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"Acredito que sou uma espécie de 'gangsta' divino"

Dez anos depois de ter começado a rimar e a deixar a sua marca no mundo do hip-hop, ProfJam faz uma retrospetiva de carreira no momento em que lança o primeiro álbum.

"Acredito que sou uma espécie de 'gangsta' divino"
Notícias ao Minuto

02/04/19 por Sara Gouveia

Cultura ProfJam

Mário Cotrim ou ProfJam como é conhecido entre o grande público, tem desbravado um caminho diferente na cena do hip-hop 'tuga', trazendo consigo as influências americanas e a espiritualidade que tem presente ao longo de toda a sua vida, misturada num cocktail de auto-tune assumido. Dez anos depois de ter começado a rimar por influência da irmã lançou, a 22 de fevereiro e sem aviso prévio, o primeiro álbum, #FFFFFF, que conta com sucessos como 'Água de Côco', 'À Vontade' e 'Tou Bem'.

O disco foi produzido por Lhast, um dos compositores de batidas instrumentais mais reconhecidos do hip-hop nacional, e criado entre Lisboa e Los Angeles.

ProfJam vai marcar presença nos principais festivais de verão deste ano, como o Super Rock Super Rock e Primavera Sound, depois de ter dado dois concertos cheios a 15 e 16 de março no Hard Club, no Porto.

A 5 de abril vai estar no Capitólio, em Lisboa, num concerto que também já está esgotado. Mas ainda teve tempo para conversar com o Notícias ao Minuto para fazer uma análise ao seu percurso até este momento e explicar as origens deste disco.

Quem foram as principais inspirações para começar no hip-hop e a rimar?

Ouvia muito Eminem, Jay-z, Valete, Sam the Kid, Regula, Halloween, Dealema. O meio onde cresci influenciou-me a partir da minha irmã, talvez. Era consumidora de hip-hop, era mais velha seis anos, e foi através dela que iniciei o meu trajeto, entre aspas, com os álbuns que tinha e depois através da minha pesquisa.

Mas rapidamente quis sair desse tipo de registo. Porquê?

Exatamente para não ser uma cópia pior. Não há nada melhor do que o original e sentir que estou a criar o meu caminho, o meu registo, e acho que consegui. É o melhor elogio que posso fazer é sentir que tenho um estilo de escrita e de flow. Obviamente que quando uma pessoa começa a rimar, inspira-se no que conhece e, felizmente, já não sou como eles e isso é uma vitória.

Acho que a questão do americano nem se coloca. Somos todos americanos, é como se fosse um império romano, está enraizado na nossa cultura

Já foi acusado de ter um estilo muito americanizado, pela maneira como rima e pelo tipo de batida, conjugando muitas expressões em inglês. Mas canta em português. Acha que é nessa mistura que está o verdadeiro ProfJam?

Sim. Acho que a questão do americano nem se coloca. Somos todos americanos, é como se fosse um império romano, está enraizado na nossa cultura. Se não fossem os americanos nem sequer existia hip-hop 'tuga'. Se não fosse o Boss AC a pegar em rimas em inglês, Black Company, Da Weasel a pegarem nos americanos, não teríamos o hip-hop dito português, por isso temos de agradecer aos americanos. Para mim não há diferença nenhuma entre o português e o americano. É hip-hop.

Estudou produção musical em Londres, o que é que ficou desses tempos?

Boas memórias. Adorei esse período da minha vida, embora atribulado, foi super importante para quem sou hoje. Para lá  da parte académica, também foi importante a parte das vivências, numa cidade fora do meu conforto.

Voltou um artista diferente?

Sem dúvida. Muito mais independente a nível de pensamento, de ter vivido uma realidade completamente diferente a nível cultural. Vinha de um ambiente em que era visto como o gótico do bairro ou o dread do bairro e para quem as pessoas olhavam mais de lado, para ir para uma cidade onde se estiver alguém com picos na cabeça e ninguém olha. Ninguém quer saber, cada um na sua e eu gosto disso.

Porque é que optou por essa área, foi já com o intuito de a usar na sua carreira?

