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"O risco é o monstro dos portugueses. Mas para ganhar é preciso arriscar"

O jornalista e autor do programa 'Contas Poupança' é o convidado de hoje do Vozes ao Minuto, entrevista em que garante que testou todas as dicas que dá aos portugueses todas as semanas.

"O risco é o monstro dos portugueses. Mas para ganhar é preciso arriscar"
Notícias ao Minuto

27/09/18 por Beatriz Vasconcelos

Economia Pedro Andersson

Há quase uma década, em tempo de crise, Pedro Andersson sugeriu para a antena da SIC um programa que ajudasse os portugueses a poupar, após ter percebido que todos os meses era 'roubado' nas suas faturas. Agora, apesar da recuperação económica, os dados mais recentes revelam que a taxa de poupança das famílias portuguesas é a segunda mais baixa de sempre. 

É neste cenário que surge o 'Poupe ainda mais invista ainda melhor', o segundo livro do jornalista do programa 'Contas Poupança', Pedro Andersson. O livro reúne um conjunto de dicas e alternativas que vão desde o crédito habitação até às telecomunicações. A garantia que Pedro deixa ao Vozes ao Minuto é que todas elas funcionam, porque foram testadas por ele próprio. 

Pedro, só vai mesmo voltar a comprar detergentes no final do próximo ano?

Foi o que eu disse. Portanto, da última vez que eu disse que ia fazer isso foi assim que aconteceu. Coloquei a foto da última embalagem, que comprei em julho de 2017, no blog. Só agora é que voltei a comprar, com desconto, a quatro cêntimos por dose.

   Temos de estar sempre com os olhos abertos, com o radar ligado"E como é que conseguiu isso?

O segredo está na acumulação dos descontos e dos cupões que alguns hipermercados fazem. Todos os hipermercados fazem descontos, naturalmente, e se somarmos àqueles cupões que nos enviam pelo correio, mais algum desconto promocional naquele dia ou semana é possível chegar àquele valor. Isto aplica-se a tudo, em qualquer hipermercado. Temos de estar sempre com os olhos abertos, com o radar ligado.

O Pedro formou-se em comunicação social mas teve apenas uma cadeira de economia na faculdade…

Foi… Matemática, estatística e economia. Fui mau a todas. (risos) Mau a todas.

Foi nessa altura que desenvolveu o gosto pela área económica?

Não, nada. Nunca tive gosto nenhum pela economia e ainda hoje não o tenho. Tenho gosto pela poupança e pela gestão inteligente do nosso dinheiro e do nosso orçamento. Isso é que me dá gozo, independentemente do estado do país.

   Comecei a olhar para as minhas faturas para perceber para onde estava a ir o meu dinheiro. E descobri que era possível pagar menos em todas. Quando eu percebi isso, foi uma espécie de choque."Começou a poupar desde cedo ou foi algo gradual?

Sempre fui disparatado a gastar, sempre desperdicei dinheiro e nunca liguei nada aos meus contratos da água, da luz, das compras, das férias, dos combustíveis… Nunca liguei a nada disso. Diziam-me quanto é que era para pagar e eu pagava. Depois, com a crise em 2008 percebi que não tinha dinheiro para pagar as contas todas ao final do mês e comecei a olhar para as minhas faturas para perceber para onde estava a ir o meu dinheiro. E descobri que era possível pagar menos em todas. Quando percebi isso, foi uma espécie de choque, porque percebi que andei a gastar muito dinheiro durante décadas, porque nunca tive nenhum conceito de finanças pessoais, nem dos meus país, nem na escola. E não havia nada sobre isto nos jornais e se havia eu não ligava, porque havia dinheiro, era na altura dos fundos europeus: as pessoas ganhavam bem, achávamos que íamos ser aumentados todos os anos… Havendo dinheiro e sobrando dinheiro achávamos que podíamos gastar o que nos apetecesse. Quando me deparei com esse choque [de ver as faturas], pensei ‘se eu estou a descobrir isto, também deve haver muitos portugueses que não sabem’ e foi por isso que propus partilhar isso numa rubrica semanal com as dicas que eu encontrasse.

