O financiamento "dedicado para combater a desinformação, dedicado a desenvolver algoritmos, dedicado a desenvolver auditoria de inteligência artificial [IA] é praticamente nulo em Portugal", lamentou a investigadora do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP).
Joana Gonçalves de Sá participou hoje na conferência "Os cidadãos podem derrotar a desinformação", organizada pelo Conselho Económico e Social (CES) e o Comité Económico e Social Europeu (CESE), que decorreu no Teatro Thalia, em Lisboa.
E "acho que genericamente a Comissão Europeia deveria dar muito mais dinheiro à investigação", prosseguiu, salientando que até tem "havido alguns passos nesse sentido, e de reconhecimento da importância da investigação".
Contudo, "o dinheiro que é posto na ciência, quer pela Comissão, quer em geral, é muito visto como um gasto e não como um investimento" e "não há visão a longo prazo", apontou.
No caso da desinformação, nomeadamente da inteligência artificial, "há uma desproporção completa de meios", referiu a investigadora.
Por exemplo, o PRR - Plano de Recuperação e Resiliência em Portugal para o digital "para tudo, incluindo computadores na escola, Internet, inteligência artificial, é uma gotinha de água comparado com o que só a Microsoft põe só na OpenAI", dona do ChatGPT.
Trata-se de uma "desproporção tão grande de meios que acabamos por estar sempre a correr atrás do prejuízo", considerou, apontando que "não há a criação de uma infraestrutura de investigação, de combate à desinformação que seja sistemática".
Aliás, esta situação é refletida "na forma como o dinheiro muitas vezes é distribuído".
Por vez, ilustrou, "o bolo até não é mau, mas a maneira como é distribuído é dar pouquinho dinheiro a muitos e então o que esses grupos conseguem fazer" é uma ambição muito pequena, conseguem resolver um pequeno problema, ou seja, pôr "um dedinho na barragem".
Mas para aguentar a barragem é preciso "mudar a infraestrutura de forma séria e aí é preciso que haja muito mais investimento", defendeu.
O que em Portugal "praticamente não há, há o do EMIF [European Media and Information Fund], que é gerido pela Gulbenkian" e que está no final, pelo que "não sabemos exatamente o que vai acontecer", rematou.
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