Sim, sempre foi algo que eu queria, para juntar o útil ao agradável. Podia fazer como profissão para os outros e, com isso, também usar na minha música e fazê-la com mais qualidade.

Como surge a ideia de lançar uma editora?

A ideia sempre esteve em cima da mesa. Estava associado a outra editora, às tantas separámos caminhos e sempre quis ter uma própria. Até por me ter inspirado noutros rappers como Jay-Z com a Roc-A-Fella [Records], da Young Money [Entertainment] do Lil’ Wayne, a Good Music do Kanye West, a OVO Sound [do Drake], entre outras.

A ideia era criar um sítio onde não houvesse pressão de ser algo, de fazer o hit do verão ou o som mais lendário, a ideia é ser uma incubadora, de gerar condições para fazer o som que saísse, de criar um ambiente livre para criar, porque aí é que as coisas saem com mais espontaneidade e mais humanidade.

Dez anos depois de ter começado a gravar temas, surge este álbum. A que se deveu essa espera?

Queria criar uma diferença entre um álbum e o resto. Começa aqui essa distinção e essa cena de fazer música com ambições comerciais, com ambições tecnicamente evoluídas, com qualidade e este tempo todo serviu para ganhar o know-how. Sempre pus o álbum para a frente até finalmente reunir as condições que queria. Encontrei um produtor certo para o fazer, o Lhast, era o momento certo, consegui a nível de estrutura, desde a produção à equipa visual, o que eu queria e senti que tinha as peças e que estava na altura de as juntar.

As minhas mixtapes sempre foram concetuais, quase como se fossem um álbum, mas não tinham o resto.

Depois deste caminho, foi fácil encontrar um equilíbrio daquilo que queria pôr no disco?

Por acaso foi fácil. Foi muito pelo ouvido, pelo instinto, pelo que fazia sentido. Acho que uma das formas que encontrei foi aproveitar o estar a fluir, sem muitas barreiras e deixar ir. Acaba por ser uma ilusão de fácil, é difícil chegar a esse flow, mas depois de lá chegar é fácil. Depois de perceberes o que queres, tens o caminho. O primeiro tema que escolhi para este registo foi o ‘Água de Côco’ e depois disso fui abrindo mais ideias.

Inicialmente até era para ser um EP, mas quando me reuni com o Lhast, vi que estava com a mesma ideia que eu de fazer uma coisa em conjunto e já tinha ideias para mim. Decidimos juntar tudo e fazer o beat para o álbum, porque traz mais coisas e conseguimos fazer uma coisa mais profunda, mais entrosada.

Estive à procura da minha voz e quero que os outros façam o mesmo, que usem a sua. A mensagem é que a mensagem é a pessoa que a fazEste álbum é o culminar de todas as vivências que experienciou até agora?

Sim, não sei se é o culminar de final, mas sem dúvida é um apanhar de tudo até agora, destes dez anos. É uma tentativa de falar o máximo de mim, para mim e sobre mim, não tanto dos outros, e com isso acender a chama e a cabeça das pessoas. Estive à procura da minha voz e quero que os outros façam o mesmo, que usem a sua. A mensagem é que a mensagem é a pessoa que a faz. Não estou a dizer que a minha tem de ser a de quem ouve, a única falha lógica aqui é que estou a tentar dizer algo, mas não diretamente o quê.

Do género: “estou a dizer-te para tu descobrires o que tens a dizer”.

É produzido pelo Lhast, um dos compositores de batidas instrumentais mais reconhecidos do hip-hop nacional. Sentiu que era a pessoa ideal para fazer este trabalho consigo? Porquê?

Essencialmente porque temos muitas coisas que não saíram, e que se calhar nem vão ver a luz do dia, mas que me fez perceber durante esse processo que estava a ser mais qualquer coisa e ele também quando trabalhámos juntos. Criámos sons que mesmo a nível do globo são bastante únicos, há uma sinergia.

#FFFFFF é o código hexadecimal da cor branca. Porque é que escolheu este nome para o novo álbum?