Que aliás foi um sucesso…

Foi um sucesso porque as pessoas estavam aflitas sem dinheiro e, portanto, qualquer dica vinda de onde viesse, que ajudasse as pessoas a cortar despesas para terem dinheiro ao final do mês, seria um sucesso em qualquer sítio.

O que é que as pessoas mais lhe perguntavam nessa altura, que dicas lhe pediam mais?

Perguntavam sobre o crédito habitação, sobre os seguros de vida do crédito habitação, os do carro… Como poupar na luz, no gás, nos combustíveis, nas telecomunicações e em todas estas áreas onde as pessoas acham que são 'roubadas' pelas empresas e não sabem como se defender. Qualquer dica seria bem vinda e, neste caso, como eu descobri várias, acho que foi esse o começo do sucesso do programa.

Notícias ao Minuto'Poupe ainda mais invista melhor' é o segundo livro de Pedro Andersson © Notícias ao Minuto

Com tantas dicas de poupança, disse numa outra entrevista que as pessoas lhe perguntam se está rico. Ainda é frequente isto acontecer?

Não, não estou rico. (risos) Eu testo as dicas todas. Todas as dicas que dou no programa, no Facebook, no blogue ou nos livros são todas dicas que eu testei, eu garanto que funcionam. Acho que essa é a grande diferença e a grande marca do programa ‘Contas Poupança’. Eu explico como se faz, testei e consegui. Portanto, se eu consegui, qualquer pessoa consegue se seguir aqueles passos ou outros semelhantes, porque depende de empresa para empresa. Eu começo o livro com o caso de um senhor que vai poupar 130 mil euros com uma das dicas que eu dei. E isso é brutal, é o preço de uma casa. Na prática estamos a dar casas às pessoas ou um carro ou o equivalente a esses valores. E isto faz muita diferença na vida das pessoas.

E qual foi o pressuposto que esse senhor utilizou para conseguir essa poupança?

Qualquer pessoa que tenha um ‘spread’ no crédito habitação igual ou superior a 2%, [como] neste momento já há bancos que fazem ‘spreads’ de 1%, que é metade, quer dizer que se eu pegar neste crédito e o transferir para outro banco que me faz mais barato, estou a reduzir para metade a minha prestação da casa com as mesmas condições. Isto é uma poupança de 100 ou 200 euros por mês, ou seja, entre 1.000 e 1.200 euros por ano, é muito dinheiro… E é dinheiro que se eu não fizer nada, continua a ir para o banco.

É esta a estratégia: eu tenho uma coisa, quero mantê-la ou quero melhorá-la, por isso, vamos ver quem é que faz mais barato e, se conseguir, mudo. Vivemos numa economia de mercado e devemos aproveitar isso do ponto de vista do consumidor, porque as empresas também se aproveitam de nós (no bom sentido). Se eu pelos mesmos canais posso pagar metade, por que é que vou continuar a pagar o dobro? Isto aplica-se a tudo. Há coisas tão simples que podemos fazer e chegamos ao final do ano com mais mil euros do que se não fizéssemos nada. E isso faz toda a diferença.

O problema é que nós depois não colocamos esses mil euros de parte, acabamos por gastá-los. O segredo, que vem agora neste segundo livro, é aproveitar aquilo que nós poupamos para pôr o dinheiro a trabalhar para nós, em vez de imediatamente gastarmos a comprar produtos a empresas que ficam a ganhar com a nossa poupança. Temos de trabalhar para nós, ganhar o dinheiro para nós.

   O risco é o monstro dos portugueses. Mas para ganhar é preciso arriscar, por isso é que há tão poucos empreendedores em Portugal, porque se arriscam a perder todo o dinheiro que lá metam."Uma das coisas que diz neste livro, a dada altura, é que os portugueses não sabem poupar

É generalizar, como é óbvio, porque nem todas as pessoas são assim e ainda bem. Quando eu digo que os portugueses não sabem poupar tem a ver com a mentalidade, na qual eu me incluo, de se eu consigo poupar 100 euros e tenho a consciência que poupei 100 euros, vou aproveitar esses 100 euros, imediatamente, para me auto recompensar. Poupei 100 euros vou comprar uns sapatos novos, uma mala nova, um telemóvel novo, vou jantar fora, porque como poupei não estou a perder dinheiro e estou a compensar… Portanto, o que deu tanto trabalho a poupar, nós estamos sempre a pensar em como gastar, quando devíamos era investir esse dinheiro. Do ponto de vista das finanças pessoais, a melhor estratégia, mais inteligente, é pegar em tudo aquilo que poupamos e investir e depois há vários produtos: uns com mais, outros com menos risco.

