse outros atores a pensar que também podem entrar na política, porque ali é que temos de fazer a diferença. Eu não sou político, estou apenas a concorrer para Presidente da República porque acredito que posso ser um bom moderador entre os partidos para fazer as coisas acontecer - pondo as pessoas a falar à mesa, a apresentar ideias, para se vender o país lá fora e para trazer empresas estrangeiras para o país, para que estas invistam e aumentem os salários e, assim, aumente também a receita de impostos porque temos mais produtividade, e não porque temos impostos mais altos.

Acredito que posso ainda, como Presidente, mudar o ‘mindset’ português e fazer-nos a todos pensar maior. Acredito que também posso ajudar a ter uma visão para o futuro, pois neste momento não a temos, estamos à deriva. São coisas que gostava de começar a fazer-nos acreditar. Sei que, em Portugal, o Presidente não tem poder executivo, mas poderia tentar aproximar os partidos, trabalhando naquilo que eles têm em comum - porque hoje em dia muitos partidos até têm aspetos que defendem de forma igual, mas estamos sempre focados no que é diferente. Gostava de ser um Presidente capaz de unir, de mudar, de dar uma visão e a esperança de que conseguiremos manter os nossos filhos cá no país.  

Diria que é esse o aspeto distintivo do projeto presidencial que apresenta? Essa “visão” diferente?

Acho que é uma diferença. Julgo, na verdade, que serei o mais diferente dos candidatos: pois falo mal português, não sou um político profissional, mas sou uma pessoa que gosta de executar e sou positivo, enquanto quem concorrerá comigo são políticos altamente profissionais, os quais são os principais responsáveis por guiarem o país nesta direção que estamos agora a seguir. Mas eu não tenho nada a ver com o passado, apenas com o futuro. E diria que só isso é diferente.

Que análise faz do papel que tem sido desempenhado pelos chefes de Estado que assumiram o cargo nas últimas décadas? Considera que a falta de mudança que identificou em muitos setores da sociedade também tem sido, de certo modo, responsabilidade dos anteriores Presidentes da República?

Não quero falar muito sobre aquilo que os últimos fizeram. Acho que todos eles fizeram o melhor que podiam, seguiram a visão que tinham. Mas o que quero fazer é diferente da que tem sido seguida. Isto embora eu dê todo o crédito às pessoas que deram, também, a vida delas para essa missão. Mas quero ser diferente porque quero um país diferente, a olhar para o futuro, a pensar em grande, que sabe fazer ‘network’ e que seja mais honesto, com menos escândalos. Porque acho que Portugal não é os nossos políticos, não é o que nós vemos na televisão, que passa horas e horas de politiquice e de escândalos. 

Olhando para Marcelo Rebelo de Sousa, eu admiro-o, acho que é uma pessoa com grande coração, uma pessoa muito inteligente, muito mais inteligente do que eu, até. Mas, ainda assim, quero ser um Presidente diferente, ainda que respeitando tudo aquilo que ele fez. 

Estou aqui para ser um candidato para Portugal, não para partidos

Tem dito, até agora, que pretende concorrer como independente, sem apoio de qualquer partido político. O que o leva a seguir tal caminho? Considera que essa será a melhor estratégia para alcançar um bom resultado?

Quero ser independente porque quero mesmo trabalhar com todos. Entendo que todos os partidos têm boas ideias, que todos querem, no fundo, o melhor para Portugal, tal como eu. E acho, também, que os partidos devem ter os seus próprios candidatos e que eu não sou o candidato natural para eles apoiarem. Estou aqui para ser um candidato para Portugal, não para partidos. Preciso é de trabalhar para e de falar com os portugueses, não com os partidos. É por isso que quero ser independente, não estou a querer lóbis, não estou a querer apoio financeiro. É uma candidatura que pretende deixar alguma coisa para o país.

Que resultado ambiciona com esta candidatura?

Ganhar, obviamente. Porque só vou fazer a diferença se ganhar. Se isso não acontecer, vai ser muito difícil e poderei apenas dizer quer tentei, que abri algumas portas e fiz mudar algumas ideias, mas só ganhando é que vou poder trabalhar o que quero que seja trabalhado, começar a atribuir responsabilidade aos partidos pelas promessas que são feitas, para garantir que são concretizadas.

Acredito que devíamos ter pessoas mais capazes e mais honestas a liderar

No anúncio da sua candidatura, disse acreditar “em menos Governo, mas num Governo melhor”. É uma declaração que surge na sequência das mais recentes polémicas a assolar o Executivo socialista? O que significa?

Acredito que devíamos ter menos complicações e que, por vezes, mais Governo é sinónimo de mais complicações. Acredito que devíamos ter pessoas mais capazes e mais honestas e que devíamos, até, exigir isso enquanto cidadãos, sem dúvida. Precisamos de pessoas que levam o cargo a sério, que põem Portugal primeiro, acima de tudo o resto. Para mim, a chave passa por ter pessoas melhores - e, enquanto Presidente, também ajudar os portugueses a escolherem pessoas melhores e dizer quando a pessoa errada está lá. Porque, no fim, se também não fizer isso, também sou a pessoa errada para o cargo. Ou seja, é preciso assumir as responsabilidades.

Diria que falta, então, efetivamente competência e honestidade no Governo e na classe política em Portugal?

Acho que não sou eu que digo isso. Basta ligar a televisão e ler os jornais para perceber que há coisas com que uma pessoa fica envergonhada e triste. Devíamos ter pessoas muito mais sérias a liderar. Mas é por isso que digo que não vejo os políticos como a representação de Portugal. Vejo os políticos de modo muito diferente daquilo que é o verdadeiro Portugal. 

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