Porque faz parte de mim, de uma ligação que tenho com o mundo digital, estive em engenharia informática no Técnico e aprendi a contar em hexadecimal. O código serve para mostrar o branco mais branco que pode existir num computador ou em qualquer ecrã. Então parti daí, do branco mais branco, para mostrar a minha parte espiritual, a parte religiosa e a parte da luz, que é neste caso a luz mais completa, a soma de todas as cores é o branco, e fiz essa brincadeira.

Quis trazer também, um bocado, a parte que está associada à antiguidade ou à parte mais religiosa para o mundo digital, que está nos nossos computadores, nos nossos 'spotify’s'.

Acredito que sou uma espécie de gangsta divino, que estou aqui a fazer a obra divina, a lutar contra o mal. Não aquele mal político e social, mas mais interno, quase de mim para mim e que vou falhar, mas vou lutarNa primeira música deste álbum, ‘A palavra’, escreve: “Deus certificou-me… I’m a certified G (gang gang) / Só Ele sabe o meu nome… Prof e Mário é daqui! / se tá lit eu sou o lume… faço cinza do beat… eu sou o meu aluno…e deixo o sumário pa ti.. / eu não falo à toa, nem que a voz me doa, / cabeça na coroa, perfect fit! / um beto de Lisboa, vê como eq eu tou a cuspir a lagoa da cor / que quero que fique…  / white como a coca, o meu lema é go hard, lutar como o Gohan / até que o cérebro frite…”. Sente que estes versos são uma descrição de vários dos aspetos do artista que é neste momento?

Sim. É uma maneira de eu me descrever. Acredito que sou uma espécie de gangsta divino, que estou aqui a fazer a obra divina, a lutar contra o mal. Não aquele mal político e social, mas mais interno, quase de mim para mim e que vou falhar, mas vou lutar. Há uma esfera minha - daí o “Prof e Mário é daqui!” - que diz respeito às coisas terrenas, que pretende separar um do outro e de um terceiro, que é quando estamos na barriga das nossas mães onde já somos alguma coisa, para mostrar que a minha identidade não é o meu nome.

Fala muito dessa dualidade, de duas pessoas, da versão anjo e demónio.

Do eu divino e besta, abaixo do homem e acima do homem, porque há a ideia de que o homem é um encontro dessas duas naturezas. E enquanto ProfJam tento dizer que acho que sei o caminho para fintar isso.

Quase um profeta?

Sim, gosto dessas inspirações. Não no sentido literal, se calhar mais no sentido de trazer a mensagem, dos mandamentos, de Jesus Cristo. Uma das minhas características de profeta é viver acima do mundo terreno, não para dizer que nada vale a pena, mas para dizer para encararem isto mais como uma passagem, de não nos prendermos tanto ao que temos aqui.

Acho que o medo da morte é a raiz de todo mal e acho que era isso que Jesus queria dizer quando morreu na cruz, a ideia de que se tivermos medo de morrer vamos ficar agarrados às coisas terrenas, vamos querer tudo aqui, o Ferrari e a mulher do vizinho. Mas temos de encarar isto como outra coisa e pensar que pode haver alguma coisa em cima disto, não cedendo aos instintos do homem. Sendo que eu também cedo e por isso é que digo que estou no meio, nem anjo nem diabo e tento no final, por mais que falhe, passar a mensagem. Não julgar, tentar que a minha existência não colida com a dos outros e se assim for acabamos a não querer a destruição uns dos outros.

Não gosto da ideia de que a religião e a Igreja atrasam a evolução do mundo, porque há muita obra que fizeram que é importante

A educação católica nota-se em alguns dos temas, senão na maioria. Foi imperativo para si enquanto artista deixar a marca neste álbum, nas letras?

Não é tanto uma coisa que tenha mesmo de ser é uma coisa que se nota porque faz parte de mim. Não é uma coisa que tenha procurado. Tal como não decido que vou fazer um álbum de gangsta rap e que por isso tenho de falar de coisas de gangsters, não é ao contrário, falo de coisas assim e por isso é que é um álbum assim. A definição deve surgir a posteriori.