Da experiência que tem, considera que os portugueses gostam ou não de arriscar?

Nada. Zero. O risco é o monstro dos portugueses. Mas para ganhar é preciso arriscar, por isso é que há tão poucos empreendedores em Portugal, porque se arriscam a perder todo o dinheiro que lá metam. Por outro lado, os que investem, são empreendedores, abrem uma empresa, que arriscam na bolsa, em fundos de investimento ou em coisas mais arriscadas, passam à nossa frente com bons carros, mudam de casa, vão de férias para o estrangeiro. E nós pensámos que teve sorte, mas não, arriscou e trabalhou. Se nós pensarmos: estou aqui no meu trabalho, a ganhar os meus 800 ou mil euros e não vou arriscar nada, apenas quero que me sobrem 10 euros ao final do mês. É legítimo, mas se as pessoas quiserem ir mais longe tem de dar o passo em frente e, portanto, a partir do momento que tem o mínimo de garantia, ao qual eu chamo o fundo de emergência (que me permite pagar as despesas durante seis meses, se ficar desempregado), todo o dinheiro para além disso é por a trabalhar. É daí que virá o dinheiro.

Se considerarmos esse cenário de uma pessoa que ganha 800 euros, quanto desse dinheiro é que deve ser poupado?

O mínimo é 10%. Portanto, quem ganha 800 euros, no primeiro dia em que recebe, 80 euros deveriam ser transferidos automaticamente para uma conta poupança, para um produto financeiro, para um PPR, para um fundo de investimento, para uma conta a prazo que renda alguma coisa… ou simplesmente colocar de parte. Já é um bom começo. Repare, 80 euros por mês não é um valor absurdo e são 800 euros no final do ano, tirando mais 100 euros do subsídio de férias e 100 euros do subsídio de Natal, temos mil euros todos os anos. Se nós formos juntando mil euros nos certificados do tesouro, que rendem mais do que os depósitos a prazo, já temos o dinheiro a ganhar mais do que a inflação, a longo prazo. Portanto, já não estamos a perder dinheiro e só isso já é bom. Temos é de mudar a mentalidade e colocar o dinheiro de lado, não o gastar. Olhe, por exemplo, ligou-me o meu mecânico a dizer que vou ter de reparar o meu carro e é uma despesa de mil euros.

   Este tipo de despesas imprevistas são despesas mais do que previstas, e eu gosto de salientar isto. Há despesas na nossa vida que sendo imprevistas são mais do que certas: há um dia em que o carro vai avariar. (...)"E tem alguma dica para responder a essa despesa inesperada?

A dica é que eu felizmente posso dizer que graças ao meu fundo de emergência vou gastar esse dinheiro porque preciso do meu carro, mas alguém que não tenha esse fundo de emergência onde vai arranjar mil euros de hoje para amanhã? Fica o carro empatado na garagem… Depois é preciso pedir emprestado, usar o cartão de crédito, pedir um empréstimo ao banco e pagar juros. Portanto esses mil euros são mil mais 10% vezes os meses que vou estar a pagar e a despesa fica-me a 1.500 euros em vez de mil.

Este tipo de despesas imprevistas são despesas mais do que previstas, e eu gosto de salientar isto. Há despesas na nossa vida que sendo imprevistas são mais do que certas: há um dia em que o carro vai avariar, há um dia em que vou bater com o carro, há um dia em que alguém cai lá em casa, fica doente e vou precisar de ir ao privado porque é urgente… E vou ter de marcar uma consulta que custa 100 euros e terei de la marcar e pagar mais 100. Estas despesas estão mais do que previstas, não sei é em que dia é que vão acontecer, mas quando acontecerem eu sei que tenho no banco. Não vou ter de cortar nas contas do supermercado, nem ficar a dever ao senhorio. É este tipo de tranquilidade que é real que eu quero que todos os portugueses sintam. E quero que as minhas dicas sejam utilizadas para atingir essa tranquilidade.

