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"2020 foi ano recorde em termos de candidaturas submetidas ao Erasmus+"

Luís Alves, Diretor da Agência Nacional Erasmus+ Juventude em Ação, é entrevistado do Vozes ao Minuto.

"2020 foi ano recorde em termos de candidaturas submetidas ao Erasmus+"
Notícias ao Minuto

06/07/21 por Natacha Nunes Costa

País Erasmus+

O programa Erasmus celebra, em 2021, 30 anos de existência e a mobilidade de mais de 10 milhões de jovens que puderam, durante estas três décadas, não só conhecer a realidade de outro país, como alargar as suas oportunidades de emprego a outros Estados.

Ao longo do tempo, o Erasmus foi sofrendo algumas alterações e muitas melhorias e é hoje muito mais do que apenas um programa de apoio à mobilidade dos jovens.

Na sequência dessa evolução, recentemente, foi lançado o novo programa, Eramus+, em Viana do Castelo.

Durante o encontro foram apresentadas várias novidades e divulgados vários números que hoje damos a conhecer nesta entrevista a Luís Alves, Diretor da Agência Nacional Erasmus+ Juventude em Ação.

O ministro da Educação disse recentemente que pretende que, até 2027, 70% dos estudantes portugueses façam Erasmus. Uma percentagem bem mais alta do que a atual em que apenas um em cada 10 jovens o faz. Acredita que isso é possível?

A nossa perspetiva é que o número de mobilidades nos próximos sete anos possa mesmo triplicar relativamente aquelas que foram possíveis apoiar entre 2014 e 2020. É essa a nossa meta, é esse também o objetivo definido pela comissão europeia. Em qualquer caso, o nosso nível de execução dos programas, no domínio da Juventude, foi sempre plena. Estes são, pois, objetivos que, certamente atingiremos com a mobilização e o envolvimento dos nossos parceiros.

O Erasmus+ é hoje muito mais do que apenas um programa de apoio à mobilidade dos jovens A Comissão Europeia reforçou o orçamento do Erasmus para o período 2021-2027. O programa terá um orçamento de 26,2 mil milhões de euros, mais 11,3 do que teve em 2014-2020. Acha que é suficiente para toda a UE? Portugal recebe que parcela?

Essa é mesmo, diria eu, e sem querer reduzir a avaliação dos méritos do programa à sua dimensão orçamental, a evolução mais significativa e expressiva do Erasmus+ para os próximos sete anos. O orçamento do Erasmus+, entre 2014 e 2020, foi de 14,7 mil milhões de euros. Os sete anos, entre 2021 e 2027, irão mobilizar cerca de 26,2 mil milhões de euros. Estamos a falar, quase, de uma duplicação do seu orçamento a que se deve ainda somar os recursos alocados a outro programa, agora autónomo, o Corpo Europeu de Solidariedade. Ora, no Erasmus+, como porventura em qualquer outro programa, a nossa capacidade de intervenção é mesmo proporcional à dimensão do nosso orçamento. Um orçamento mais robusto significará mesmo mais oportunidades de mobilidade e aprendizagem, mais técnicos de juventude capacitados, novas redes de parceria entre organizações de juventude apoiadas e mais processos de participação jovem suportados. Esperamos também que este orçamento reforçado possa transportar os projetos apoiados para novos patamares de intervenção e qualidade.

O financiamento às agências nacionais é definido anualmente, considerando, designadamente, a dimensão demográfica dos países, mas também o nível de execução dos programas que são capazes de garantir. Na parte que depende de nós, iremos perseguir, como nos últimos anos, o objetivo de obtermos níveis de execução plenos e que nos têm distinguido a nível europeu.

Nestes 30 anos de Erasmus o que é que mudou?

O Erasmus+ teve 30 anos de uma evolução crescente nos seus níveis orçamentais, no número de jovens e organizações que mobiliza, na diversidade de áreas que é capaz de abraçar e no espaço simbólico e concreto que ocupa na afirmação do próprio projeto europeu e no fortalecimento da consciência de pertença a uma União que juntos construímos. Nesse sentido é hoje muito mais do que apenas um programa de apoio à mobilidade dos jovens.

O que distingue hoje dois licenciados que procuram emprego, por definição, não é a licenciatura. São as experiências, vivências e aprendizagens que foram adquirindo ao longo dos seus percursos formativos

Em que consiste o novo Erasmus+, apresentado recentemente em Viana do Castelo?

Temos mais Erasmus no Erasmus+. Um Erasmus+ mais capaz de corresponder a diferentes interesses, expectativas e circunstâncias dos jovens. Um Erasmus+ que valoriza também a educação não formal, que valoriza a importância das experiências, vivências e aprendizagens que se adquirem em contexto não formal, mas que são um contributo essencial para aquele que é o objetivo maior da educação - a projeção dos jovens, como cidadãos de corpo inteiro, de pleno direito, com capacidade de serem atores no campos económico, social, cívico, político, com capacidade de se cumprirem, de se realizarem nas várias dimensões da vida.

