A imigração - central na campanha do Chega - ultrapassou "largamente a visibilidade da corrupção, que havia sido central nas campanhas anteriores", lê-se nas conclusões do relatório final do MediaLab, centro de estudos de ciências de comunicação do ISCTE, sobre o impacto da desinformação na campanha das legislativas de 18 de maio, feito em parceria com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a que se associou a agência Lusa.
Os investigadores do ISCTE fizeram as contas e concluíram que o número total de publicações sobre imigração "cresceu exponencialmente", mas, assinalou, "o mais relevante foi o volume de visualizações: quase 21 milhões, cerca de cinco vezes mais do que o registado para a corrupção".
As "principais narrativas desinformativas" da campanha eleitoral das redes "foram promovidas por atores da direita radical" e o MediaLab identifica "três grandes meta-narrativas".
Em primeiro lugar, a "ideia de que "Portugal está a ser invadido", incluindo alegações falsas sobre dois milhões de imigrantes, em segundo a "islamização de Portugal" através "da instrumentalização da sátira do falso "'Partido Islâmico'" e a "narrativa de que "50 anos do regime democrático foram 50 anos de corrupção".
"Estas meta-narrativas foram ampliadas com conteúdo desinformativo, explorando medo, raiva e desconfiança, partilhado por figuras políticas e páginas com elevado alcance", lê-se no relatório do grupo coordenado pelo sociólogo Gustavo Cardoso.
Para identificar as meta-narrativas desinformativas, os investigadores fizeram uma análise contínua em publicações dos principais candidatos às eleições, figuras chave dos partidos com assento parlamentar, publicações das páginas oficiais dos partidos, conteúdos analisados pelos 'fact checkers' portugueses e as denúncias de cidadãos à CNE.
O apagão elétrico de 28 de abril, que deixou sem luz a Península Ibérica durante 16 horas, teve "grande impacto nas redes sociais", foi "afetado por fenómenos de desinformação" em Portugal, "mas sem influência direta na pré-campanha eleitoral", concluem ainda os investigadores.
Para este projeto do MediaLab, CNE e Lusa, de que foi agora publicado o relatório final, os dados foram recolhidos pelos investigadores nas redes sociais Facebook, Instagram, X, Tiktok e Youtube, com recurso a ferramentas 'on-line'.
O sociólogo Gustavo Cardoso foi o coordenador do projeto para aferir a desinformação e os conteúdos a circular nas redes sociais e meio 'on-line' no período pré-eleitoral. Da equipa MediaLab também fazem parte José Moreno, Inês Narciso, Paulo Couraceiro e João Santos.
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