Depois, ficar ou não rico, isso já é outro campeonato completamente diferente. Se as pessoas conseguirem sentir-se tranquilas todos os meses, porque sabem que têm dinheiro para qualquer imprevisto, eu já fico super satisfeito.

Notícias ao MinutoO segundo livro de Pedro Andersson dá também conselhos de investimento © Notícias ao Minuto

Pedro, este livro fala sobre habitação, energia, automóveis. Em qual destes capítulos é que as pessoas podem poupar mais?

No crédito habitação, porque é aquele que envolve a maior despesa e durante mais tempo. Depois há outros, a questão dos seguros de vida, cuja despesa pode ser reduzida para metade, a questão da condução… Se conseguirmos adquirir hábitos de poupança quer nos combustíveis, no seguro do carro, entre outros, podemos poupar vários milhares de euros.

Talvez isso seja mais importante do que a variação semanal dos combustíveis?

Sim, mas a variação semanal ao longo dos anos também é dinheiro que fica no nosso bolso. E a estratégia é essa: é eu acordar de manhã – e eu não estou sempre a pensar em dinheiro – e pensar de cada vez que emprega dinheiro se está a ser ou não bem empregue. O que eu estou a comprar, poderia ter exatamente a mesma coisa e pagar menos? Se a resposta for não, é comprar e ficar satisfeito. Se estou na dúvida, é melhor esperar um dia ou dois e vou ver onde conseguir mais barato.

    Se precisa de comprar uma coisa, não deve comprar por impulso. Não é por estar em desconto que precisa daquilo."

A certa altura no livro fala nos descontos…

Sim, as pessoas são tão enganadas.

Pois, o português olha muito para os descontos. O Pedro apresenta no livro seis conselhos para se utilizar bem os descontos. Porquê? Há descontos maus?

Claro. Há descontos péssimos. Há descontos que são completamente estúpidos. E nós vamos atrás só porque diz ‘desconto’. Portanto, se as empresas aumentam 30% na véspera e depois no dia a seguir fazem um desconto de 20%, eu estou a pagar mais 10% - e estou a exagerar de propósito, muitas vezes não acontece isso, mas na semana anterior aumentam 10% e depois na semana das promoções fazem 20% de desconto, quando na prática é só 10%. E as pessoas vão lá na mesma.

Um dos exemplos que dou no livro é sobre a Black Friday que é em muitos casos uma publicidade enganosa completa. Por exemplo, no caso da roupa, no ano passado fui a um centro comercial gigante aqui em Lisboa e vi as lojas cheias de pessoas a comprar roupa porque dizia 20% de desconto. E eu só pensava: não tarda estão aí os saldos e muitas destas peças vão estar com 50% de desconto. Qual é a pressa? Nestas alturas, e nas alturas festivas, todos vão atrás das promoções.

Se precisa de comprar uma coisa, não deve comprar por impulso. Não é por estar em desconto que precisa daquilo. Depois as pessoas queixam-se que o dinheiro não chega até ao final do mês. O principal responsável por o dinheiro não chegar ao final do mês sou sempre 'eu'. Eu é que assinei os contratos, ninguém me rouba o dinheiro, eu é que comprei, eu é que paguei com multibanco e marquei o código. Se eu tenho um contrato que assinei e que pago 70 euros por mês para ter Internet em casa, vou queixar-me do quê? Se calhar posso é pagar só 40 ou 50 euros, abdicando de alguns serviços de que não preciso ou renegociando com outra empresa. O melhor gestor de conta que nós podemos ter somos nós próprios.

Nós é que controlamos o que é nosso…

Numa entrevista que dei há pouco tempo perguntaram-me como é que se escolhe um bom gestor de conta. A melhor decisão é não escolher um gestor de conta, porque o melhor gestor de conta somos nós. Ninguém dá mais valor ao meu dinheiro do que eu. Um gestor de conta num banco está lá para cumprir os objetivos do banco, é o banco que lhe paga não sou eu. Ele está lá para ganhar dinheiro comigo para o banco e, por isso, eu devo desconfiar de tudo o que ele me vai apresentar.