O novo Erasmus+ tem também agora prioridades muito alinhadas com aquelas que são as prioridades da própria UE e que constituem agendas determinantes para o nosso futuro coletivo. Estas prioridades estão, também, muito alinhadas com os interesses e as causas que mobilizam a vontade de participação das novas gerações. Desde logo a agenda ambiental.

O Erasmus+ será, assim, também um instrumento para a prossecução dessa agenda, não apenas apoiando projetos educativos nesse domínio, mas também incentivando, financeiramente, o uso de transportes ambientalmente mais amigáveis nas mobilidades. Também a transição digital constituirá uma nova prioridade para nós. Pela importância que tem do ponto de vista económico e da competitividade da UE, mas assegurando também que é socialmente justa.

Será nesta dupla dimensão, a sua importância económica e nos percursos educativos e profissionais dos jovens, mas também contrariando novos fatores de exclusão e desigualdade, que iremos centrar a nossa ação.

O Erasmus+ vai permitir intercâmbios em seis áreas distintas: ensino superior, ensino profissional, educação escolas, ensino para adultos, juventude e deporto. Isto quer dizer que além dos estudantes do ensino superior, também estudantes do secundário possam participar e até adultos?

Sim, o Erasmus+ integra todos os programas de apoio à mobilidade dos jovens ou aprendentes, bem como o Desporto, que passa a ser gerido descentralizadamente pelas Agências Nacionais, ou a nova iniciativa DiscoverEU que permitirá aos jovens europeus com 18 anos a oportunidade fabulosa de viajar por toda a Europa de comboio.

A estatística revela que os participantes no Erasmus têm mais facilidade em arranjar emprego num país europeu que não o de origem. Acha que isso está espelhado em Portugal? As empresas portuguesas dão preferência a candidatos que participaram neste programa? Mesmo que sejam portugueses?

Certamente que sim. O que distingue hoje dois licenciados que procuram emprego, por definição, não é a licenciatura. São as experiências, vivências e aprendizagens que foram adquirindo ao longo dos seus percursos formativos, que os tornam mais aptos a compreender as realidades, a trabalhar em equipa ou a incorporar uma cultura empreendedora. Nesse quadro, o impacto que uma experiência de mobilidade internacional tem num jovem é muito impressivo nas designadas soft skills que hoje, jovens e empregadores, muito valorizam. 

2020 não foi um ano perdido em matéria de Erasmus+. Com efeito, no domínio da juventude, 2020 foi mesmo um ano recorde em termos de candidaturas submetidas ao programa 

Como correu o programa neste último ano? Mesmo com pandemia há jovens a quererem fazer Erasmus? Ou o número de participantes caiu drasticamente?

É certo que a pandemia foi muito perturbadora de projetos assentes, em grande medida, na mobilidade que esteve muito comprometida ou condicionada. No entanto, importa dizer que 2020 não foi um ano perdido em matéria de Erasmus+. Com efeito, no domínio da juventude, 2020 foi mesmo um ano recorde em termos de candidaturas submetidas ao programa. Tivemos mais do dobro da média dos 6 anos anteriores. Foram 287 projetos aprovados em Portugal, com o maior volume de financiamento de sempre, que ascende a mais de 10 milhões de euros.

Ainda que a pandemia tenha adiado alguns sonhos e realizações, 2020 revelou-se um ano promissor e um motor de esperança para o futuro. E estes números são bem a expressão da confiança dos jovens e das suas organizações no programa, na sua capacidade de implementar os projetos, desde já, e na normalidade pós-pandémica.

Que consequências trouxe ao Erasmus+ a saída do Reino Unido do programa?

A saída do Reino Unido do programa não afeta as mobilidades ou projetos já aprovados e que, de resto, continuam em curso. No entanto, para o futuro, o Reino Unido deixa de ser país programa, passando apenas a ter um estatuto de país parceiro com privilégios limitados de participação no programa, equiparados a outros países de quadrantes distantes do mundo.

Não há como não considerar, objetivamente, uma perda para o programa. Veremos o alcance das ações alternativas de cooperação que se gizam, nas várias áreas que constituem o Erasmus+, bem como no domínio do voluntariado. 

Portugal recebe mais estudantes em Erasmus ou tem mais jovens portugueses a quererem experimentar o programa noutro país da UE?

Os indicadores que temos, quer considerando candidaturas à agência nacional quer a outras agências europeias, dão nota de uma ligeira ascendência dos nossos envios relativamente aos acolhimentos em mobilidades Erasmus nos domínios da Juventude e Desporto. Isso está longe de ser assim, por várias razões, nas mobilidades que decorrem no âmbito da Educação Formal. 

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