Em declarações à agência Lusa, a autora de um estudo desenvolvido pela Universidade College London, no Reino Unido, e pela Universidade de Reggio Calabria, em Itália, salienta que "muitos assistentes de IA dos motores de busca têm acesso sem precedentes à atividade 'online' dos utilizadores, incluindo áreas privadas como portais de saúde, bancos e e-mail".
"Frequentemente, recolhem e partilham informações confidenciais com os seus próprios servidores ou mesmo com terceiros, por vezes sem conhecimento ou consentimento do utilizador", acrescenta a académica.
Neste sentido, a recolha de diversas informações como nomes, endereços de e-mail, registos de saúde, localização, rendimento ou históricos de navegação criam "riscos significativos à privacidade. Uma vez colecionados, estes dados podem ser usados para publicidade direcionada, criação de perfis ou violações de dados".
O estudo em causa revela que vários assistentes transmitiram conteúdo completo de páginas da internet, incluindo informação visível no ecrã, para os seus servidores.
Um dos assistentes de IA, Merlin, capturou entradas de formulários, como dados bancários ou de saúde, enquanto ChatGPT, Copilot, Monica e Sider tiveram a capacidade de inferir atributos do utilizador, como idade, sexo, rendimentos e interesses, e usaram esta informação para personalizar as respostas mesmo em diferentes sessões de navegação.
Assim, Anna Mandalari refere que para evitar este tipo de "roubo" é necessário a implementação de uma abordagem de "privacidade deste a conceção, em que os assistentes de IA processam os dados localmente no dispositivo sempre que possível, solicitam o consentimento explícito e informado do utilizador para qualquer recolha de dados e limitam a retenção de informações pessoais".
"Embora as regulamentações sejam essenciais, não são suficientes por si só", realça a investigadora, acrescentando que "o progresso real virá da cooperação entre empresas de IA, provedores de serviços de internet e reguladores, combinada com uma maior consciencialização dos utilizadores".
Uma das formas de conseguir aumentar esta consciencialização passa, por exemplo, por indicadores em tempo real que mostram que dados estão a ser recolhidos e explicações claras sobre como são utilizados, levando os utilizadores a fazer escolhas mais informadas.
"Quando a privacidade for reconhecida e promovida como um valor agregado, em vez de uma reflexão tardia, o mercado recompensará as empresas que protegem os seus utilizadores e mudarão comportamentos", explica a universitária.
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