Por exemplo, as pessoas vão ao banco e pedem um PPR e [os funcionários] dizem logo ‘claro, assine aqui’. E esse PPR é bom para quem? Para o banco, obviamente, porque é aquele PPR em que o banco vai ganhar mais com o meu dinheiro. Antes de ir ao banco, eu tenho é de ir Internet – ou ver na lista que eu tenho aí disponível no livro – ver quais são os melhores PPRs em Portugal, independentemente do sítio onde são vendidos, descobrir qual é o que me interessa mais, ir à procura de quem o vende e chegar lá e dizer ‘eu quero este PPR’.

Deve ser o cliente a escolher, ao invés de deixar que façam essa escolha por ele, é isso?

Claro, tenho de saber o que quero. Ou então vou a um banco e pergunto ‘qual é o melhor PPR que tem? Quanto é que está a render? Quais são as comissões?’ e pronto, vai a outro, vai a outro e vai a outro. E, depois, escolhe o melhor. Nós deixamos sempre que os outros escolham por nós e isso é a decisão mais tonta que podemos fazer a nível das finanças pessoais.

Qual deve ser, então, a idade para se iniciar um PPR?

O mais cedo possível. A partir do momento em que se tem um rendimento estável, começar com 25 euros por mês. A partir do momento em que se consegue colocar 25 euros por mês de parte, sem fazer diferença, deve-se avançar logo. É que 25 euros por mês não fazem diferença à maior parte das pessoas e significa que quando chegar idade da reforma vão lá estar entre 70 mil a 80 mil euros, se escolher um bom PPR. Se escolher um mau PPR vão lá estar entre 20 mil a 30 mil. Repare, com o mesmo esforço. É a diferença entre investir bem e investir mal. Por isso é que o título do livro é 'Investir melhor', porque há pessoas que investem, mas investem mal, porque são mal aconselhadas.

Fazer um PPR é inteligente e eu explico ponto por ponto, os diversos sites, quais são os melhores, quem é que os vende, quando lá for que perguntas deve saber, fazer as contas para saber se as comissões não vão ‘comer’ ou absorver o lucro que aquilo eventualmente pode dar. Há pessoas que estão a perder dinheiro com um PPR, quando deveria ser absolutamente o contrário. Não faz sentido nenhum, é abrir a janela e atirar dinheiro para a rua.

Para além dos livros, o Pedro tem também o blogue e também um canal de YouTube.

Muito recente, muito recente. É só para brincar, nesta altura.

Pois, mas estar nessas plataformas faz parte da ideia de querer chegar ao ‘bolso’ dos mais jovens?

Sim, o objetivo é chegar ao maior número possível de pessoas. Eu não sei se as pessoas vão acreditar nisto ou não, mas quero mesmo ajudar as pessoas, porque vejo as pessoas enganadas a elas próprias e por outros, pessoas sem informação, pessoas que vão para onde lhes dizem para ir. Quero que as pessoas pensem pelas suas próprias cabeças e quero dar-lhes ferramentas para que decidam por elas próprias. E faz falta alguém que faça isto. Eu não encontro ninguém que faça isto e, portanto, descobri aqui um caminho (uma espécie de missão) de ajudar os portugueses a gerirem as suas finanças pessoais. Nós podemos ser inteligentes a gerir o nosso dinheiro.

O que o Pedro faz, no fundo, é ajudar a traçar o caminho sem revelar a escolha, porque essa é sempre da própria pessoa.