No caso da religião é uma coisa que surgiu na minha vida até através do meu pai e das pesquisas que procuro fazer, do que procuro saber. Não me interessa tanto a parte mais dogmática, gosto da parte em que pensamos porque é que tudo isto aconteceu até aqui.

Em vez de pensar que os antigos eram burros e de que nós é que sabemos tudo, prefiro tentar questionar porque é que um ‘bacano’ há 2 mil anos, na China, dizia o mesmo que outro há 3 mil dizia na América do Sul e assumir que há ali alguma coisa, algum tipo de verdade universal. Em vez de a descurar e achar que o homem moderno é que sabe, prefiro assumir que há mais alguma coisa ali.

O catolicismo para mim é meramente cultural, tal como falo português porque sou deste país, o mesmo se passa com a religião católica, sigo-a porque é que a que se pratica aqui.

Os valores judaico-cristãos foram, se calhar, os responsáveis por muitas evoluções do Homem, que hoje em dia são subvalorizados, mas que foram responsáveis por exemplo, pelos primeiros hospitais, pelas primeiras universidades. A própria Inquisição, que é vista como uma coisa horrível, dita o nascimento dos primeiros tribunais públicos. Há um crescimento, antes de seres árvore tens de ser a semente e há ideias que vão sendo aperfeiçoadas, mas esses valores a certa altura foram revolucionários.

Claro que com isto não desculpo ou perdoo as injustiças que foram cometidas, mas não gosto da ideia de que a religião e a Igreja atrasam a evolução do mundo, porque há muita obra que fizeram que é importante.

Este é o ano mais sério no que diz respeito à sua carreira, com os concertos e o novo álbum. Esta ‘corrida, está a parecer um passeio’?

Acho que sim, é aquela ideia do quem corre por gosto não cansa. Claro que há coisas que nos fazem queixar, independentemente da situação, mas que eu sei que não é um queixume real. Do género “Epá fogo, agora tenho de ir para Guimarães, fazer a viagem e voltar”, mas claro que é ótimo, podia estar ali a escavar terra.

Na Teoria das Necessidades [de Abraham Maslow] ensinam que uma necessidade satisfeita já não satisfaz mais e a partir do momento em que nos habituamos a certas coisas, começamos a sentir que mesmo no momento em que vivemos, que é o melhor até agora para viver de sempre é um momento em que do nada há imensas doenças, do nada, e em que está tudo maluco. Quase que mostra que mesmo retirando os problemas, as pessoas vão arranjá-los na mesma e eu gosto de fugir a isso.

Então fazer o que se gosta ajuda?

Claro, vou ter sempre a parte mimada, mas é um passeio porque se se estiver com a mentalidade certa de que a parte má é para ter a boa, como no caso do sacrifício que se aprende com a religião. Claro que há coisas chatas principalmente na vida de estrada, mas faz parte para ter a parte boa.

Os comentários negativos até me dão ‘pica’, acho que é preciso mostrar que não estou a dizer que sou livre só porque sim, é preciso mostrar que "sim, fiz um som com os D.A.M.A. e então? Alguém morreu?"Recebeu algum tipo de comentários negativos por se ter aliado a uma banda pop, como é o caso dos D.A.M.A., para o tema ‘Pensa Bem’?

Sim, recebi, mas fiz aquilo como um manifesto de liberdade, para quebrar barreiras. Para mostrar que podia, que era eu que mandava na minha carreira, foi uma reivindicação.

Tive um convite, o Miguel [Cristovinho] é um amigo pessoal, eu ouvi o beat e gostei. Claro que a cena deles em geral não é a minha, mas aquela música por acaso até achei que poderia completar. Pensei sobre os motivos de fazer ou não fazer e cheguei à conclusão de que os motivos que estava a encontrar eram dos outros e não necessariamente meus. E como eu até gosto que me desafiem, que me digam que não consigo para provar o contrário e ainda fazer mais coisas...