Sim. As pessoas estão sempre a perguntar-me em que banco é que eu abro conta? É assim, eu tenho a resposta. Tenho a resposta para mim, abro a conta aqui, aqui e aqui… Mas não digo às pessoas. Ou melhor, até digo onde tenho conta aberta, mas digo ‘também tenho neste, neste e neste. Vá ao site deles, veja o preçário e decida’. As pessoas têm é de conhecer as alternativas, porque muitos portugueses abriram uma conta no banco em jovens (ou os país abriram para eles) e nunca saíram desse banco. E os gestores de conta são as pessoas que conhecem há décadas e acreditam piamente naquilo que aquela pessoa está a dizer. Tudo bem, se confia, confia, mas há alternativas. Agora as comissões das contas à ordem estão a subir em praticamente todos os bancos e é um autêntico roubo para as pessoas. Por isso, as pessoas têm de gerir isso melhor. Há vários bancos que têm contas zero, onde não se pagam comissões.

   Sempre que dou dicas deste tipo recebo cacetadas e críticas, porque estou a estragar a economia do país, a prejudicar um setor de negócio, a prejudicar as pessoas, o comércio local (...)"Em jeito de balanço de quase oito anos do 'Contas Poupança', qual é a avaliação que faz? No primeiro dia, quando propôs este programa, previa que fosse um sucesso de audiências?

Não, nada. Eu esperava que isto durasse seis meses.

Muitas das dicas são, inclusive, enviadas pelos telespectadores. Qual é o feedback que recebe por parte do seu público?

Há dois lados. Ou seja, por cada dica que eu dou beneficio alguém e prejudico alguém. Por exemplo, quando dou uma dica sobre quem tem animais de estimação pode comprar ração mais barata mandando-a vir de Espanha, estou a dar uma dica útil a todos os que têm animais, mas estou a prejudicar os que têm lojas de animais em Portugal. Sempre que dou dicas deste tipo recebo cacetadas e críticas, porque estou a estragar a economia do país, a prejudicar um setor de negócio, a prejudicar as pessoas, o comércio local, etc.

Outra situação, fiz uma reportagem a explicar às pessoas como é que podem fazer para vender a sua casa sem recorrer a uma imobiliária. Tive todos os agentes imobiliários do país contra mim, com críticas e mais críticas, houve noites em que eu não dormi por causa disso, porque eram milhares e milhares de pessoas a criticar-me no Facebook, a chamarem-me nomes, a dizerem que eu estava a retirar o pão da boca deles, etc. E, no fundo, eu estou a dar alternativas às pessoas e isto é uma grande responsabilidade para mim enquanto jornalista, porque tenho de pesar muito bem aquilo que eu digo. Acho que tenho como missão fundamental dar alternativas às pessoas e depois elas escolhem o que entenderem.

Mas o feedback tem sido altamente positivo, enche a alma. É o meu ganha pão, sou jornalista e sou pago para fazer reportagens, estas ou outras, mas tenho o bónus de ser pago para fazer uma coisa que gosto, que me dá prazer, que eu vivo intensamente mesmo fora do horário de trabalho e estou sempre a trabalhar sem dar por isso, sempre à procura de coisas. E depois recebo mensagens de pessoas a agradecer porque pouparam 100, 200 ou 15 mil euros.

Qual é o exemplo mais recente de que se recorda?

Por exemplo, houve um senhor que me enviou uma mensagem a dizer que por causa de uma dica que eu dei o banco pagou-lhe a casa. Foi brutal. O banco transferiu-lhe 92 mil euros para a conta e ficou com a casa paga. Ele reformou-se por invalidez – há muita gente que tem a casa paga e não sabe. A partir do momento em que se reforma por incapacidade, se for superior a 66% e se tiver aquele seguro correto, é só ligar para o seguro e dizer ‘aconteceu isto e, portanto, a casa está paga, quero acionar o seguro’. Se não o fizer, continua a pagar a casa até aos 80 anos.

Há falta de informação…

É só isso. Há falta de informação. A seguradora não adivinha que a pessoa se reformou, ou mesmo que tenha conhecimento não sabe se foi por invalidez ou incapacidade. Portanto, o consumidor tem de saber os contratos que assinou, que seguros assinou, em que condições, quais são as coberturas, se tem um seguro mau, se tem um seguro bom e fazer valer os seus direitos. Com isto, sinto que estou a fazer um bom trabalho e a melhorar a vida das pessoas, seja muito seja pouco. Mas a fazer uma pequenina diferença na vida das pessoas e eu acho que isto é a melhor recompensa que se pode ter, seja qual for a profissão.

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