Os comentários negativos até me dão ‘pica’, acho que é preciso mostrar que não estou a dizer que sou livre só porque sim, é preciso mostrar que “sim, fiz um som com os D.A.M.A. e então? Alguém morreu?”. Foi um grito de libertação. O hip-hop não é menos nem mais do que os outros estilos, é igual. Gostar ou não é uma questão própria, agora se posso ou não fazer é uma questão minha.

Quais são os próximos projetos rumo a ir “parar numa t-shirt tipo Eminem e Tupac…”?

É fazer um bocado de tudo o que sei fazer e do que ainda me falta fazer, como sonoridades diferentes, quero ter várias faixas e trocar várias vezes, deixar as pessoas que me seguem  sem saber o que esperar a seguir. Tenho vários projetos que quero fazer, mas não quero forçar nenhum.

Mantenho os pés na terra porque não tenho outro sítio para os pôr, não me iludo. Claro que acho que sou o maior nas letras que escrevo, mas faz parteO que diz aos fãs que dizem que há um ProfJam antigo e um atual, que são diferentes?

Digo que sempre disse que ia haver. Na música ‘Matar o Game’ digo: “É que eu não vou tar cá pa sempre / Mas se for preciso volto ao ventre / Viajo de volta no tempo / E mato o game novamente”. Se for preciso volto atrás, vou para a frente, mudo de direção quantas vezes forem precisas.

A mesma coisa na ‘Mixtakes’ escrevo: “Por isso diz o teu “rest in peace" como se eu já não existisse / Publica no mural que hoje ‘tás um pouco triste / E dá o teu respeito como se eu pa longe partisse… / ‘pó morto há respeito imagina se aplicássemos / A lógica que o vivo tinha o direito ao memo! / Talvez o teu desenho passasse a ser tipo um Picasso / E a história que vem de ser humano não tinha h pequeno!”, com a ideia de que ao matar-me, ao matar um estilo, ou tipo de beat, ou uma onda que segui em determinado momento, estou a viver mais, porque se fosse estanque ninguém queria saber. As pessoas dão mais valor às coisas quando elas acabam e tem a ver com não reciclar, não enjoar de mim próprio, prefiro que tenham saudades do que estejam fartas.

Além disso, preciso de estar motivado, mais rapidamente volto a fazer coisas que fiz se tiver feito outras diferentes entretanto. 

Vai estar nos principais festivais de verão deste ano, nomeadamente Super Rock Super Rock e Primavera Sound, deu dois concertos cheios a 15 e 16 de março no Hard Club, Porto e a 5 de abril vai estar no Capitólio, em Lisboa, um concerto que já está esgotado. Como é que mantém os pés na terra com isto tudo?

Talvez com essa onda mais espiritual, é estar no meio, “estava na ponta e agora estou no meio”. Nem estava triste por não ter concertos esgotados como também não estou completamente fora de mim por ter. Pés no chão, cabeça na lua, é tudo passageiro. Vejo isto como se já fosse acabar, vivo a vida como se fosse um deja-vu, quem vemos a subir é quem vemos a descer, por isso não me iludo.

A primeira faixa do meu primeiro projeto diz: “E o nigga fica comprado / Já domina o mercado / Agora é adorado / Até ao dia que será queimado vivo / E logo vem outro / E logo vem outro”. A seguir a mim vem outra pessoa fazer as mesmas coisas ou melhores ainda. É o ciclo da vida, sou só mais uma parte desta cena macro. Se eu conseguir ao máximo ser eu próprio a substituir, melhor, tenho diferentes maneiras de chegar ao sucesso. Por isso é que digo “matar o game”, tento fazer diferentes abordagens.

Mantenho os pés na terra porque não tenho outro sítio para os pôr, não me iludo.

Claro que acho que sou o maior nas letras que escrevo, mas isso faz parte. Se não fosse isso. Se não estivesse onde estou agora, não ia estar mal, ia estar bem. Se tiver uma solução melhor, tenho de estar bem. Se não tivesse as salas esgotadas tinha de estar bem na mesma. Sou eu que vivo com a minha cara, para o bem ou para o mal, não me engano, nem aponto dedos a ninguém, sou eu, por isso está-se bem.

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